Bolsas estabilizam com recuperação no Japão, mas incerteza mantém-se

Investidores mais calmos regressam às compras, mas dependência de dados macroeconómicos e conflito no Médio Oriente trazem maior volatilidade aos mercados.

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Forte recuperação dos mercados, depois de uma segunda-feira "negra" KIMIMASA MAYAMA / EPA

Ainda não é a bonança depois da tempestade, mas os mercados bolsistas registaram nesta terça-feira uma forte recuperação, depois do pânico da véspera. A nota continua, no entanto, a ser de forte volatilidade, a reflectir a incerteza face à evolução da maior economia do mundo, a norte-americana, mas também da segunda maior, a chinesa, bem como o receio de um agravamento do conflito no Médio Oriente.

Apesar destas incertezas, os maiores índices bolsistas voltaram aos ganhos, de forma impressionante na bolsa japonesa (+10%), o que ajudou a uma abertura positiva na Europa e ainda a um arranque animador em Wall Street, permitindo a recuperação de parte das quedas da véspera, a maior dos últimos dois anos no caso deste último mercado.

A meio da sessão, um dos principais índices norte-americanos, o S&P 500, subia 2%, depois de ter perdido 3% na primeira sessão da semana. Também o Dow Jones subia perto de 1,5%, ainda longe da desvalorização de 2,60% da véspera, e o tecnológico Nasdaq era o que mais subia, 2,16%, depois da queda anterior de 3,43%.

Refira-se que a forte queda dos mercados accionistas desta segunda-feira ficou a dever-se à forte desvalorização da bolsa japonesa — com o Nikkei a desvalorizar 12,4%, naquela que foi a maior queda dos últimos 40 anos, explicada essencialmente por “questões locais” —, mas também à divulgação, na última sexta-feira, de dados do mercado de trabalho norte-americano, relativos a Julho. Este indicador revelou uma redução no ritmo de criação de emprego, o que contrasta com fortes subidas nos últimos anos, criando o receio em torno de uma recessão da economia, numa altura em que a Reserva Federal (Fed) tem insistido em manter as taxas de juro em valores elevados, mais concretamente no intervalo entre 5,25% e 5,5%. Uma situação que levou mesmo muitos economistas a admitir que os bancos centrais podem ter ido longe de mais.

Entretanto, a publicação, na tarde de segunda-feira, dos números da actividade de serviços nos Estados Unidos, que se situou em 51,4 pontos em Julho, após 48,8 em Junho, contribuiu para uma maior confiança dos investidores. A este indicador juntaram-se ainda as declarações do presidente da Reserva Federal (Fed) de Chicago, Austan Goolsbee, que afastou a possibilidade de a maior economia do mundo entrar em recessão.

Em forte volatilidade esteve a negociação dos contratos de futuros sobre o petróleo, que ao início da manhã negociaram em alta, depois em queda, voltando novamente a terreno positivo com a força dos índices bolsistas. A marcar o ritmo desta matéria-prima está, essencialmente, o receio de uma escalada no conflito no Médio Oriente, mas também uma queda na produção no maior campo petrolífero de Sharara, na Líbia, e ainda uma esperada redução da procura por parte da economia chinesa.

Os mercados accionistas europeus, que na véspera acompanharam os restantes nas quedas, registaram esta terça-feira um comportamento misto, mostrando, mais uma vez, a forte dependência face ao que se passa do outro lado do Atlântico e a nível global. Empurrados pelo Nikkei e pelo Topixx, este último com uma subida de 9,3%, os principais índices europeus arrancaram a subir, embora com valorizações modestas, à excepção do Cac de Paris, que permaneceu no “vermelho”.

Mas rapidamente as praças europeias voltaram às quedas, embora ligeiras, com alguns índices ainda a conseguirem amealhar escassos ganhos na recta final da sessão, “contagiados” pela abertura positiva de Wall Street. Foi o caso do pan-europeu Stoxx 600, que fechou a subir 0,29%, muito longe de recuperar da perda de 3,5% de segunda-feira, e do Dax alemão, que se ficou por 0,09%. Para além do Cac, encerrou negativo o Ibex espanhol (-0,13%) e o principal índice português, o PSI, deslizou 0,19%.

Reversão de carry trades

Se a queda desta segunda-feira nos índices japoneses foi a maior desde 1987, em mais uma segunda-feira "negra", a recuperação desta terça-feira é a maior desde 2008. A desvalorização do Nikkei chegou a superar os 13%, originando uma interrupção momentânea da negociação.

O pânico dos investidores esteve relacionado com uma situação particular, a das reversões de carry trades, operações de empréstimos realizadas em países com taxas de juro mais baixas, para investir noutros activos mais rentáveis, um mercado dominado por fundos de investimento de risco, os designados hedge funds.

O anúncio do Banco do Japão, no dia 31 de Julho, de uma subida das taxas de juro (de 0,1% para 0,25%), levou muitos daqueles investidores a terem de "fechar" ou pagar os empréstimos feitos em ienes, recorrendo à venda de acções e outros activos para obter liquidez, não só no mercado japonês, mas também noutros mercados.

O JPMorgan Chase & Co considera, contudo, que há espaço para o regresso das carry trades, “já que o iene continua a ser uma das moedas mais subvalorizadas”.

Nesta terça-feira, e pela primeira vez desde o início do mês, o dólar esteve a negociar-se em alta face ao iene.

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