Israel prevê colonato na Cisjordânia em sítio classificado como Património Mundial da UNESCO

A organização Peace Now entende que a localização foi definida para comprometer a contiguidade territorial entre várias aldeias palestinianas.

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Os socalcos milenares de Battir testemunham um sistema de cultivo e de rega único no mundo Eddie Geral/Getty Images
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Os planos para o estabelecimento de um novo colonato na Cisjordânia, aprovado pelo Governo de Israel em Junho, estão a preocupar a sociedade civil e organizações activistas como a Peace Now, que vê por trás da localização anunciada pelas autoridades de Telaviv o propósito de comprometer a contiguidade territorial entre várias aldeias palestinianas na região. A organização não-governamental (ONG) israelita, que defende o reconhecimento do Estado da Palestina como a “única solução viável” para resolver o conflito na Faixa de Gaza, sublinha ainda que o colonato será construído em território classificado pela UNESCO em 2014 como Património Mundial, sob a designação “Palestina: Terra de Oliveiras e Vinhas — Paisagem Cultural do Sul de Jerusalém, Battir”.

A criação do colonato, que deverá ter cerca de 60 hectares, numa zona a sudoeste de Jerusalém e a oeste de Belém, foi anunciada na rede social X, na última quarta-feira, pelo ministro das Finanças de Israel. Bezalel Smotrich diz que o novo território ajudará a ligar Jerusalém a Gush Etzion, na Cisjordânia, perto de Belém. “Nenhum sentimento anti-Israel ou anti-sionismo impedirá o desenvolvimento continuado de [novos] colonatos”, acrescentou na sua publicação.

Nahal Heletz será o primeiro colonato na Cisjordânia a ser estabelecido de raiz desde 2017, assinala o jornal The Times of Israel. Entre os trabalhos de zonamento a empreender e as licenças de construção que terão de ser obtidas, ainda deverão faltar vários anos até que se inicie a construção, acrescenta o jornal.

A Peace Now entende que o colonato não só comprometerá a contiguidade territorial entre várias aldeias palestinianas, como tem o objectivo de cortar o acesso das mesmas a Jerusalém. A ONG sublinha ainda que os limites que foram anunciados para Nahal Heletz são extremamente complexos e difíceis de entender com clareza, o que, adverte, pode levar a que população palestiniana seja impedida de aceder às suas propriedades mesmo que estas não façam parte da área teoricamente abrangida pelo colonato. “Smotrich continua a promover a anexação [da Palestina] de facto e mostra desprezo pela carta da UNESCO da qual Israel é signatário. E todos nós pagaremos o preço”, escreveu a Peace Now num comunicado de imprensa.

A paisagem da colina de Battir compreende uma série de vales cultivados, conhecidos como widian, com socalcos de pedra característicos, escreve a UNESCO no site . Alguns desses socalcos beneficiam de uma rede de canais de irrigação, alimentada por fontes subterrâneas, o que permite a existência de hortas comerciais numa região tão montanhosa. Outros dos socalcos são secos e neles estão plantadas videiras e oliveiras. O território que deverá tornar-se Nahal Heletz é um testemunho de “milhares de anos de actividade humana”, escreve o The Art Newspaper.

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