Biden diz que o assassínio do líder do Hamas “não ajuda” as negociações para um cessar-fogo em Gaza
Perante os receios de uma guerra regional no Médio Oriente, Presidente dos EUA teve conversa “muito directa” com o primeiro-ministro israelita sobre a morte de Haniyeh – que Israel não reivindica.
O Presidente dos Estados Unidos assumiu na quinta-feira à noite (madrugada desta sexta-feira em Portugal) que o assassínio de Ismail Haniyeh, líder político do movimento islamista palestiniano Hamas, em Teerão, capital do Irão, na véspera, “não ajuda” as negociações para um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Em declarações aos jornalistas, depois de receber nos EUA os cidadãos norte-americanos envolvidos numa troca de prisioneiros histórica com a Federação Russa, Joe Biden disse que teve uma conversa “muito directa” ao telefone com Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, sobre o assunto e lembrou que “existe uma base para um cessar-fogo”, que deve ser aproveitada por todas as partes envolvidas.
Horas antes, num comunicado, a Casa Branca informou que Biden discutiu com Netanyahu “esforços para apoiar a defesa de Israel contra ameaças” e que “reafirmou o compromisso” dos EUA com a segurança israelita “contra todas as ameaças do Irão” e dos “grupos terroristas Hamas, Hezbollah e os houthis”.
Kamala Harris, vice-presidente e provável candidata democrata às eleições presidenciais norte-americanas de Novembro, também participou na conversa telefónica entre o Presidente dos EUA e o primeiro-ministro israelita.
Haniyeh foi morto na quarta-feira, vítima de um alegado ataque com um míssil contra um local protegido pelo Exército dos Guardas da Revolução Islâmica (força de elite da República Islâmica do Irão), no centro de Teerão, depois de ter estado nas cerimónias da tomada de posse do novo Presidente iraniano, Masoud Pezeshkian.
O Hamas e o Governo iraniano responsabilizam Israel, mas nem o Governo nem o Exército israelitas reivindicam o ataque.
Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, garantiu que a Administração Biden não teve qualquer envolvimento na operação que matou Haniyeh, nem foi informada antes de o ataque ter sido levado a cabo.
Além de ser o principal responsável pelas ligações entre o Hamas e o exterior, o líder do bureau político do movimento islamista desempenhava um papel importante nas negociações para um acordo de cessar-fogo e troca de reféns em Gaza, sendo visto como mais moderado que o líder do Hamas no enclave, Yahya Sinwar.
Numa mensagem publicada na quarta-feira na rede social X (antigo Twitter), Vali Nasr, professor de Estudos do Médio Oriente e Política Internacional na Universidade John Hopkins, diz que o assassínio de Haniyeh, somado ao de Fuad Shukr, um importante comandante do Hezbollah, morto em Beirute, no Líbano, “matam as hipóteses de um cessar-fogo em Gaza e deixam o Médio Oriente mais perto de uma guerra regional catastrófica”.
Depois das cerimónias fúnebres simbólicas de quinta-feira em Teerão, Ismail Haniyeh é enterrado Nesta sexta-feira em Doha, capital do Qatar, onde vivia.
De acordo com as autoridades de saúde palestinianas, a guerra israelita na Faixa de Gaza já matou quase 40 mil pessoas e obrigou outras 2,3 milhões a abandonarem as suas casas. O enclave está a braços com uma profunda crise sanitária e alimentar, que se vai agravando cada vez mais devido às dificuldades de entrada de ajuda humanitária no território palestiniano.
A operação militar israelita em Gaza começou a 7 de Outubro do ano passado, em resposta a um ataque do Hamas contra Israel, que fez perto de 1200 mortos e que resultou no sequestrou de cerca de 250 pessoas – dos quais 115 ainda estarão nas mãos do grupo fundamentalista.