Em que lugar estamos nas olimpíadas da sustentabilidade?
No ano 2012, no Rio de Janeiro, quatro anos antes dos Jogos Olímpicos da mesma cidade, a humanidade (leia-se, Nações Unidas) começou a decidir onde queria estar em 2030. Mais tarde, em setembro de 2015, foi formalmente adotada a visão de um planeta mais justo: sem pobreza, sem fome, com acesso quasi-universal à educação, movido a energia limpa, em coexistência com os outros seres vivos e regido por instituições fortes e livres de corrupção.
Esta visão foi materializada nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que substituiriam os Objetivos do Milénio, com caducidade no final desse mesmo ano. Estes quadros “macro”, definidos desde o ano 2000, são extremamente úteis para dar a governos e empresas (e, porque não, pessoas) linhas orientadoras por onde alinhar os seus planos e programas. Porém, como acontece com todos os objetivos de longo prazo, é bom ir fazendo avaliações de progresso pelo caminho.
O mais recente Relatório de Desenvolvimento Sustentável 2024 mostra o percurso lento e insuficiente que temos vindo a traçar. A apenas seis anos de 2030, só 16 por cento das metas estabelecidas estão devidamente encaminhadas. Por onde passam os restantes 84 por cento?
São vários os objetivos nos quais o progresso tem sido lento e os esforços reduzidos (ou ineficazes); no entanto, ainda mais preocupante é mesmo haver áreas em que estamos a regredir.
Comecemos por um caso relativamente paradoxal, mas que espelha na perfeição o desequilíbrio global, social, e nutricional, em que vivemos. O mesmo relatório que nos indica que as taxas de obesidade — categorizadas sob o ODS 2 (erradicar a fome) — estão a aumentar significativamente em todo o mundo, incluindo em Portugal (França e o Vietname são os únicos casos de sucesso), mostra-nos também que, em 2030, cerca de 600 milhões de pessoas sofrerão ainda de fome, predominantemente nos países mais pobres e vulneráveis.
Preservar a biodiversidade também não tem sido o nosso forte. A Lista Vermelha da IUCN, um indicador do ODS 15 (proteger a vida terrestre), revela um aumento acentuado do número de espécies em risco a nível mundial (Portugal incluído), o que mostra a nossa dificuldade em proteger os ecossistemas e lembrando-nos de que somos uma ameaça cada vez maior à própria estrutura da vida na Terra. No que respeita à conservação do solo, também a gestão sustentável do nitrogénio (ou azoto) tem observado um retrocesso; o uso excessivo deste elemento na agricultura não só afeta a saúde do substrato, mas contribui também para a poluição da água e para as emissões de gases com efeito de estufa, pondo em causa os esforços globais pela sustentabilidade ambiental.
Visto de um escopo geral, nestas “olimpíadas do progresso rumo aos ODS”, encontramos 18 países europeus entre os 20 mais bem classificados. Este grupo é liderado por três países nórdicos, a Alemanha e a França, um top-5 da UE. Já Portugal surge em 16.º lugar, enquanto Espanha está em 14.º, a Croácia em 8.º e a Itália em 23.º, mesmo à frente da Holanda e Canadá. Esta prevalência de nações europeias no topo da tabela deve servir também para nos lembrar do privilégio que é viver na Europa e, mais concretamente, na União Europeia. Se este ranking fosse o dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, o 16.º lugar de Portugal seria equivalente a conseguir quatro medalhas de ouro, quatro de prata e três de bronze, o mesmo resultado que a Suécia, algo que neste momento parece utópico para o desporto nacional.
Do lado oposto, países mais pobres e vulneráveis, incluindo os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, não estão apenas atrasados, como estão a progredir a um ritmo ainda mais lento do que antes da pandemia, prova de que também as políticas de cooperação e colaboração económica precisam de uma mudança radical.
Desengane-se quem pensa que este relatório é apenas mais uma estatística; é acima de tudo um alarme, um apelo a uma mudança imediata e assertiva.
Como repito com frequência, o desenvolvimento sustentável é um desafio imediato que exige pensamento a longo prazo. Precisamos por isso de reformar a arquitetura financeira global mas também o pensamento de curto prazo que, na grande maioria das vezes, lidera as tomadas de decisão de investimento. Não podemos continuar a tolerar um sistema que celebra o crescimento dissociado do bem-estar, sustentabilidade, equidade e justiça.
A apenas seis anos da data dos ODS, está na altura de começarmos a falar dos próximos.
O autor escreve segundo no novo acordo ortográfico