Quando a ópera sai à rua: Cavalleria Rusticana no Festival ao Largo
Uma versão de concerto com pujança para se aguentar ao ar livre, no Largo de São Carlos. Com um sabor a despedida: é a última ópera ali antes do fechar de portas do Teatro por mais de dois anos.
Quando a ópera sai à rua, há um efeito de dessacralização. O que é reservado passa a ser público, onde se espera silêncio surge ruído perturbador. Os sagrados da arte profanam-se. Quebram-se as convenções da sala e as distinções de classe (hoje é gratuito para todos), apesar de haver ainda uma hierarquização dos “melhores lugares” (para quem os apanhar). Quebra-se sobretudo a escuta concentrada e a atitude “devota” que vemos nos espectáculos de música clássica. O melómano frustra-se, porque na aparelhagem lá de casa tudo soa mais claro; o amante de ópera protesta, que não se sente o frissom da sala nem a real qualidade dos cantores; e o crítico desespera, porque não tem a certeza se foi fífia do naipe das cordas ou o chiar do eléctrico. Mas, apesar de tudo, não deixa de ser surpreendente como largas centenas de pessoas ali ficam (e muitas de pé!) um concerto inteiro. À espera que algo aconteça.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.