Politécnico de Beja perdeu 50 mil euros em fraude informática

Instituto foi vítima de esquema semelhante ao que levou à demissão do presidente do Instituto de Gestão Financeira da Educação. Empresa a quem devia ter sido feito o pagamento avança para tribunal.

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Politécnico de Beja demorou seis meses a reconhecer burla Nuno Ferreira Santos (arquivo)
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O Instituto Politécnico de Beja (IPB) perdeu, no final do ano passado, mais de 50 mil euros depois de ter caído numa burla informática conhecida como fraude CEO. Aquela instituição de ensino superior recebeu um email a solicitar que o pagamento de duas facturas relativas aos serviços de limpeza fosse feito para uma conta bancária diferente da habitual. O pagamento foi feito sem verificar qual era o destinatário da conta. O caso foi entregue à Polícia Judiciária e ao Ministério Público. A empresa que prestava o serviço que acabou por ser usado na fraude vai levar o assunto para tribunal.

Em 2022 e 2023, a Futurévora foi responsável pela limpeza dos edifícios do IPB. No final do ano passado, a empresa solicitou o pagamento das duas últimas facturas desse serviço, relativas a Novembro e Dezembro. Na resposta, o politécnico informou que as mesmas já tinham sido liquidadas.

É certo que o dinheiro saiu da conta do politécnico, mas foi para a conta errada. A 20 de Dezembro, o IPB recebeu um email de um endereço comum (“dept.contabilidade@outlook.com”) pedindo para não efectuar o pagamento para “a conta antiga”. “Não é mais disponível”, lia-se. Foi para o IBAN indicado nessas mensagens que a transferência de 50.421,49 euros foi feita dias depois.

Foi o início de um périplo que pareceu “interminável” a Isidoro Tatá, gerente da firma. Escreveu à presidente e ao administrador do politécnico a 29 de Dezembro de 2023 e, novamente, a 15 de Janeiro e a 28 de Fevereiro já deste ano. O instituto nunca reconheceu a dívida. Já em Junho, escreveu ao conselho geral, órgão máximo da instituição, para expor o caso e avançou com um processo de injunção. Só aí, já no final da semana passada, o IPB saldou as facturas e reconheceu a burla.

O esquema em que o Politécnico de Beja caiu é em tudo semelhante àquele que levou à demissão do presidente do Instituto de Gestão Financeira da Educação (Igefe), José Manuel Matos Passos, na semana passada. O organismo público transferiu 2,5 milhões de euros — que acabariam por ser recuperados um dia depois — indevidamente para uma conta de terceiros, depois de ter recebido um email a solicitar a alteração do IBAN para o qual devia ser pago uma factura relativamente ao fornecimento de serviços informáticos.

Na ocasião, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação afirmou, em comunicado, que foi o “rápido reporte do Igefe às autoridades competentes” que estão a investigar o caso que “permitiu que todas as entidades envolvidas na operação, incluindo o sistema bancário, conseguissem recuperar as verbas” na manhã seguinte.

Pelo menos outras duas instituições de ensino superior do Sul do país foram vítimas de uma fraude semelhante nos últimos meses, apurou o PÚBLICO. Em ambos os casos, a verba — na casa das dezenas de milhares de euros — acabou por ser recuperada porque o sinal de alerta foi dado rapidamente às autoridades e ao sistema bancário.

No caso de Beja, o instituto politécnico só se apercebeu da situação, semanas volvidas, porque a empresa lhes disse que não tinham pagado as facturas, como reconhece a presidente da instituição, Maria de Fátima Carvalho. “Nós tínhamos transferido o dinheiro, achávamos que estava pago. Como esta é uma situação nova, demorámos a perceber o que se tinha passado”, justifica.

Caso vai para tribunal

A presidente do instituto ordenou um inquérito interno ao caso e denunciou-o junto do Ministério Público, nas últimas semanas. O caso já estava a ser investigado pela Polícia Judiciária desde o final do ano. A Futurévora fez a participação a 27 de Dezembro, depois de o seu gerente ter feito uma transferência Multibanco de 1 euro para a conta envolvida na burla e ter ficado a saber o nome da pessoa individual a que esta estava associada.

No final da semana passada, o IPB transferiu para a empresa Futurévora os mais de 50 mil euros devidos, aos quais foram acrescidos cerca de 3 mil euros relativos a juros. O pagamento foi feito no último dia em que o instituto politécnico podia fazê-lo, depois de a empresa ter entrado com um processo de injunção.

Esse pagamento “não é suficiente” para sanar o problema, afirma Isidoro Tatá, gerente da Futurévora. A firma teve prejuízos, nomeadamente com o atraso do pagamento do IVA daquelas facturas, por ter estado seis meses sem receber essa verba, alega. Por isso, vai avançar com um processo cível contra o Instituto Politécnico de Beja, a sua presidente e o administrador, Luís Soares. Estes responsáveis “não diligenciaram para resolver o problema” com a rapidez que lhe foi pedida, acusa.

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