O que está a acontecer nas eleições contestadas da Venezuela?

Ambos os candidatos declararam vitória nas eleições realizadas no domingo. O CNE declarou a vitória de Maduro, com 51% dos votos mas a oposição diz que não representam a realidade.

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Maduro foi declarado vencedor pela comissão eleitoral, mas os resultados são contestados REUTERS/Alexandre Meneghini
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O Presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, reivindicou a vitória nas eleições presidenciais na madrugada de segunda-feira, apesar de a oposição venezuelana ter afirmado que o seu candidato, Edmundo González, tinha sido o vencedor e que tinha as sondagens para o provar.

O que aconteceu com a contagem?

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), autoridade eleitoral do país, anunciou, pouco depois da meia-noite locais de segunda-feira (5h00 em Portugal), que Maduro tinha ganho um terceiro mandato de seis anos com 51% dos votos.

O CNE afirmou que González tinha ganho 44% dos votos, mas a líder da oposição, Maria Corina Machado, disse que o candidato da oposição González havia garantido 70% dos votos e que várias sondagens à boca da urna independentes e contagens rápidas mostraram decisivamente a sua vitória.

González disse que não estava a apelar aos seus apoiantes para saírem à rua ou cometerem quaisquer actos de violência e Machado disse que a oposição tem cópias de cerca de 40% dos registos de votação.

A Edison Research, conhecida pelas suas sondagens sobre as eleições americanas, previu numa sondagem à boca da urna que González ganharia 65% dos votos, enquanto Maduro ganharia 31%. Já a empresa de sondagens Meganalisis previu 65% dos votos para González e pouco menos de 14% para Maduro.

A votação foi pacífica?

O governo afirmou que, à excepção de alguns pequenos incidentes isolados, a votação decorreu de forma pacífica.

Os apoiantes do partido no poder, conhecidos como “colectivos”, que andavam de mota, entraram em confronto durante a noite com os apoiantes da oposição à porta da maior assembleia de voto do país, uma escola no centro de Caracas.

Foram registados colectivos armados em pelo menos seis outros locais, de acordo com uma ONG local, que também relatou a morte por arma de fogo de um homem no estado fronteiriço de Tachira durante um confronto com membros de colectivos.

A campanha tensa foi marcada por detenções de figuras da oposição e outras acções das autoridades que, segundo a oposição, se destinavam a impedir a realização de eleições justas.

Maduro, um antigo motorista de autocarro que foi escolhido como sucessor do seu mentor Hugo Chávez, está no poder desde a morte de Chávez em 2013.

O seu governo tem presidido a uma forte deterioração económica e social. Os EUA reimpuseram sanções petrolíferas em Abril, tendo acusado Maduro de renegar os acordos alcançados com a oposição para garantir eleições livres.

Quem é Edmundo González?

Membro da oposição há muito tempo, mas com pouca visibilidade, Edmundo González, antigo diplomata de 74 anos, é conhecido por ser uma pessoa calma.

Foi inicialmente registado como candidato suplente em Março, depois de nem a vencedora das primárias, Maria Corina Machado, nem o seu suplente terem conseguido registar-se. Em Abril, foi nomeado como o candidato definitivo da oposição.

Machado, de 56 anos, empenhou-se na campanha de González. Os dois, discursando para grandes multidões em todo o país, utilizaram uma retórica emocional, incluindo a esperança de que as muitas pessoas que emigraram da Venezuela nos últimos anos voltem para casa.

Quais foram as reacções internacionais?

Os Estados Unidos têm sérias preocupações quanto ao facto de os resultados anunciados pelas autoridades eleitorais não reflectirem os votos do povo, disse o secretário de Estado norte-americano Antony Blinken na segunda-feira, solicitando a publicação de um apuramento detalhado dos votos.

Entretanto, as reacções dos líderes da América Latina foram mistas.

O Presidente argentino Javier Milei qualificou o resultado oficial de fraude, enquanto a Costa Rica e o Peru rejeitaram-no e o Chile disse que não aceitaria qualquer resultado que não fosse verificável. Já Cuba, Honduras e Bolívia aplaudiram a vitória de Maduro.