Lucro histórico, aumentos sem história

Carta aberta à Comissão Executiva do BCP.

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Queria começar por congratular a Comissão Executiva do Banco Comercial Português (BCP), na pessoa do seu CEO, Miguel Maya, pelos excelentes resultados alcançados. Cumprimento que, naturalmente, é extensível a todos os trabalhadores do banco, sem os quais nada disto teria sido possível.

Ora, perante os melhores resultados “dos últimos dez anos da vida” do BCP, é para qualquer observador um mistério o que leva a comissão executiva a não igualar a proposta de aumentos de 3% das tabelas salariais, pensões de reforma e de sobrevivência, bem como das demais cláusulas com expressão pecuniária, acordada pelo nosso sindicato com a generalidade dos bancos para o ano de 2024.

Atente-se, não se trata de exigir ao BCP que vá para além da generalidade dos seus concorrentes em território nacional, mas muito simplesmente que iguale o que foi acordado no sector por outras instituições, e que não se fique unilateralmente pelos 2,25% de aumento.

Com um resultado líquido de 485,3 milhões de euros, o BCP cresceu 14,7% face ao período homólogo do ano anterior. O resultado da atividade em Portugal foi de 411 milhões de euros, o que constituiu uma subida de 16,2% face ao primeiro semestre de 2023. A margem financeira subiu 1,7% e os recursos totais de clientes registaram uma subida de 8,9%, o que levou, aliás, Miguel Maya a destacar a “fasquia histórica”. E sem me alongar muito mais, por último, mas não em último, o BCP apresentou sólidos rácios de capital (um rácio de capital CET1 de 16,2% e um rácio de capital total de 20,6%), indicadores de liquidez muito acima dos requisitos regulamentares (Liquidity Coverage Ratio de 296% e Net Stable Funding Ratio de 175%) e um crescimento da base de clientes de 4,1%. Em suma, o BCP respira saúde. Com todo este enquadramento, será compreensível a recusa em fechar um acordo com o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários e igualar os aumentos salariais do restante setor? Para nós, parece-nos evidente que não.

Depois de o BCP ter tido um resultado líquido de 856 milhões de euros em 2023, está tudo encaminhado para que este ano volte a ser muitíssimo positivo. Sim, o Millennium BCP respira, felizmente, saúde.

A situação é tão boa que, na conferência de imprensa, Miguel Maya fez questão de realçar: “Fizemos um bom trimestre, voltámos a ter um bom semestre, e diria que foi quer o melhor trimestre, quer o melhor semestre, pelo menos, dos últimos dez anos da vida do Banco Comercial Português”.

Ainda assim, pelos vistos, os melhores resultados “dos últimos dez anos da vida” do BCP não chegam para aumentar os trabalhadores de forma justa e razoável, não os penalizando de forma negativa face aos colegas de um qualquer outro banco.

Ora, é meu entendimento que a irracionalidade e uma certa obstinação sem razoabilidade não devem contaminar os processos de negociação e de gestão. Ao longo da minha vida profissional sempre procurei evitar esse tipo de armadilha que não serve os interesses de ninguém.

Deixo, por isso, aqui um apelo à Comissão Executiva do BCP. Face aos melhores resultados “dos últimos dez anos da vida” do banco, saibamos todos estar à altura das circunstâncias, sem dogmatismos e sem ser reféns de um capricho irracional. Os trabalhadores do BCP, ativos e reformados, merecem ser tratados, pelo menos, com a mesma razoabilidade com que outras instituições financeiras tratam os seus colaboradores e como tal devem ter direito ao mesmo aumento de 3% que os seus colegas de todos os principais bancos nacionais.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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