Espanha não quer surpresas da outra Ibéria

Geórgia marcou em todos os jogos e vai desafiar a defesa mais segura da prova inspirando-se nos marroquinos.

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Os festejos do capitão da Geórgia, Guram Kashia, depois do jogo com Portugal Bernadett Szabo / REUTERS
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Ibéria foi o nome dado pelos antigos greco-romanos ao reino que floresceu no Cáucaso, entre os séculos IV a.C e V d.C, naquele que é hoje o território da Geórgia e que esteve na sua génese. Para alguns autores clássicos, esta seria a terra dos iberos orientais, por contraste com os ocidentais, que habitavam uma península a quatro mil quilómetros, no extremo oposto da Europa.

Parentes remotos ou não, há quem defenda que a enigmática origem do povo basco poderá passar pelo Cáucaso, justificando a hipótese com alguma proximidade linguística com o georgiano. O que a Espanha (ou Portugal) não tem definitivamente em comum com a modesta Geórgia é a dimensão futebolística internacional, ainda que os portugueses não a tenham comprovado na derrota por 2-0 frente à selecção da antiga ibéria oriental, na última partida da fase de grupos do Euro 2024.

Um aviso para os espanhóis, que defrontam esta noite (20h, SIC), em Colónia, a equipa caucasiana nos oitavos-de-final, com a memória ainda viva da síndrome marroquina no último mundial. Em 2022, no Qatar, a selecção do Magrebe eliminou a Espanha nos oitavos-de-final e Portugal nos quartos, contra todas as expectativas.

Após um histórico apuramento para uma fase final de uma grande competição, com a sobrevivência na fase de grupos carimbada com um triunfo sobre a equipa de Cristiano Ronaldo, a moral frente à Espanha será total. Isto apesar dos insucessos traumáticos recentes frente ao mais cotado adversário ibérico, que persegue um inédito quarto título na competição.

As duas selecções encontraram-se no apuramento para este mesmo Europeu, em Setembro e Novembro de 2023, e o saldo foi francamente negativo para os georgianos. Após uma enorme humilhação em Tbilissi, onde foi goleada por 7-1, a Geórgia perdeu também em Espanha, por 3-1.

Acabou por chegar ao Campeonato da Europa pela porta dos play-off, após derrotar o Luxemburgo (2-0) e a Grécia, nas grandes penalidades. Na Alemanha, começou em falso com uma derrota com a Turquia (3-1), mas somou o primeiro ponto no empate com a República Checa (1-1), antes de alcançar o mais alto patamar no seu futebol frente a Portugal. Marcou em todos os jogos e vai agora testar a única equipa que manteve a baliza inviolada durante os primeiros três encontros.

Se as probabilidades e as estatísticas não sorriem à Geórgia, sobram a confiança dos jogadores e a total fé dos adeptos que tem vindo em crescendo neste Europeu. As grandes exibições do guarda-redes Giorgi Mamardashvili (que alinha no Valência de Espanha) e o excelente momento de Khviche Kvaratskhelia, autor do primeiro golo contra Portugal, contribuem para aumentar as expectativas.

O dono das redes georgianas não quer conter este entusiasmo. “Para mim, a Espanha é a grande favorita para ganhar o Europeu. A Geórgia, pelo contrário, é um país pequeno, mas com grande coração. Temos de lutar ao máximo. Temos feito uma boa campanha e queremos desfrutar, lutar e competir”, sintetizou esta sexta-feira, na antevisão do encontro, onde considerou Kvaratskhelia “melhor que toda a Espanha”.

Para o sucesso da Geórgia tem-se destacado ainda o veterano defesa central Guram Kashia, de 36 anos, tanto para a segurança da sua baliza como na procura do golo nas redes adversárias, somando nove remates. Capitão da selecção, a sua saída da equipa chegou a ser exigida por alguns adeptos e dirigentes políticos há sete anos, após ter usado uma braçadeira da comunidade LGBTIQ+ durante um jogo pelo seu antigo clube, o Vitesse da Holanda.

Manteve-se firme com o apoio dos companheiros com quem partilha agora os momentos de maior glória do futebol georgiano.

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