Morreu Ana Faria, criadora de Brincando aos Clássicos e dos Queijinhos Frescos

A notícia foi avançada pelo marido da cantora, Heduíno Gomes, através de uma publicação no Facebook. Ana Faria fundou também os Onda Choc, em 1986.

Foto
Ana Faria tinha 74 anos DR
Ouça este artigo
00:00
03:15

Ana Faria, ícone da música infantil dos anos 1980 e 1990, morreu neste sábado, 17 de Agosto, aos 74 anos. A notícia foi avançada pelo marido da cantora, Heduíno Gomes, através de uma publicação no Facebook.

Foi em 1969 que se tornou conhecida, na estreia do programa de televisão Zip-Zip, onde cantou Canção de embalar, de Zeca Afonso, e Avé Maria do povo, popularizada por Simone de Oliveir​a. Depois dessa participação esteve "quase para editar um disco", escreve o radialista e investigador musical João Carlos Calixto numa publicação no Facebook.

Mas os primeiros álbuns, que marcaram uma geração, só surgiram na década de 1980. O primeiro, Violeta Flor, contava com canções originais da própria, de Heduíno Gomes e de Mário Piçarra. Chegou a participar em projectos do Grupo Decibel e dos Terra a Terra.

Numa entrevista ao Jornal de Notícias (JN) em 2004, disse: "Trauteava músicas eruditas com letras minhas em português e isso despertou a atenção dos meus filhos e dos seus amigos. Todos queriam ouvir-me cantar. Depois, dava-lhes a ouvir o original." E daí nasce Brincando aos Clássicos, um disco cheio de adaptações de sinfonias clássicas de compositores como Beethoven, Mozart, Chopin ou Verdi.​

O projecto teve sucesso e, um ano depois, em 1983, Ana Faria lançou um segundo volume, editado pela CBS Portugal (actual Sony Music Entertainment Portugal)​. Ambos os álbuns foram produzidos pelo marido. João Carlos Calixto lamentou a partida da cantora e garantiu: "Não tenho nenhuma dúvida de que os discos Brincando aos Clássicos foram importantíssimos para a educação do gosto de tantas e tantas crianças de então." Cada faixa tem o nome de uma criança diferente e as vozes da cantora, apoiada por um coro de crianças, contam a história de cada uma.

Os três filhos de Ana Faria — João, Nuno e Pedro Faria Gomes — faziam parte dessa massa de vozes e, em 1984, tornam-se célebres sob o nome Queijinhos Frescos. É também em 1984 que é editado o álbum Ana Faria e os Queijinhos Frescos. No ano seguinte, lançaram Batem Corações e também o single que seria o tema do programa Jornalinho, da RTP.

Heduíno Gomes e Ana Faria sempre trabalharam juntos e, em 1986, criaram os Onda Choc, que pôs uma geração inteira a cantar Ele é o rei, Era um biquíni pequenino às bolinhas amarelas ou Ela só quer, só pensa em namorar. Ela escrevia as letras, ele tratava do resto: era responsável pelo repertório, dirigia os castings e até chegou a tirar fotografias para as capas dos discos.

Em entrevista ao Diário de Notícias em 2019, Heduíno Gomes afirmou que o projecto resultou porque as músicas infantis "eram todas uma desgraça, era uma estupidificação enorme das crianças".

A carreira de Ana Faria na música não durou muito, tendo acabado por se dedicar à pintura, arte que já desenvolvia antes de começar a cantar. Chegou a lançar livros, que escreveu e ilustrou, mas nunca gostou de ser conhecida. Em 2004, disse ao JN: "Não me assusta a fama, mas não gosto de ser o centro de tantas atenções. Lido mal com tanta exposição."

Sugerir correcção
Ler 2 comentários