Entre 5000 e 9300 hectares: afinal quanto ardeu no fogo da Madeira?

Especialistas alertam que estimativa que tem sido apresentada peca por excesso. Medições díspares explicam-se por diferentes resoluções das imagens usadas para fazer a contabilidade.

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Imagem captada pelo satélite Copernicus EUROPEAN UNION/COPERNICUS SENTIN / EUROPEAN UNION, COPERNICUS SENTINEL-3 IMAGERY
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Esta sexta-feira ao fim da tarde, o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS, na sigla inglesa) estimava uma área ardida de 9304 hectares queimados no fogo que deflagrou no dia 14, na serra de Água, na Madeira. Vários especialistas alertaram, contudo, o PÚBLICO para o facto de esse número pecar por excesso, devendo ser, na realidade, muito inferior.

Isso mesmo mostram análises feitas pelo Sistema de Cartografia de Emergência do Copernicus, o Programa de Observação da Terra da União Europeia, que analisa o nosso planeta essencialmente através de uma rede de satélite, que também é usada pelo EFFIS. A diferença está na resolução das imagens usadas para fazer a análise, que permitem ver com mais detalhe as áreas que foram de facto queimadas. O último mapa do incêndio divulgado esta sexta-feira ao fim da tarde pelo Sistema de Cartografia de Emergência (e que recorre a imagens de muito alta resolução das 12h38 desta sexta-feira) contabiliza uma área ardida de 5046 hectares. Ou seja, menos 46% do que o valor da área ardida que o EFFIS estimou.

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José Miguel Cardoso Pereira, professor catedrático no Instituto Superior de Agronomia, explica o porquê da discrepância. “No meio dos mapas há pequenas ilhas de vegetação completamente verde que não ardeu, o que resulta do facto de a Madeira ter um território muito acidentado”, sublinha o docente da Universidade de Lisboa, ao referir que tal só é possível verificar em imagens de muito alta resolução. “É vegetação que fica no fundo de vales apertados para onde a água escorre e que ainda está húmida. A vegetação tem tanta humidade que quando o fogo chega lá não entra”, afirma Cardoso Pereira.

O EFFIS recorre a imagens de vários satélites, com resoluções diferentes, mas as que usa com mais frequência são as do MODIS, que estão disponíveis quatro vezes por dia. Também usa as fotografias do Sentinel-2, mas estas só estão disponíveis de cinco em cinco dias. “As imagens do Sentinel-2 são quase 160 vezes mais detalhadas do que as usadas inicialmente pelo EFFIS, que são do satélite MODIS “, precisa Cardoso Pereira.

Já o Sistema de Cartografia de Emergência só é usado para calcular a área ardida de um único incêndio ou um pequeno grupo de fogos, a pedido de um país. Recorre muitas vezes a imagens de satélites comerciais (que têm de ser compradas) e que têm uma resolução muito maior do que os que integram o Copernicus. Cardoso Pereira realça que as imagens que foram usadas na estimativa do Sistema de Cartografia de Emergência para o fogo da Madeira são “17 vezes mais detalhadas do que as do próprio Sentinel-2”.

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