No Euro, uma metade turca vale mais do que uma metade austríaca

Dois golos de Demiral desequilibraram um jogo decidido nas bolas paradas e no qual a Áustria sai com a sensação de que merecia um pouco mais. Artur Soares Dias passou pelo jogo sem sobressalto.

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Turquia e Áustria em duelo no Euro 2024 Lisi Niesner / REUTERS
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Não era suposto, pelo que as equipas já tinham mostrado no Euro 2024, mas vai ser a Turquia a estar nos quartos-de-final da prova, frente aos Países Baixos. O 2-1 frente à Áustria, nesta terça-feira, deixa os austríacos com sabor a pouco, já que não só exibiram um grande nível durante a prova como também o mostraram neste jogo.

Na primeira parte, o ligeiro domínio turco não foi tão evidente como o claro domínio austríaco na segunda. Mas o que conta ainda são os golos e, nesse domínio, a metade turca, até ao intervalo, valeu mais do que a metade austríaca, depois dele.

Ficou, ainda assim, mais uma demonstração de sagacidade táctica por parte de Ralf Rangnick, que teve claramente “dedo de treinador” na subida de nível da Áustria após o intervalo. E a equipa provou que tem nível para muito mais do que isto.

Mais Turquia

Em Lepzig, o jogo arbitrado por Artur Soares Dias começou praticamente com o golo da Turquia, aos 56 segundos, num lance algo confuso, com a bola a ser cortada perto da linha de baliza e a sobrar para a recarga de Demiral, central que já esteve ligado ao Sporting.

O golo desbloqueou os jogadores turcos, que jogaram sempre bastante leves e soltos, assentes numa linha de cinco defesas que era facilmente desmontada. Kaan, central pela direita, nunca teve pudor em sair da linha defensiva para ir “morder” os austríacos que tentavam receber entre linhas, sobretudo Sabitzer.

A posição do jogador do Galatasaray terá surpreendido a Áustria, que possivelmente esperava uma linha de quatro defesas no adversário. Para os austríacos, a solução poderia passar por atrair Kaan a Sabitzer e tentar que alguém rompesse no espaço pela zona deixada vaga por Kaan. Mas isso nunca aconteceu.

A equipa de Ralf Rangnick manteve os movimentos mais ou menos padronizados, tentando chamar ao jogo Sabitzer e Baumgartner pelas zonas interiores, sempre muito congestionadas – a ausência de Wimmer também não ajudou, já que seria um jogador capaz de esticar o jogo.

Além das referências de marcação bem definidas, a Turquia estava também a aplicar uma agressividade considerável nos duelos – também por isso ganharam tantas bolas divididas perante uns austríacos aparentemente mais macios.

No ataque, os turcos não tinham um verdadeiro avançado, com o craque Guler a passar pela posição, mas sem se dar à marcação. Ele e Baris deram soluções entre linhas e espalharam técnica individual, ajudando os turcos a prolongarem mais as posses de bola.

Mais Áustria

Ao intervalo, Rangnick colocou mais um avançado em campo, algo que impediria Kaan de sair com tanta avidez – e se o fizesse poderia haver problemas para os turcos, sobretudo se os austríacos tivessem mais mobilidade.

A Áustria regressou com indicações claras de jogar mais directo nos dois avançados, que muitas vezes eram três, todos na zona central, quando se juntava Sabitzer. Essa igualdade numérica forçada pelos austríacos ajudava a criar situações mais fáceis de triangulações, sobretudo quando Posh ou Prass se projectavam nas alas.

Em muitos momentos havia quase um 2x2x6 e isso trocou as referências todas à Turquia, que estava claramente perdida em campo.

A Áustria foi criando oportunidades por conta das trocas posicionais permanentes que vieram como ponto de honra após o intervalo – alterações tácticas e estratégicas que tiveram claramente dedo de treinador, conjugadas com muito mais nervo nos duelos, sobretudo os aéreos, nos quais a equipa ganhava primeiras e segundas bolas com os “tanques” da frente.

Arnautovic ficou duas vezes isolado e parecia uma questão de tempo até ao empate, tal era a supremacia austríaca. Certo? Errado. Aos 60’, mais um canto e mais um golo de Demiral, desta vez de cabeça ao primeiro poste, no meio dos dois centrais da Áustria – e nenhum é propriamente pequeno.

A Áustria reentrou no jogo pouco depois, em mais um golo de canto, com finalização de Gregoritsch. E fazia sentido. O que não fez sentido foi que a recuperação tivesse ficado por aí, em grande parte pela acção de Gunok, guarda-redes turco, com defesas tremendas. A Áustria vai para casa a saber que merecia muito mais.

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