França: “Quando a esquerda ganha, é porque ela faz nascer a esperança”

“O PS está determinado a transformar as relações sociais para alcançar uma maior igualdade e um maior bem-estar para todos”, diz a sua porta-voz, Céline Hervieu

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O Partido Socialista insistiu em Olivier Faure, secretário-geral, como candidato a primeiro-ministro escolhido pela Nova Frente Popular. Philippe Wojazer
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Deputada eleita nas últimas legislativas e porta-voz do Partido Socialista (PS) francês, Céline Hervieu mostra-se satisfeita com os resultados obtidos pelo seu partido nessas eleições e sublinha o crescimento de 110% comparativamente à legislatura anterior. Foi esse aumento, e os 66 deputados na Assembleia Nacional, que justificaram a insistência na sugestão de Olivier Faure, o seu secretário-geral, como possível candidato comum da Nova Frente Popular (NFP) a primeiro-ministro.

Todavia, Faure não gerou consenso entre os partidos que formaram a coligação de esquerda e que foi o bloco mais votado nas eleições de 7 de Julho passado. Lucie Castets, que não pertence a nenhum dos partidos da NFP, foi o nome apresentado ao Presidente da República. Nesta entrevista, Céline Hervieu classifica o PS como um partido “resolutamente de esquerda” e “determinado a transformar as relações sociais, para alcançar uma maior igualdade e um maior bem-estar para todos”.

O Partido Socialista (PS) não aceitou o nome de Huguette Bello, presidente do Conselho Regional da ilha de Reunião, que os comunistas propuseram, por acharem ser um perfil próximo do partido França Insubmissa?
Huguette Bello tinha muitos argumentos a seu favor. É uma presidente respeitada da região da Reunião. No entanto, não conseguiu reunir consenso nem entre os socialistas nem entre os ecologistas.

O PS insistiu em Olivier Faure, o seu secretário-geral, como candidato ao lugar. Porquê?
O PS defendeu a ideia de que o partido líder da NFP poderia propor um nome para ser submetido à votação dos deputados da NFP. Após as eleições legislativas, o Partido Socialista não só dispunha de 66 deputados, como tinha crescido 110% em relação à legislatura anterior. Os socialistas tinham, portanto, todo o direito de nomear um socialista e Olivier Faure era um candidato que unia o partido.

Os resultados eleitorais do PS têm melhorado. Foi o que aconteceu nas eleições europeias e nas legislativas. A que é que acha que se deve essa recuperação, depois de décadas de governo e anos de afastamento?
A cultura política do Partido Socialista é o reformismo. Reformar é governar. Governar significa correr riscos. Corremos esse risco com François Mitterrand, corremos esse risco com Lionel Jospin e também o corremos com François Hollande. Quando a esquerda ganha, é porque ela fez nascer a esperança. Essa esperança traz consigo uma enorme responsabilidade política e, nas crises financeiras, e depois securitária, que atingiram os cinco anos de François Hollande, os socialistas não conseguiram satisfazer essa esperança.

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Deputada eleita nas últimas legislativas, Céline Hervieu é de opinião que os eleitores redescobriram a identidade do PS, "baseada na sua luta pela unidade da esquerda e dos seus valores". D.R.

Desde 2017, o Partido Socialista está na oposição. A oposição é necessária porque, quando Emmanuel Macron suprime o ISF [um imposto solidário sobre a riqueza a nível global, destinado à luta contra as alterações climáticas, que foi parcialmente eliminado em França], quando reduz a APL [ajuda personalizada à habitação], quando impõe a reforma aos 64 anos ou quando aprova uma lei de imigração com os Republicanos, está a seguir uma política de direita.

Para se opor a isso, o Partido Socialista está a trabalhar e a mostrar a sua coerência e seriedade. Desde 2017, o Partido Socialista também demonstrou a sua vocação unitária, quando decidiu trabalhar com toda a esquerda, o PCF (Partido Comunista Francês), o EELV (o partido ecologista) e o LFI (A França Insubmissa) nas eleições legislativas, bem como a sua singularidade, no seio da esquerda, quando defendeu uma Europa poderosa e social nas eleições europeias. Esta identidade redescoberta, baseada na sua luta pela unidade da esquerda e dos seus valores, fez com que um maior número dos nossos concidadãos, que se tinham afastado de nós, se identifiquem com as nossas propostas.

Como classificaria hoje o PS do ponto de vista ideológico?
O PS é resolutamente de esquerda. O PS está determinado a transformar as relações sociais para alcançar uma maior igualdade e um maior bem-estar para todos. Demonstra-o nas suas propostas nacionais, bem como nas autarquias locais que dirige. Isto significa defender o trabalho, aumentar os salários e defender melhores condições de trabalho. Significa, também, defender os nossos serviços públicos e uma fiscalidade mais justa. E significa mobilizar todos os nossos esforços para enfrentar a maior ameaça do nosso tempo, as alterações climáticas, que estão a atingir mais duramente os mais vulneráveis.

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