Se queres destacar-te no trabalho, fica sabendo que as regras para isso são cada vez mais complexas, o que pode ser assustador se estiveres a começar.
É cada vez mais comum que os trabalhadores tenham de estabelecer relações com os seus supervisores e colegas pelo Zoom e Slack. Debatem-se se devem utilizar a inteligência artificial para determinadas tarefas. E poderão até ter de lutar contra a vontade de enviar uma mensagem a alguém em vez de irem ter com ela pessoalmente.
A pandemia alterou a forma como muitas pessoas trabalham. Algumas passaram a trabalhar em ambientes híbridos e remotos, a terem acesso a inteligência artificial e a dependerem de reuniões à distância e aplicações de mensagens. A Geração Z, isto é, os nascidos entre 1997 e 2012, vai perfazer 32% dos trabalhadores dos EUA até 2032, de acordo com o Gabinete de Estatísticas do Trabalho norte-americano, com o último grupo de licenciados desta geração a entrar no mercado de trabalho nesse ano.
Com a pandemia, muitos perderam oportunidades presenciais, incluindo estágios. E, ao entrarem no mercado de trabalho, há coisas que podes fazer para melhorar as tuas hipóteses de sucesso. Eis algumas dicas de especialistas.
Não tenhas medo de fazer perguntas
Logo nos primeiros dias, pergunta onde podes encontrar informação sobre o teu cargo, que ferramentas de comunicação é que a empresa utiliza, como marcar uma reunião com chefes e colegas e onde ir se tiveres um problema. Se calhar até tens um site ou recurso online que te possa ajudar.
“Até podes sentir-te desconfortável, mas ninguém vai saber que tens uma pergunta se não a fizeres”, disse Paaras Parker, director de recursos humanos da Paycor, empresa que fornece software de recursos humanos e de processamento de salários.
Traci Wilk, directora de recursos humanos da empresa de educação infantil The Learning Experience, que tem mais de 25 anos de experiência em gestão de recursos humanos de empresas como a Starbucks e a Coach, afirmou que a Geração Z se debate frequentemente com o medo de parecer que não sabe algo que deveria saber.
Apesar disso, não hesites em fazer perguntas independentemente do medo, pede e fica disponível para receber feedback, aconselha Wilk. Também não há problema em fazer perguntas contextuais, para que entendas melhor o que é esperado de ti numa determinada tarefa.
Matt Abrahams, que ensina comunicação estratégica na Stanford Graduate School of Business, acredita que deves perguntar o que faz com que as pessoas tenham sucesso na sua empresa.
"Há uma razão para fazer perguntas que parecem simples. Explora isso", defende.
Usa a inteligência artificial com moderação
No que diz respeito à inteligência artificial (IA), começa por perceber se o teu empregador tem regras sobre a sua utilização. Algumas empresas permitem que se use, com regras como não fornecer informações sobre os clientes. Outros proíbem-na completamente.
Olha para a IA como uma ferramenta para te ajudar no teu trabalho e não como uma ferramenta para fazer o teu trabalho, defendem os especialistas. Janine Pelosi, directora executiva da empresa de tecnologia de vídeo Neat e ex-executiva da Zoom, disse que a IA pode ajudar com ideias quando não tens nenhumas. Mas nunca copies e coles os resultados, mesmo que seja num email.
“Consigo perceber logo quando alguém escreve uma mensagem ou quando é escrita pelo ChatGPT”, afirma Wilk. “E eu não quero ler isso.”
Usa o teu instinto para saber até que ponto podes confiar nos resultados, sugere Paaras. Tem também em conta as ramificações da sua utilização numa tarefa específica, afirma Abrahams. O facto de te sentires confortável a utilizar a IA não quer dizer que os outros também se sintam, por isso, fica preparado para fazer as coisas de forma diferente, completa.
Diz o que pensas
És um jovem a entrar no mercado de trabalho, com novas ideias, novo olhar e perspectivas – isso tem um valor único, de acordo com os especialistas. Diz o que pensas. Talvez saibas algo que os outros não sabem.
Pode ser uma ferramenta ou atalho que conheces nas aplicações, ideias ou histórias sobre como resolveste problemas no passado, exemplifica Paaras.
Também podes ter uma experiência valiosa em determinado tópico ou uma visão da forma como as pessoas da tua idade olham para as coisas. Ou podes ser capaz de detectar uma ineficiência ou erro na forma como as coisas são feitas normalmente.
"Estás a ver coisas pela primeira vez e podes realçar isso", sublinha Abrahams. "Concentra-te no valor que trazes para a empresa.”
Conhece as pessoas
Guarda algum tempo para conversar, seja por vídeo ou pessoalmente, com os teus colegas e superiores. Construir boas relações pode ajudar a criar confiança e aumentar a vontade de trabalhar contigo. Também pode servir como um factor de diferenciação na progressão na carreira.
"A tua presença tem de ser sentida pelos outros", afirma Wilk.
Tenta criar oportunidades para reuniões e conversas casuais. Prepara-te com comentários, perguntas e objectivos para cada conversa, sugere Wilk. Em caso de dúvida, lembra-te que as pessoas adoram falar sobre si próprias, acrescentou. Faz perguntas sobre a carreira ou experiência no trabalho.
Tenta perceber em que projectos está a trabalhar, o que é importante para essa pessoa ou vê o perfil no LinkedIn antes, diz Abraham. Tenta arranjar pontes entre as vossas experiências e interesses. Se souberes que um colega vai fazer uma viagem, por exemplo, pergunta-lhe como correu.
"É preciso investir nas pessoas, quer seja no Zoom ou no escritório", acredita Paaras.
Mas presta atenção ao contexto, acrescenta Abrahams, pois a Geração Z tem o hábito de responder instantaneamente sem reflectir. Pensa antes de responder.
Torna-te indispensável
Independentemente do local onde trabalhas, torna-te indispensável e inesquecível, aconselha Wilk.
Liga a câmara em reuniões virtuais para estabelecer uma melhor ligação, disse Pelosi. E não fiques só a ver; fala, especialmente se estiveres a trabalhar à distância, acrescentou.
"Faz coisas que te ajudem a destacar-te", disse ela.
Se não souberes o que dizer numa reunião, faz uma pergunta ou repete o que entendeste do que foi dito, disse Abrahams. Toma notas e retoma o assunto mais tarde.
Aceita as tarefas e as viagens extras, voluntaria-te para pertencer a equipas e clubes, disse Pelosi. Os teus colegas querem saber que tens confiança e és motivado. É especialmente relevante se os grupos ou projectos forem multifuncionais, para teres mais visibilidade. Procura pelas lacunas a preencher – isto vai ajudar-te a ganhar capital social na empresa.
Isso também te vai ajudar a aprender a gerir o teu tempo para poderes desempenhar melhor as tuas tarefas. Reserva algum tempo para as partes criativas do teu trabalho.
Experimenta enviar emails depois das videochamada, resumindo os tópicos em discussão e mostrando-te entusiasmado por se reunirem novamente no futuro, sugere Wilk. No que diz respeito aos chefes, tenta falar com eles todos os dias, mesmo que seja uma conversa casual, para lhes dar as boas-vindas no regresso das férias ou actualizá-los sobre o que tens estado a fazer. Sê proactivo. Oferece-te para ajudar em grandes projectos, em vez de esperares que te peçam.
"É fácil que se esqueçam de ti se trabalhares remotamente", afirma. "Arranja maneiras de te destacares."
Aparece a horas, veste-te adequadamente e, quando as reuniões forem virtuais, arranja um fundo limpo, com uma boa iluminação e boa qualidade do som, refere Abrahams. Começa as apresentações por referir aquilo que te apaixona antes do teu nome para que as pessoas se lembrem de ti, afirmou.
Vai ao TikTok
Para problemas comuns, há sempre uma resposta rápida e acessível.
Os amigos, a família e os amigos dos amigos têm experiências de vida que te podem ajudar. Se não te sentires à vontade para perguntar no trabalho, pergunta às pessoas do teu círculo, aconselha Wilk. Uma simples mensagem nas redes sociais, num grupo ou uma chamada por FaceTime podem ajudar.
Se tudo o resto falhar, faz o que sabes fazer melhor. Recorre à Internet. Pesquisa artigos no Google ou recorre ao TikTok, onde os criadores te podem dar dicas sobre coisas como pedir um aumento ou ter uma conversa difícil, disse Wilk. Para perguntas genéricas, a IA pode até oferecer algumas boas sugestões, disse Paaras, que lembra para usares o bom senso quando analisares os seus conselhos.
Exclusivo PÚBLICO/ The Washington Post