É mais um protesto dos jovens chineses contra a falta de condições de trabalho e as longas jornadas laborais. Depois de irem trabalhar de pijama e fato de treino, roupas que habitualmente só usariam em casa, estudantes e profissionais recém-formados decidiram agora imitar pássaros enjaulados e, escreve a Dazed, cantar sobre a exploração laboral a que estão sujeitos desde os anos pós-pandemia de covi-19.
Apesar de ser ilegal segundo as leis laborais da China, é comum os funcionários trabalharem dez horas por dia, normalmente das 9h às 21h, e durante seis dias por semana. Ou seja, 72 horas por semana. São os chamados “horários 996”. Nos vídeos publicados no TikTok, empresa que também é acusada de horários abusivos, os jovens escondem os braços no interior das camisolas e empoleiram-se em vários objectos, desde grades de estacionamento à mobília da casa. “Não vás trabalhar, sê apenas um pássaro”, escrevem nas legendas, enquanto procuram emprego no pior mercado de trabalho para jovens de que há registo na China.
A revista acrescenta ainda que os chineses que nasceram entre 1995 e 2010 são considerados os mais pessimistas em relação ao futuro e os que mais criticam o Governo quando comparados às restantes gerações. Estão frustrados por não existir trabalho para todos nem terem capacidade financeira para comprar casa própria, o que originou a tendência “lying flat” (ficar quieto, em tradução livre). Resumindo: colocam os interesses pessoais e bem-estar em primeiro lugar, não ambicionam um emprego que lhes dê altos rendimentos, não se casam, não têm filhos, não compram casa.
Enquanto isso, Xi Jinping, Presidente da China, incentiva-os a “enfrentar as adversidades” e arregaçar as mangas. Mas incapazes de lidar com o horário 996, há jovens que optam por desistir dos cargos onde se formaram, como contabilidade ou programação, para fazerem outros trabalhos que não exigem formação académica.
Este ano, mais de 13 milhões de estudantes de ensino secundário inscreveram-se para fazer o “exame mais difícil do mundo” que dita o acesso à universidade. O que os espera depois é uma economia assente na indústria transformadora e desfasada das aspirações de quem conclui um grau superior em áreas populares como tecnologia, educação, imobiliário e finanças, descreve a Reuters.