Novas discussões para acordo em Gaza levam a optimismo cauteloso
Acordo poderia levar a pelo menos uma pausa de 42 dias nos confrontos e à libertação de alguns reféns numa primeira fase. Mas ainda há pontos difíceis a resolver.
Um acordo entre Israel e o Hamas para terminar a guerra na Faixa de Gaza parecia estar mais perto depois de cedências de ambos, com o diário norte-americano The Washington Post a afirmar que as linhas gerais do acordo estavam definidas, faltando negociar os detalhes da concretização, e que o Hamas já disse estar “pronto a ceder” o poder mediante “um acordo de governo interino”.
O site Axios, que tem seguido atentamente as negociações, também dizia que “responsáveis israelitas e dos Estados Unidos estavam cada vez mais optimistas sobre a possibilidade de um acordo”.
Por outro lado, o Hamas acusou Israel de apenas estar a “empatar” para ganhar tempo, cita a Reuters.
Segundo o colunista do Washington Post David Ignatius, citando fontes norte-americanas, são previstas três fases para a resolução do conflito. A primeira seria um cessar-fogo de seis semanas, em que o Hamas libertaria 33 reféns, incluindo todas as mulheres, todos os homens com mais de 50 anos e todos os que estiverem feridos, e Israel libertaria centenas de prisioneiros palestinianos das suas prisões, retirando o exército dos centros populacionais da Faixa de Gaza para a parte Leste, junto da fronteira. Nesta fase começaria ainda a ser entregue ajuda humanitária, seriam feitas reparações nos hospitais e iria começar uma limpeza de escombros.
É na passagem para a fase seguinte que está o maior ponto contencioso, já que os dois lados temem que o outro use a pausa anterior para rearmar e voltar a combater, diz Ignatius citando fontes dos EUA. Esta segunda fase veria a libertação pelo Hamas dos restantes reféns, ambos os lados concordariam com o “fim permanente das hostilidades” e Israel retiraria totalmente as suas forças da Faixa de Gaza.
Nessa segunda fase, a Faixa de Gaza não estaria sob poder nem de Israel nem do Hamas, com “a segurança a ser dada por uma força treinada pelos Estados Unidos e apoiada por aliados árabes moderados, e que seria sustentada num núcleo de cerca de 2500 pessoas que apoiam a Autoridade Palestiniana em Gaza, previamente aprovadas por Israel e que poderiam ser a autoridade interina.
Quem poderia ser esta autoridade interina tem sido um ponto especialmente problemático. A Autoridade Palestiniana teme ficar num papel delicado, podendo ser vista como colaboracionista, como já acontece na Cisjordânia, onde o Hamas ganhou grande popularidade por ter conseguido a libertação de prisioneiros no acordo do ano passado.
Há também relatos de potenciais soluções inovadoras para um ponto muito relevante para Israel, que é cortar a possibilidade de túneis ou pontos de passagem para contrabando do Hamas no Egipto, com os Estados Unidos a “mostrarem grande disponibilidade” para a construção de uma infra-estrutura que poderia ser um “muro” subterrâneo para detectar tentativas de construção de túneis e destruí-los em tempo real, segundo o Axios.
Responsáveis israelitas disseram estar dispostos a deixar o controlo do posto fronteiriço de Rafah desde que a responsabilidade não passasse a ser do Hamas.
Está ainda em aberto outro ponto complexo: a identidade dos prisioneiros a libertar, incluindo a possibilidade de Israel vetar alguns (na mente de muitas pessoas está que o líder do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, foi libertado entre um grupo de mais de mil prisioneiros em troca da libertação do soldado Gilad Shalit – acordo em que ele próprio foi um dos negociadores, com grande intransigência).
A juntar-se, no entanto, à possibilidade de optimismo, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, declarou num discurso na quarta-feira que, se houver um acordo entre Israel e o Hamas, o Hezbollah também vai parar de combater.
A chamada “frente Norte” em Israel, com ataques diários entre o movimento xiita libanês e as forças israelitas, está a ameaçar a cada dia tornar-se um confronto ainda maior e, a par da população deslocada por não poder voltar às suas comunidades atacadas no Sul, há uma parte da população do Norte também deslocada.
A guerra de Israel em Gaza causou mais de 38 mil mortes no território, segundo números do Ministério da Saúde do território, e provocou uma destruição em grande escala. Depois de uma operação em que o Exército israelita libertou quatro reféns numa acção militar que deixou mortos mais de 200 palestinianos, manter-se-ão em Gaza mais de 130 reféns, cerca de um quarto dos quais podem já estar mortos.