O lado político do incêndio na Madeira: críticas da oposição, “abutres” e “treinadores de bancada”

O incêndio na Madeira fez aumentar a temperatura no ambiente político. Oposição pressiona Miguel Albuquerque e já há quem fale em moção de censura.

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Incêndio na Madeira deflagrou no dia 14 HOMEM DE GOUVEIA / LUSA
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O incêndio na Madeira valeu críticas a Miguel Albuquerque por parte de vários representantes de partidos da região que o presidente do governo considerou serem “um conjunto de abutres políticos" e “treinadores de bancada”.

Em declarações à CNN, o líder do PS-Madeira criticou a gestão do incêndio que definiu como "deficitária" e "incompetente" e lamentou que, no sábado, apenas um membro do governo tenha “dado a cara”. Paulo Cafôfo já antes tinha criticado Miguel Albuquerque por ter dito, na sexta-feira, segundo informou à Lusa fonte do gabinete do presidente, que não era "necessária" o apoio da República. Albuquerque negou, entretanto, ter rejeitado ajuda do continente.

Da parte do Juntos pelo Povo (JPP) da Madeira — terceira força partidária na Assembleia Legislativa madeirense, com nove dos 47 lugares do hemiciclo —, Élvio Sousa deixou críticas ao que classifica de "incompetência" do presidente do Governo Regional e do secretário com a pasta da Protecção Civil e anunciou que vai pedir a audição parlamentar destes responsáveis com urgência.

O líder do JPP reforçou que "Miguel Albuquerque e Pedro Ramos têm responsabilidades na coordenação e gestão política de toda esta situação, que se arrasta desde há cinco dias".

Embora o parlamento regional esteja encerrado para férias, Élvio Sousa salientou que tem de funcionar a comissão permanente, órgão que "mantém poderes para apreciar e acompanhar a actividade do Governo e promover a convocação da Assembleia, sempre que tal seja necessário".

Também o partido Reagir, Incluir, Reciclar (RIR), que não tem representação parlamentar, desafiou as forças políticas com assento parlamentar na região a apresentarem uma moção de censura ao Governo de Miguel Albuquerque. No entender do RIR, "as primeiras declarações do presidente do Governo Regional da Madeira ontem à noite [no sábado] demonstraram claramente que não tem condições para continuar a exercer o cargo" e recusa assumir a responsabilidade neste contexto.

"Não se compreende a existência de um único meio aéreo numa ilha com tão especial orografia", sustentou, criticando a falta de prevenção e a inexistência de um ordenamento do território e de gestão florestal no arquipélago.

"Por mim até tinha três ou quatro [meios aéreos a combater o incêndio]", disse o presidente do Governo Regional, quando questionado pelos jornalistas. Miguel Albuquerque direccionou as culpas para o Estado português que "não assume responsabilidade nas suas regiões autónomas", o que faz com que "tudo seja pago pelos contribuintes da Madeira". E voltou a dizer que a culpa deste incêndio é que quem o ateou.

Sobre as críticas, Albuquerque condenou o que considera ser "um conjunto de abutres políticos" que "nunca tiveram um fogo, não sabem como é que se combate o fogo". Estendeu a crítica para os "treinadores de bancada", mas disse compreender que as pessoas fiquem "nervosas". Mas, concluiu, a actuação é feita "em função de orientações técnicas, os fogos não se combatem de uma forma desregrada".

O presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues, que esteve de visita à área ardida, defendeu que o Estado deve assegurar à região mais dois helicópteros para combate a incêndios (existe apenas um meio aéreo que também tem sido utilizado em operações de resgate em percursos pedestres).

"O que eu proponho é que o Estado ponha na região dois meios aéreos e assuma os custos desses meios aéreos na defesa do território contra incêndios ou outras calamidades para defender também os madeirenses, que são portugueses que estão no Atlântico", afirmou.

José Manuel Rodrigues considerou que "há uma lição a tirar” destes incêndios. "Essa lição vai no sentido de termos mais meios, quer humanos, quer meios aéreos de combate aos fogos", reforçou.