Kunsthaus de Zurique remove da colecção cinco pinturas suspeitas de ligação aos nazis

Obras são de pintores como Monet, Van Gogh e Paul Gauguin. Colecção é de Emil Bührle, fabricante de armas que durante a Segunda Guerra Mundial vendeu muito material de guerra à Alemanha (e não só).

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O Jardim de Monet em Giverny é uma das pinturas em questão Claude Monet
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A Kunsthaus de Zurique, um dos mais prestigiados museus suíços, vai deixar de ter expostas cinco pinturas de grandes mestres (Claude Monet, Gustave Courbet, Henri de Toulouse-Lautrec, Paul Gauguin e Vincent van Gogh) de uma das suas colecções, seguindo novas directrizes internacionais sobre arte saqueada pelos nazis.

Uma sexta pintura da colecção de Emil Bührle também poderá vir a ser afectada, indicou, em comunicado, a fundação responsável pela gestão das obras acumuladas por este industrial e controverso fabricante e vendedor de armas alemão naturalizado suíço, que entre 1940 e 1944, segundo números apresentados pelo portal de notícias SwissInfo, vendeu à Alemanha material de guerra no valor de mais de 400 milhões de francos suíços (também manteve negócios com outras nações, incluindo a União Soviética).

As pinturas Retrato do Escultor Louis-Joseph (1863), de Gustave Courbet, O Jardim de Monet em Giverny (1895), de Claude Monet, Georges-Henri Manuel (1891), de Henri de Toulouse-Lautrec, A Torre Velha (1884), de Vincent van Gogh, e A Estrada para Cima (1884), de Paul Gauguin, serão retiradas do famoso Museu de Belas Artes de Zurique a 20 de Junho.

A Fundação Emil Bührle — que é ela mesma um museu e que a partir de 2021 passou a exibir muitas obras da colecção numa nova extensão da Kunsthaus de Zurique — explicou que tomou esta decisão depois de uma reavaliação da colecção, à luz das novas recomendações internacionais sobre a restituição de obras de arte saqueadas pelos nazis. Este documento, adoptado em Março último por mais de 20 países (incluindo a Suíça), permite "clarificar e melhorar a implementação" dos designados Princípios de Washington sobre Arte Confiscada pelos Nazis, dos quais Portugal é signatário.

Adoptadas em Dezembro de 1998 por 44 países, estas directrizes não vinculativas estabeleceram padrões para trabalhar no sentido da restituição de obras roubadas.

Após a publicação das novas directrizes há três meses, a Fundação Emil Bührle "identificou cinco obras do acervo" que poderão levantar questões, explicou. A fundação garantiu que está a fazer esforços "para encontrar soluções justas e equitativas com os descendentes ou herdeiros legais dos antigos proprietários".

A Kunsthaus de Zurique saudou a abordagem adoptada pela fundação, mas "lamenta profundamente, no interesse dos visitantes, que cinco das pinturas [da colecção] sejam removidas".

A sexta obra que a Fundação Emil Bührle considerou também dever ser objecto de especial atenção, ainda que não se enquadre nas novas directrizes, é The Sultana (1884), de Édouard Manet. A instituição diz estar "disposta a oferecer uma contribuição financeira aos herdeiros de Max Silberberg", dado o "trágico destino do antigo proprietário" da pintura — ​Silberberg, um coleccionador alemão de origem judia, morreu no campo de concentração de Auschwitz após ter visto os seus bens saqueados.

O Museu de Belas Artes de Zurique foi alvo de críticas depois de em 2021 ter inaugurado um imponente novo edifício destinado a abrigar o impressionante acervo de 170 obras de Emil Bührle. Para virar a página da polémica, a Kunsthaus recorreu a especialistas para reconstituir o percurso de algumas obras e apresentou no ano passado uma exposição focada na transparência. com PÚBLICO