Caravelas-portuguesas e alforrecas podem estar a aumentar. Sábado é dia de as contar

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera promove neste sábado o Dia GelAvista, convidando os portugueses a comunicar avistamentos de gelatinosas nas praias onde estiverem.

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Caravela-portuguesa na praia de Faro, no Algarve Bruno Guerreiro/GettyImages
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O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) promove neste sábado mais uma edição de ciência cidadã com o Dia GelAvista, convidando os portugueses a comunicar avistamentos nas praias onde estiverem, para melhor compreender a situação em termos de organismos gelatinosos, como medusas ou caravelas-portuguesas. Os organismos gelatinosos como as caravelas-portuguesas, perigosos em caso de contacto, podem estar a aumentar devido aos efeitos das alterações climáticas.

Estes animais representam um dos maiores desafios no estudo do ambiente marinho, segundo o programa, que pede a participação dos cidadãos, através da aplicação GelAvista ou pelo email (plancton@ipma.pt).

"Queremos que as pessoas nos digam o que estão a ver por todo o país, e se a pessoa estiver numa praia e não encontrar nada, também pode dar essa informação", explicou Antonina dos Santos, investigadora e coordenadora do projecto, frisando que, na dúvida de que se trate ou não de uma gelatinosa, deve sempre enviar-se fotografia.

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Medusas na praia Elena Chertovskikh/GettyImages

Em entrevista à Lusa, a responsável explicou que essa informação, prolongada no tempo, é fundamental para perceber a evolução das gelatinosas no mar português. Porque, justificou, em várias regiões do mundo as gelatinosas estão a aumentar, e esse aumento, segundo os cientistas, deve-se às alterações climáticas e ao aumento da temperatura da água, uma relação que em Portugal não é clara, até porque não existem dados suficientes.

Tendo em conta as variabilidades do clima, "para fazermos a relação com as alterações climáticas precisamos de muitos dados", disse.

Águas mais quentes

As gelatinosas, segundo a investigadora, deverão aumentar porque se dão bem com altas temperaturas, com condições de anoxia (falta de oxigénio) e com escassez de alimentos. E quando outras espécies diminuem, devido, por exemplo, à pesca, as gelatinosas podem ocupar esse espaço deixado livre.

Estas espécies, avisou ainda, se tiverem condições, reproduzem-se rapidamente e em grande quantidade, e as alterações climáticas podem potenciar esse crescimento (em número e rapidez). O aumento de espécies já é preocupante em algumas regiões como o Árctico e o Mediterrâneo.

A investigadora salientou que os surtos de aumento são naturais e sempre ocorreram, mas acrescentou que, quando os humanos fazem pressão nos ecossistemas, podem provocar desequilíbrios e favorecer espécies, como as gelatinosas, levando-as a um aumento de tamanho e distribuição.

O que fazer em caso de contacto?

As caravelas-portuguesas são das gelatinosas mais perigosas para o ser humano em Portugal, já que além de provocarem dores intensas, e prolongadas, podem causar problemas cardíacos.

Antonina dos Santos explicou que, em caso de contacto, se deve evitar o pânico, lavar a zona afectada com água do mar, tirar cuidadosamente algum pedaço da gelatinosa que tenha ficado agarrado à pele e colocar uma compressa quente na zona da ferida. Não se deve tapar a ferida nem usar álcool.

A água-viva é outra gelatinosa comum no país, mais nos Açores e Madeira. Também provoca queimaduras ao contacto e no tratamento deve usar-se gelo. Especialmente no Algarve, surge por vezes a medusa-compasso, outra espécie urticante. Segundo a especialista, outras medusas são, por norma, menos urticantes, embora possam provocar ferida e dor.

O site GelAvista tem informação sobre todas as gelatinosas, e no sábado, em Almada, em Angra do Heroísmo e na Praia da Vitória, e no Funchal, sessões educativas e actividades para as famílias vão também prestar mais informação. Antonina dos Santos acrescenta ainda que muitos concelhos afixaram junto das praias informação sobre as gelatinosas.

O programa GelAvista monitoriza desde 2016 organismos gelatinosos em Portugal, incentivando os cidadãos a contribuir para o avanço da ciência através da comunicação (com data, local e hora) dos avistamentos das espécies que ocorrem no país.

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