Cursos de Medicina perdem atractividade para as tecnologias de ponta
Curso ministrado no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar caiu de segundo para oitavo lugar na lista das licenciaturas com nota mais elevada. Reitor considera situação preocupante.
Os cursos de Medicina estão a perder atractividade para os de tecnologias de ponta, mostram os resultados da primeira fase de acesso ao ensino superior.
Se no ano passado havia um curso de Medicina com a segunda média de entrada mais elevada do país – o do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, com 18,68 valores, só suplantado por Engenharia Aeroespacial da Universidade do Minho –, em 2024 o mesmo curso cai para a oitava posição, embora com uma nota mínima de entrada parecida com a de 2023: 18,55 valores.
À frente de Medicina ficaram agora vários cursos ligados às tecnologias de ponta, embora todos com menos vagas do que Medicina. Desde logo o novo curso de Engenharia Aeroespacial da Universidade do Porto, que, naquele que será o seu primeiro ano de funcionamento, esgotou nesta primeira fase de colocações as suas 30 vagas, exigindo uma média de 19,45 valores. Imediatamente a seguir na tabela surge o mesmo curso no Minho (com 31 vagas), seguido de Matemática Aplicada à Economia e à Gestão, de Inteligência Artificial e Ciência de Dados, Engenharia Aeroespacial no Instituto Superior Técnico, Engenharia e Gestão Industrial e Arquitectura da Universidade do Porto. As licenciaturas de Medicina do Porto (ICBAS e Faculdade de Medicina) e do Minho ocupam os três últimos lugares da tabela dos dez cursos com média de entrada mais elevada.
A perda de atractividade de Medicina (a avaliar pela baixa da última nota de entrada) é considerada preocupante pelo reitor da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira, que já esteve à frente do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, ICBAS. A penosidade da profissão pode ajudar a explicar o que se está a passar, mas o académico aponta ainda outros factores que fazem com que, no final da sua formação, nem todos os alunos ingressem no Serviço Nacional de Saúde. “França faz periodicamente feiras de Medicina nas universidades portuguesas”, observa procurando atrair os recém-formados para a emigração.
Bolsa de cientista ajudou a lançar curso
O facto de o número de alunos agora colocados nos diferentes cursos de Medicina ser o mais elevado de sempre – entraram nestas licenciaturas 1661 novos estudantes, mais 66 do que em 2023 – não descansa o reitor. Parte deste resultado explica-se com o facto de a Universidade de Aveiro ter aberto este ano um novo curso, com 40 vagas.
Os candidatos a Medicina que já contam com uma licenciatura anterior noutra área têm vindo a diminuir nos últimos anos, realça Sousa Pereira, que entende que esse é mais um indicador do desinteresse por este curso.
“É enganador dizer que o problema da falta de médicos se resolve com a abertura de mais vagas nas universidades, quando depois nem todos os alunos conseguem fazer a especialidade, por haver hospitais universitários que perderam a idoneidade para isso”, precisamente por carência de clínicos, critica o reitor da Universidade do Porto.
No que diz respeito ao curso de Engenharia Aeroespacial, explica que abre este ano na Universidade do Porto graças a uma bolsa de 3,5 milhões de euros atribuída pelo Conselho Europeu de Investigação a Pedro Camanho um cientista da Universidade do Porto, que permitiu arranjar equipamentos de ponta. A instituição de ensino superior orgulha-se de manter há vários anos projectos de investigação conjuntos com empresas do ramo aeroespacial.
Porém, a Universidade do Porto também tem cursos pouco procurados, como é o caso de Engenharia Geoespacial, um ramo ligado à georreferenciação. Das 23 vagas abertas este ano só foram, por enquanto, ocupadas três. O reitor acredita que fiquem preenchidas na totalidade nas fases seguintes de colocação.