Zelensky quer criar “zona tampão” em Kursk para tentar acabar com a guerra
O Presidente ucraniano disse que a principal tarefa na ofensiva em Kursk é “destruir o máximo possível do potencial de guerra russo e realizar o máximo de acções contra-ofensivas”.
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse neste domingo que o país tinha como principal objectivo a criação de uma “zona-tampão” entre a Ucrânia e a Rússia na zona de Kursk de forma a tentar enfraquecer o potencial de guerra da Rússia e forçar o fim da guerra.
“Actualmente, a nossa principal tarefa nas operações defensivas em geral é destruir o máximo possível o potencial de guerra russo e conduzir o máximo de acções contra-ofensivas. Isto inclui a criação de uma zona tampão no território do agressor”, afirmou Zelensky, acrescentando que a criação desta “zona” estava a ser feita através da “operação na região de Kursk”, que se iniciou com a incursão de forças ucranianas a 6 de Agosto.
Já nesta segunda-feira, o Presidente escreveu no Telegram que as tropas ucranianas no terreno em Kursk estavam a “atingir os objectivos”, anunciando a captura de mais prisioneiros de guerra russos para o “fundo de troca” de prisioneiros.
A Ucrânia continuou, entretanto, a atingir alvos dentro da Rússia, danificando uma terceira ponte na região de Kursk sobre o rio Seim, que atravessa a região, algo confirmado pelas autoridades russas.
“A 18 de Agosto, como resultado de bombardeamentos direccionados com o uso de rockets e armas de artilharia contra edifícios residenciais e infra-estrutura civil na vila de Karyzh...uma terceira ponte sobre o rio Seim foi danificada”, disse à Reuters um representante do Comité de Investigação russo.
Segundo o Ministério das Emergências russo, citado pela agência russa TASS, a incursão ucraniana já causou também a saída de mais de 121.000 mil pessoas da região.
Na passada sexta-feira, Mykhailo Podolyak, conselheiro de Zelensky, defendeu a invasão da Ucrânia em Kursk como uma ferramenta para levar a Rússia a ser obrigada a negociar a paz, infligindo “derrotas tácticas” às forças russas.
Mudança de jogo
Segundo escreve a analista Natalia Gumenyuk na revista Foreign Affairs, esta invasão da Ucrânia da Rússia vira o jogo e dá agora outra perspectiva a quem pretende um cessar-fogo: põe a Ucrânia numa posição de força para negociar esse fim das hostilidades.
“Os ucranianos receiam que os parceiros ocidentais de Kiev podem, um dia, forçá-los a aceitar uma ocupação russa mais permanente do seu território no interesse de acabar com a guerra”, escreve a analista, que sublinha que a Ucrânia não pretende só desgastar os invasores russ0s mas também danificar o máximo possível a economia russa.
De facto, Zelensky tinha afirmado, numa entrevista à BBC realizada em Julho, que tinha um “plano” para acabar com a fase “quente” da guerra até ao fim do ano.
Em Junho, o Presidente ucraniano foi uma das principais figuras que incentivaram a realização de umas primeiras conversações de paz com 92 países, mas sem a Rússia e sem a China. Já em Julho, Zelensky disse ser “favorável” à participação russa numa futura conferência de paz, a ser realizada em Novembro deste ano.
No entanto, a resposta russa depois desta invasão é muito clara. O assessor do Presidente da Rússia Yuri Ushakov declarou que a Rússia não está ainda pronta para entrar em conversações de paz.
“Nesta fase, nesta fase desta aventura [referindo-se à incursão em Kursk], não vamos discutir”, afirmou Ushakov, que já foi embaixador da Rússia aos Estados Unidos.
Segundo o New York Times, que cita sob anonimato dois assessores presidenciais russos, as possibilidades de a Rússia entrar em conversações de paz são agora mais remotas do que nunca, tendo um deles dito que o foco de Putin agora estava na “vingança, não na paz”.