China condena declaração da NATO, acusando-a de usar “retórica beligerante”

Aliados da NATO denunciaram o apoio da China à Rússia na invasão da Ucrânia, apontando Pequim como um “facilitador da guerra”.

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O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, ao lado do Presidente dos EUA, Joe Biden, durante a cimeira da NATO em Washington Ken Cedeno / REUTERS
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A China criticou as acusações feitas pela NATO de que Pequim está a comportar-se como um “facilitador” da invasão russa da Ucrânia, acusando, por sua vez, a aliança atlântica de promover uma “retórica beligerante”.

As menções à China no comunicado divulgado pelo secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, no primeiro dia da cimeira em Washington parecem indicar um ponto de viragem na forma como os aliados encaram Pequim. Pela primeira vez todos os Estados-membros da aliança atlântica subscreveram a posição de Washington na denúncia forte e directa do apoio chinês à Rússia na Ucrânia.

“A China é um facilitador da guerra ilegal da Rússia contra a Ucrânia, através do fornecimento de bens de duplo uso e componentes que permitem a produção de bombas e mísseis”, afirmaram os líderes da NATO reunidos esta semana.

Desde o início da invasão russa que Pequim se tem posicionado como um actor neutro, chegando a apresentar-se como potencial mediador de um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia. No ano passado, o Governo chinês apresentou um esboço de um roteiro para um cessar-fogo que foi rapidamente descartado por Kiev e pelos seus aliados ocidentais por não condenar abertamente a agressão russa e por não referir a desocupação dos territórios ilegalmente anexados por Moscovo.

No mês passado, a China rejeitou marcar presença numa conferência de paz organizada pela Suíça, tendo apresentado uma iniciativa paralela em conjunto com o Brasil, em que se apela a negociações directas entre a Rússia e a Ucrânia.

No entanto, apesar de insistir na sua neutralidade, a China tem dado um apoio fundamental ao esforço de guerra russo, fornecendo chips, software e componentes essenciais para que a Rússia modernize a sua indústria de defesa. Em termos diplomáticos, o regime de Xi Jinping tem dado um apoio inabalável a Vladimir Putin, dando continuidade às promessas de “amizade sem limites” feitas nas vésperas da invasão da Ucrânia.

As declarações dos aliados da NATO foram mal recebidas em Pequim. O Ministério dos Negócios Estrangeiros disse que os membros da aliança estão a “exagerar” a responsabilidade da China na guerra da Ucrânia e que isso é feito com uma “intenção maliciosa”.

“Como todos sabemos, a China não é a criadora da crise na Ucrânia”, afirmou um porta-voz esta quinta-feira. “A declaração da cimeira da NATO em Washington está impregnada de mentalidade da Guerra Fria e de retórica beligerante, e o conteúdo relacionado com a China está cheio de provocações, mentiras, incitamentos e calúnias”, disse o mesmo responsável.

Apesar do recrudescimento ao nível retórico, a NATO mantém a distinção entre a Rússia e a China, definindo o primeiro como um adversário e o segundo como um desafio estratégico.

A NATO tem deixado claro que “a aliança discutir a China não se trata de empurrar a aliança para a região do Indo-Pacífico”, disse à Al-Jazeera a investigadora do Centro Europeu do Conselho Atlântico, um think tank ligado à NATO, Rachel Rizzo. “Não se trata de uma expansão dos teatros de operações da NATO, mas sim de responder ao teatro geográfico misturado que vemos ao redor do mundo actualmente”, acrescentou.

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