Tebogo ficou com o ouro, Lyles saiu de cadeira de rodas

O africano venceu os 200m nos Jogos de Paris, relegando o norte-americano, que estava com covid-19, para terceiro. McLaughlin-Levrone venceu os 400m barreiras com recorde do mundo.

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Tebogo primeiro, Bednarek segundo, Lyles (com covid) terceiro Marko Djurica / REUTERS
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Cuidado com os favoritismos antecipados e com as declarações antecipadas de vitória. Quando todos os olhos estavam postos em Noah Lyles e na possibilidade de se juntar à lista dos duplos campeões olímpicos da velocidade, da qual fazem parte Jesse Owens, Carl Lewis ou Usain Bolt, eis que um jovem africano chamado Letsile Tebogo lhe roubou o protagonismo e, em cima do bluff do norte-americano, ficou com o título olímpico dos 200m, tornando-se no quinto mais rápido de sempre, com 19,46s. Nyles, o autodeclarado rei da velocidade depois de vencer nos 100m, caiu para terceiro (19,70s), atrás de outro norte-americano, Kenny Bednarek (19,62s).

As meias-finais já indiciavam que algo assim se podia passar. Na prova que é a sua especialidade, Lyles não fez o tempo mais rápido (fez o terceiro), mas isso não é incomum acontecer nestas grandes competições – os favoritos contêm-se dentro do razoável. E o jovem africano aproveitou para ser ele o dominador das “meias”. Era o suficiente para lançar a dúvida? Lyles estava a poupar recursos? Tebogo dera tudo o que tinha? A final iria tirar todas as dúvidas.

E, ao contrário do que acontecera nos 100m, esta não precisou de “photo finish” para se saber quem tinha ganho. A partir da pista sete, Tebogo rapidamente ganhou a dianteira e foi um duelo entre ele e dois dos norte-americanos. A velocidade terminal de Lyles não apareceu, Tebogo foi um claro vencedor, assim como a prata para Bednarek, que repete a sua posição de Tóquio. E, enquanto o primeiro campeão olímpico do Botswana festejava, Lyles recebia assistência médica – abandonou a pista do Stade de France numa cadeira de rodas.

Tebogo não é propriamente um desconhecido, mas é uma presença relativamente recente ao mais alto nível. Entrou com estrondo nos Mundiais de Budapeste em 2023, com prata nos 100m e bronze nos 200m, a deixar boas indicações para estes Jogos de Paris. Foi finalista nos 100m com um novo recorde pessoal (9,86s) que lhe valeu um sexto lugar, subiu de nível no duplo hectómetro com uma marca que é novo recorde e África e que faz dele o quinto mais rápido de sempre – um dos que está à sua frente estava nesta final, Lyles, os outros são Usain Bolt (com um recorde do mundo de 19,19s), Yohan Blake e Michael Johnson.

Enquanto todos os outros entraram tranquilos e a saudar o público, Lyles foi o “showman” habitual, a correr e a saltar e a interagir com o público. Parecia cheio de energia, mas não foi o que aconteceu, nem durante, nem após a corrida. E, pouco depois, percebeu-se o que tinha acontecido. O campeão do hectómetro testou positivo à covid-19 (foi essa a explicação dada pelo Team USA) e a sua presença na estafeta de 4x100m no último dia do atletismo nos Jogos fica seriamente comprometida.

E Lyles, depois da final, confirmou que correu já sabendo que estava infectado. “Acordei a meio da noite, com arrepios, dores e a garganta inflamada. Fiz o teste, deu positivo e entrei de quarentena. Tomei todos os medicamentos legalmente possíveis porque eu queria correr, ainda era possível. E sabia que tinha de dar tudo desde o início”, assinalou o norte-americano, garantindo que nunca esteve em equação falhar a final: “Ia competir de qualquer maneira. Só se não chegasse à final.”

Recorde para Sydney

A final dos 200m não seria, no entanto, a mais interessante, nem a mais espectacular da noite. Nos 400m barreiras femininos, esperava-se um duelo entre Sydney McLaughlin-Levrone e Femke Bol pelo ouro, a norte-americana campeão olímpica contra a neerlandesa campeã mundial. Mas o que aconteceu não foi duelo nenhum. McLaughlin-Levrone arrancou dos blocos, saltou pelas barreiras durante uma volta à pista e, quando cortou a meta, tinha batido o recorde do mundo, 50,37s, tirando um bom pedaço à anterior marca, que também era dela (50,65s).

É que Bol nem sequer ficou perto, nem ficou com a medalha de prata. Entre as duas rivais, ficou outra norte-americana, Anna Cockrell, que também fez a corrida da sua vida (recorde pessoal de 51,87s, a mais de um segundo da vencedora), e só depois chegou a neerlandesa, com um tempo bem modesto para o que ela está habituada (tem um recorde pessoal de 50,95s).

O recorde mundial dos 400m barreiras não foi o único a acontecer nesta sessão no Stade de France. A final do lançamento do dardo teve um duelo até ao último lançamento entre representantes de duas bandeiras mais habituais no hóquei em campo ou no críquete do que no atletismo. Foi o que aconteceu entre o paquistanês Arshaad Nadeem e o indiano Neeraj Chopra.

Nadeem, o vice-campeão mundial de 2023, conquistou o ouro com um magnífico recorde olímpico, um lançamento a 92,97m, enquanto Chopra, que defendia o seu título olímpico de Tóquio, só fez um lançamento válido, a 89,45m, que foi o suficiente para a prata. A ver de perto o duelo de vizinhos, Anderson Peters, de Grenada, ficou com o bronze, com um lançamento a 88,54m.

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