Israel admite entrar numa “guerra total” com o Hezbollah depois de ataque nos Golã

Hezbollah desmente a autoria do disparo. Forças de Defesa de Israel dizem que o rocket que atingiu um jogo de futebol é “de fabrico iraniano, fabricado no Irão”.

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Funeral de dez das 12 crianças e adolescentes mortos na véspera durante um jogo de futebol nos Monte Golã ocupados Ammar Awad/Reuters
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Milhares de pessoas participaram este domingo no cortejo fúnebre de dez das 12 crianças e adolescentes mortos na véspera durante um jogo de futebol nos Monte Golã ocupados. Presentes no funeral, contrariando um pedido das famílias, estiveram vários membros do Governo de Benjamin Netanyahu, recebidos com gritos e apupos. No terreno, as Forças de Defesa de Israel (IDF) dizem ter lançado ataques aéreos contra sete alvos “muito dentro do território do Líbano e no Sul” do país, enquanto a diplomacia internacional tenta evitar uma escalada que arrisca provocar um maior envolvimento do Irão nesta guerra regional.

“Tirem-no daqui! Não o queremos aqui!”, foi com estes gritos que a multidão que se juntou para enterrar as vítimas da localidade de Majdal Shams, parte da região anexada à Síria, reagiu à presença do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, de extrema-direita, descreveu o diário The Times of Israel. “Não têm vergonha. Um rapaz saiu para jogar futebol e não voltou para casa”, gritou um homem dirigindo-se a dois ministros do Likud, o partido do primeiro-ministro. “Abandonaram-nos durante nove meses e agora estão aqui?”, vociferou à chegada dos ministros da Economia, Nir Barkat, e da Protecção Ambiental, Idit Silman.

Várias análises publicadas na imprensa israelita falam do ataque como mais “um falhanço” do Governo. Na terça-feira, a propósito do anúncio de que o arranque do ano lectivo seria adiado no Norte, um dos grandes rivais de Netanyahu, Benny Gantz, referia-se à situação na fronteira como “um fracasso colossal do Governo, resultante de um fracasso estratégico do primeiro-ministro”.

Gantz, que depois dos ataques do Hamas de 7 de Outubro aceitou integrar o (agora extinto) gabinete de guerra, recordou que um dos motivos para o abandonar foi precisamente de respostas ao que se passava na região: “Há meses, eu disse a Netanyahu que o maior desafio operacional está no Norte e exigi que os recursos fossem transferidos para lá, de forma a conseguir um acordo ou a preparar uma escalada”.

O disparo que Israel atribui à milícia libanesa Hezbollah – segundo as IDF, com um rocket “Falaq-1, de fabrico iraniano” – atingiu o campo de futebol localizado nas imediações de uma base militar, horas depois de o grupo libanês anunciar vários ataques na zona.

Mas o Hezbollah desmente a autoria do ataque e alguns media árabes e turcos admitem que o disparo fatal teria vindo do sistema de defesa aérea israelita. Washington diz que “tudo indica” que se tratasse de um rocket disparado pelo Hezbollah e o ministro dos Negócios Estrangeiros do Líbano, Abdallah Bou Habib, sugeriu, em declarações à BBC, “que podia ser um erro dos israelitas ou do Hezbollah”, apelando aos Estados Unidos para pressionarem Israel a mostrar contenção na resposta.

Alguns analistas consideram que se tratou de um ataque premeditado, que visava responder a um raide israelita que matou vários membros de uma célula do Hezbollah.

"Catástrofe inacreditável"

Num comunicado, a coordenadora especial da ONU para o Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert, e o comandante da UNIFIL (força internacional de manutenção de paz no país), Aroldo Lázaro, avisaram que uma intensificação dos ataques “poderia desencadear um conflito mais amplo que envolveria toda a região numa catástrofe inacreditável”. No Irão, o Ministério dos Negócios Estrangeiros apelou a Israel para evitar aquilo a que que chamou “uma nova aventura” no Líbano.

Depois de regressar dos Estados Unidos, e de dizer que o Hezbollah vai “pagar um preço elevado”, o primeiro-ministro israelita reúne esta tarde o seu gabinete de segurança. O ministro da Educação de Israel, Yoav Kisch, membro do Likud, de Netanyahu, afirmou esperar que o Governo responda “com toda a força” ao ataque, “mesmo que isso signifique entrar numa guerra total” com o Hezbollah.

“A roleta russa que Israel tem jogado no Norte cedeu sábado em Madjal Shams, quando o Hezbollah respondeu a um ataque israelita contra os seus operacionais”, escreveu Amos Harel, jornalista e especialista em assuntos militares e de defesa, numa análise intitulada “Israel e o Hezbollah estão mais perto do que nunca de uma guerra total” e publicada no jornal Haaretz.

Até este fim-de-semana, o conflito entre Israel e o grupo xiita, iniciado depois dos ataques do Hamas e da brutal resposta israelita contra a Faixa de Gaza, que levou 60 mil pessoas a deixar as suas casas no Norte de Israel, matou cerca de 20 militares israelitas e 12 civis. No Sul do Líbano, foram mortos pelo menos cem civis, incluindo três jornalistas, e perto de 400 membros do Hezbollah.

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