Em duas semanas, PSP “desconstruiu” seis notícias: desinformação tem aumentado

A PSP lança campanha a alertar para notícias falsas ou descontextualizadas que circulam nas redes. Casos têm aumentado, maioria envolve criminalidade violenta e agressões.

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A maior parte das notícias falsas tem a ver com criminalidade violenta e grave e com agressões Gonçalo Dias (arquivo)
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Na semana passada, uma publicação no X (o antigo Twitter) dizia que nuns prédios devolutos em Braço de Prata (Lisboa) uma operação policial tinha identificado “uns 30 argelinos” que “estavam cheios de bombas artesanais”. E acrescentava: “A comunicação social vai ficar calada, ainda por cima quando o Chega quer fazer um referendo da imigração.”

A PSP nunca fez qualquer operação com estes contornos. Tratou-se de informação falsa, segundo diz ao PÚBLICO a comissária Patrícia Firmino do gabinete de imprensa da PSP. O post foi partilhado por uma conta, Racismo contra Europeus, mas não assumia a autoria da suposta notícia, citava alguém como tendo enviado a informação, usando até um título a simular que a fonte seria um órgão de comunicação social —​ “última hora/raid anti-terrorista em Lisboa”.

Também na mesma semana circulou nas redes sociais uma publicação de um pai que teria sido agredido por três cidadãos do Sudoeste asiático quando tentava impedir que a filha fosse sequestrada por eles num parque infantil de Loures. Mais uma vez, a notícia não foi confirmada e a PSP refere mesmo que os elementos recolhidos indicam que a publicação era falsa: “Gerou pânico e uma situação de insegurança completamente desnecessária”, afirma a mesma fonte ao PÚBLICO.

Apesar de não conseguir dar números exactos, a PSP “tem a clara percepção de que a difusão da desinformação tem aumentado”. Só nas duas últimas semanas aquele gabinete fez a “desconstrução de seis notícias”, refere a comissária. “Algumas delas não eram falsas, mas estavam completamente descontextualizadas.” Embora afirme que estes dados espelham um aumento, a comissária não consegue precisar a proporção a que corresponde comparativamente a períodos anteriores: “Se for preciso, decorre um mês inteiro em que não verificamos um problema destes e no mês seguinte temos três ou quatro situações.”

O facto é que a PSP tem sido mais vezes contactada pelos órgãos de comunicação social sobre difusão de desinformação ou por utilizadores das redes sociais com pedidos de esclarecimento sobre notícias falsas.

Por isso, decidiu fazer uma campanha a alertar para o fenómeno, lançada na manhã desta quarta-feira, onde dá alguns conselhos para os cidadãos verificarem a autenticidade das informações — como avaliar a fonte — “caso o emissor inicial não seja identificável, suspeite da veracidade da informação” —, ou verificar o autor e a data de publicação (“circulam na Internet muitos artigos antigos que perdem a relevância e a actualidade”).

O comunicado da PSP sublinha que a “(des)informação, geralmente de origem desconhecida, reporta factos que não ocorreram ou altera a versão original dos mesmos, tornando-os exacerbados, e potenciam o alarme social, gerando um sentimento de insegurança na população”.

A maior parte das notícias falsas tem que ver com criminalidade violenta e grave e com agressões —​ não necessariamente notícias que envolvam imigrantes, refere a mesma fonte. Questionada, a referida fonte da PSP diz ainda que a maioria dessas notícias não está associada a discurso de ódio. A PSP também ainda não conseguiu identificar nenhum dos autores, refere. Das notícias alegadamente falsas relativamente à PSP, esta entidade também não apresentou qualquer queixa "por entender não existir teor criminal para o efeito".​ E não tem conhecimento de que existam grupos específicos —​ com membros ligados à extrema-direita, por exemplo — ​como fontes que disseminam informações falsas.

De resto, sobre esta questão afirma. "Não vamos tecer comentários sobre grupos específicos. Sempre que temos conhecimento da difusão de notícias ou informações falsas, designadamente toda e qualquer notícia que possa causar pânico ou alarme social, a PSP actua repondo a verdade dos factos."

Em 2019, o Parlamento Europeu publicava orientações sobre como identificar as notícias falsas, em que referia que “mesmo os jovens e as pessoas esclarecidas no domínio digital têm dificuldade em identificar notícias manipuladas”. Mostrava dados: “É significativo que seis em cada dez notícias partilhadas nas redes sociais não tenham sequer sido lidas pelo utilizador que as partilhou. Cerca de 85% dos europeus consideram que as ‘notícias falsas’ constituem um problema no seu próprio país e 83% são de opinião que este fenómeno representa um problema para a democracia em geral.”

O português Centro Internet Segura recomenda que se preste “especial atenção à data de publicação, autoria e fontes dos conteúdos publicados” e que se questione “as potenciais motivações da partilha de uma informação”, sugerindo que os utilizadores “recorram a ferramentas de fact checking”. Esta entidade aconselha: “Pesquise a mesma notícia na Internet. Compare com outras fontes. Sendo verdadeira, haverá certamente outras fontes fidedignas que estejam também a noticiar a mesma informação. Caso seja uma notícia falsa, é provável que encontre informação sobre a sua falta de veracidade.”

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