Saúde: pelo menos 25% das poeiras que poluem a atmosfera são de origem humana

A degradação ambiental e as alterações climáticas potenciam os efeitos das actividades humanas nas tempestades de poeirasm alerta Organização Meteorológica Mundial.

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Poeiras vindas do deserto do Sara, no Norte de Africa, empurradas pela tempestade Celia, sobre a cidade de Lisboa, em 2022 Rui Gaudêncio
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A Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou esta sexta-feira para o impacto das actividades humanas na libertação de poeiras na atmosfera, cujas concentrações aumentaram em 2023 em certas zonas do planeta, como China e Mongólia.

"Temos de estar vigilantes face à contínua degradação ambiental e às alterações climáticas. Há provas científicas de que as actividades humanas estão a ter impacto nas tempestades de areia e poeiras. Por exemplo, temperaturas mais elevadas, secas e maior evaporação levam a que haja menos humidade do solo. Isto, combinado com a má gestão dos solos, provoca mais tempestades de areia e concentração de poeiras", advertiu, citada em comunicado, a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo.

Mais de 25% das emissões de poeiras a nível global estão relacionadas com actividades humanas, embora o Norte de África seja a origem de 55% das emissões globais, e apenas 8% das que vêm dali são antropogénicas. Já na Austrália, 75% das emissões de poeiras são de origem humana. Em grande parte, as tempestades de poeira e areia devem-se a "uma má gestão da água e da terra", insiste a OMM.

O relatório anual sobre poeiras foi divulgado nesta sexta-feira pela OMM, no Dia Internacional de Combate às Tempestades de Areia e Poeiras. Todos os anos, "cerca de 2000 milhões de toneladas de poeiras entram na atmosfera", diz esta agência das Nações Unidas. Esta quantidade de poeiras, empilhada e compactada, podia permitir erguer 307 pirâmides como a de Gizé, no Egipto, é adiantado.

As poeiras escurecem os céus, tingem a atmosfera de tons estranhos - alaranjado, por exemplo, como aconteceu em Abril, em Atenas - e afectam a qualidade do ar. Por vezes, viajam da origem até regiões que podem estar a milhares de quilómetros de distância. Pelo caminho, "afectam economias, ecossistemas, tempo e clima", diz a OMM. Mais de 330 milhões de pessoas são afectadas por tempestades de poeiras em todo o mundo, e a expectativa é que esse número aumente.

De acordo com o relatório hoje publicado, a média global de concentração de poeiras à superfície foi ligeiramente menor em 2023 do que em 2022. Mas aumentaram no Ocidente da Ásia Central, no Centro-Norte da China e no Sul da Mongólia face a 2022.

As concentrações médias de poeiras aumentaram em 2023 no oeste da Ásia Central, no Centro-Norte da China e no Sul da Mongólia face a 2022.

No ano passado, a tempestade de areia mais severa ocorreu em Março na Mongólia, atingindo uma área de mais de quatro milhões de metros quadrados, que incluiu 20 províncias da China. Em algumas zonas de Pequim, a visibilidade ficou reduzida a 500 metros, e houve significativas perturbações nos transportes e na vida diária dos cidadãos.

No hemisfério sul, as concentrações de poeiras alcançaram o nível mais alto em partes da Austrália Central e na costa Oeste da África do Sul.

De acordo com a OMM, as regiões mais vulneráveis ao transporte de poeiras de longa distância são o Norte do oceano Atlântico tropical, entre a África Ocidental e as Caraíbas, a América do Sul, o mar Mediterrâneo, o mar Arábico, a baía de Bengala e o Centro-Leste da China.

Em 2023, o pico anual estimado para a concentração média de poeiras registou-se em algumas áreas do Chade, país no Centro-Norte de África, abrangido pelo deserto do Sara.

No ano passado, em Agosto, uma nuvem de poeiras do Norte de África afectou a qualidade do ar em Portugal continental.

As poeiras com origem nesta região do globo voltaram já em 2024 a afectar Portugal, e com mais frequência, nos meses de Março, Abril e Junho.

Mas nem tudo é mau, segundo a Organização Meteorológica Mundial. A deposição de poeiras do Sara nas águas do Atlântico favorece o crescimento de fitoplâncton (algas microscópicas e cianobactérias), de que se alimentam peixes como o atum-bonito (Katsuwonus pelamis), que é a espécie de atum mais pescada em todo o mundo, cuja captura aumentou entre as décadas de 1950 e 2020.

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