Novo Presidente do Irão promete “regresso da esperança e da alegria”
Masoud Pezeshkian, eleito na segunda volta das presidenciais contra um adversário ultraconservador, apresentou-se ao país como “os ouvidos e a voz dos marginalizados”.
O próximo Presidente do Irão, Masoud Pezeshkian, um reformista em comparação com o seu antecessor, Ebrahim Raisi agradeceu aos eleitores que lhe deram a vitória na segunda volta das presidenciais, na sexta-feira, e antecipou "o regresso da esperança e da alegria a um clima de insatisfação, sofrimento e melancolia".
Pezeshkian, um cirurgião cardiotorácico de 69 anos, que prometeu liderar um período de desanuviamento nas relações com o Ocidente e de maior abertura na sociedade iraniana, disse no seu discurso, na noite de sábado, que será "os ouvidos e a voz dos marginalizados".
"Vou estimular o diálogo, a convergência e o consenso nacional, por forma a enfrentar os problemas da sociedade na área social, mas também na economia, na cultura e na política", disse o Presidente eleito junto ao mausoléu do ayatollah Ruhollah Khomeini, o líder da revolução de 1979 e fundador da República Islâmica do Irão.
Segundo a agência de notícias oficial do Irão, a IRNA, Pezeshkian agradeceu ao actual líder supremo do país, o ayatollah Ali Khamenei, "pela abertura da eleição presidencial a uma campanha mais competitiva e saudável".
Masoud Pezeshkian, um candidato que era visto como um mal menor pelos críticos da linha dura — em comparação com o ultraconservador Saeed Jalili, apoiado por Khamenei —, venceu na segunda volta com 54,76% (16 milhões e 384 mil votos), contra 45,24% (13 milhões e 538 mil votos) do seu adversário.
A eleição de Pezeshkian foi confirmada neste domingo pelos 12 membros do poderoso Conselho dos Guardiões, que detém o poder de supervisão das eleições no país. Num comunicado citado pela IRNA, o porta-voz dos Guardiões, Hadi Tahan Nazif, disse que nenhum dos candidatos apresentou qualquer queixa referente aos resultados. O próximo passo é o envio dos certificados eleitorais para o supremo líder, que anunciará depois a data da tomada de posse.
Numa reacção aos resultados da eleição presidencial no Irão, o Departamento de Estado norte-americano disse, num comunicado, que o escrutínio "não foi livre, nem justo", numa referência à fraca participação, que rondou os 40% na primeira volta, a 28 de Junho, e os 50% na segunda volta.
"Não temos qualquer expectativa de que estas eleições conduzam a uma mudança fundamental na orientação do Irão, nem a um maior respeito pelos direitos humanos dos seus cidadãos", disse a Administração Biden.
Também neste domingo, o ayatollah Khamenei instou o novo Governo a seguir o exemplo do ex-Presidente Raisi, morto na queda de um helicóptero, em Maio.
Num encontro com o Presidente interino, Mohammad Mokhber, em que Khamenei não fez qualquer referência directa à eleição de Pezeshkian, segundo uma notícia da IRNA, o líder supremo do Irão disse que Raisi liderou "um Governo de trabalho e de esperança, em termos internos e externos".
"O mártir Raisi acreditava profundamente nas potencialidades do país e expressava com clareza os seus pontos de vista religiosos e revolucionários, ao mesmo tempo que trabalhava de forma incansável", disse Khamenei, que elogiou também "a lealdade e a capacidade de cumprir promessas" do ex-Presidente iraniano, "apesar dos problemas existentes e das críticas".
Além das promessas no sentido de uma postura menos conservadora, através de um aligeiramento das regras para o uso do hijab (lenço islâmico) — no centro da onda de protestos de 2022, motivada pela morte da jovem Jina Mahsa Amini —, Pezeshkian indicou que irá tentar baixar a tensão nas relações com o Ocidente, incluindo um novo olhar sobre o acordo nuclear internacional.
Em termos externos, a influência do Presidente do Irão estará limitada pelas decisões de Khamenei, tanto em relação a um possível regresso à mesa de negociações sobre o programa nuclear, como à gestão das relações entre o Irão e as milícias pró-iranianas no Líbano e na Faixa de Gaza.