Rússia: 12 anos de prisão para russo-americana que deu 50 dólares a instituição ucraniana

Tribunal considerou Ksenia Karelina, que vive em Los Angeles, culpada da traição por “transferir fundos” que foram usados para comprar “meios de destruição e munições pelas Forças Armadas da Ucrânia”.

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Ksenia Karelina, de 33 anos, durante o julgamento em Ekaterimburgo Dmitry Chasovitin / REUTERS
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Um tribunal russo condenou, na quinta-feira, Ksenia Karelina, de nacionalidade russa e americana, a 12 anos de prisão, depois de a considerar culpada de traição por ter doado dinheiro, pouco mais de 50 dólares, a uma instituição de caridade que apoiava a Ucrânia.

Ksenia Karelina, residente em Los Angeles, funcionária de uma estância termal, declarou-se culpada no seu julgamento à porta fechada na cidade de Ekaterimburgo, nos Urais, onde o seu caso foi apreciado pelo mesmo tribunal que, em Julho, condenou o jornalista do Wall Street Journal Evan Gershkovich por espionagem.

Segundo o tribunal, os investigadores descobriram que, a 24 de Fevereiro de 2022 – primeiro dia da invasão russa da Ucrânia –, Ksenia Karelina “transferiu fundos para uma organização ucraniana, que foram posteriormente utilizados para a compra de artigos médicos tácticos, equipamento, meios de destruição e munições pelas Forças Armadas da Ucrânia”.

Os seus apoiantes afirmam que ela deu 51,80 dólares (47 euros) à Razom for Ukraine, uma instituição de caridade com sede em Nova Iorque que presta ajuda humanitária a crianças e idosos na Ucrânia. A instituição de caridade negou que preste qualquer apoio militar a Kiev.

Ksenia Karelina, de 33 anos, compareceu em tribunal na quinta-feira, vestida com uma camisola branca e calças de ganga azuis, sentada calmamente numa gaiola de vidro da sala de audiências.

Não foi incluída na grande troca de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente, de há duas semanas, que libertou Gershkovich, mas o seu advogado, Mikhail Mushailov, afirmou que ela esperava ser incluída numa futura troca.

Nascida na Rússia, Ksenia Karelina emigrou para os Estados Unidos em 2012 através de um programa de trabalho-estudo, tendo recebido a cidadania americana em 2021. No início do ano, foi detida pelos serviços de segurança do FSB quando viajou para a Rússia para visitar a família em Ekaterimburgo.

Os problemas começaram assim que chegou à Rússia e entrou usando o seu passaporte americano. As autoridades interrogaram-na e confiscaram-lhe o telemóvel, onde encontraram a doação de 2022 para a instituição de caridade Razom for Ukraine na sua conta Venmo, segundo o site Free Ksenia.

O FSB interrogou-a durante duas horas durante os controlos semanais obrigatórios e proibiu-a de sair da cidade. Três dias antes do regresso a Los Angeles, foi detida sob a acusação de vandalismo e presa durante 15 dias. Mas, pouco antes de ser libertada, viu-se acusada de traição ao Estado, um crime grave cuja absolvição é quase inédita no sistema judicial russo.

A sua família e os amigos nos Estados Unidos descreveram-na como alguém que não se interessava muito por política e disseram que ficaram chocados com a sua detenção. O namorado, Christopher van Heerden, disse à Reuters este mês que tem estado em contacto com o Departamento de Estado e com a embaixada dos EUA em Moscovo para garantir a sua libertação.

Ao contrário dos casos de Gershkovich e do ex-fuzileiro americano Paul Whelan, que também foi libertado na recente troca de prisioneiros, Ksenia Karelina não foi designada por Washington como “detida injustamente”, um rótulo que abriria vias diplomáticas para negociar uma troca de prisioneiros.