Como funciona o sistema que dá vitória com mais de 66% de votos à oposição na Venezuela

Projecções do estudo Altavista dão 66,23% para González e 31,39% para Maduro. O estudo foi verificado por três professores universitários, sendo baseado em dados recolhidos por observadores nas mesas.

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A contagem alternativa dos votos baseou-se na ata impressa de quase mil mesas de voto por toda a Venezuela Leonardo Fernandez Viloria / REUTERS
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Segundo uma projecção dos votos realizada por uma ONG venezuelana e verificada por investigadores brasileiros, a vitória nas eleições presidenciais na Venezuela deste domingo pertence a Edmundo González, candidato da coligação de oposição, com 66,23% dos votos, derrotando assim Nicolás Maduro, vencedor contestado que teve a vitória atribuída pelas autoridades eleitorais do país.

O sistema empregado no estudo (ao qual foi dado o nome de Altavista) é conhecido como tabulação paralela do voto (na sigla inglesa, PVT) e recolheu actas verificadas de 997 mesas, escolhidas tendo em conta o histórico de votação nas eleições anteriores, tendo tido 1500 representantes espalhados pela Venezuela. O estudo analisou os dados em bruto recolhidos directamente dos códigos presentes relatórios de votações das mesas. A ONG venezuelana presente no terreno, segundo o comunicado enviado para as redacções, escolheu permanecer anónima, devido ao medo de repercussões.

A metodologia foi verificada e aperfeiçoada pelos professores universitários Dalson Figueiredo, da Universidade Federal de Pernambuco, Raphael Nishimura e Walter R. Mebane, estes últimos da Universidade de Michigan. Para ambos os candidatos, a margem de erro da organização é de 0,5%. A participação geral, calculada pelo estudo, é de 60,79%.

Apesar da diferença dos dados para os que foram divulgados oficialmente pelo Conselho Nacional de Eleições da Venezuela (CNE), Raphael Nishimura afirma que o seu papel não é fazer alegações sobre as eleições.

​"O nosso papel não é dizer se o que foi divulgado pelo CNE aconteceu ou não, nosso trabalho é estabelecer uma estimativa o mais apurada possível dos votos, que é uma estimativa que difere do que foi divulgado pelo CNE, mas não queremos fazer qualquer tipo de alegação do que pode ou não ter acontecido com os dados oficiais da Venezuela", afirma Raphael Nishimura à televisão brasileira SBT, que afirmou "não saber muitos detalhes" sobre quem é este grupo venezuelano, contando apenas que era somente "um grupo independente".

No sistema eleitoral venezuelano, o voto é simultaneamente electrónico e em papel. Segundo o Conselho Nacional de Eleições, quando se entra numa mesa de voto e depois de registar que já se votou, o primeiro passo é seleccionar, num dispositivo electrónico, o candidato que o votante pretende votar. Depois de escolher, o dispositivo gera um comprovativo de voto com o candidato seleccionado no computador, que é inserido numa urna.

As votações electrónicas são encriptadas e geram uma acta de votações impressa, que faz a contagem dos votos e encripta os dados, acessíveis e verificáveis em códigos QR, que dispõem um código que mostram as votações. Os representantes das ONGs associadas à contagem, presentes nas mesas de voto, tiraram fotografias a esses códigos, servindo como base para os resultados da organização.

Centro Carter diz que eleições na Venezuela "não podem ser consideradas democráticas"

Esta quarta-feira, o Centro Carter, que foi convidado pelas autoridades venezuelanas a participar na observação do processo eleitoral venezuelano, concluiu que as eleições do passado domingo "não podem ser consideradas democráticas".

"As eleições presidenciais de 2024 na Venezuela não respeitaram os parâmetros e as normas internacionais de integridade eleitoral e não podem ser consideradas democráticas", declarou o Centro Carter, que enviou 17 peritos e observadores que trabalharam um pouco por toda a Venezuela a partir do dia 29 de Junho. Como indica o nome, o centro foi fundado pelo ex-Presidente norte-americano Jimmy Carter que, em 2012, tinha afirmado que o sistema eleitoral venezuelano era "o melhor do mundo".

No entanto, a organização considerou agora que " o processo eleitoral de 2024 na Venezuela não cumpriu as normas internacionais de integridade eleitoral em nenhuma das suas fases relevantes e violou numerosos preceitos da própria legislação do país", especificamente a restrição de liberdades de "actores políticos, organizações da sociedade civil e meios de comunicação social", conta o Centro Carter.

Para além destas restrições, o Centro considerou também que as autoridades eleitorais foram parciais na forma como actuaram, quer no registo de partidos, quer nas dificuldades de registo eleitoral dos votantes, tendo criticado também o maior destaque da campanha bolivariana na comunicação social.

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