Para os utilizadores, as medidas da Comissão Europeia “só trazem desvantagens”

“Uma oferta mais cara e menos diversificada.” É assim que a Associação de Utilizadores de Veículos Eléctricos avalia a deliberação europeia. Algumas marcas salientam a importância do comércio livre.

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A União Europeia passará a aplicar taxas de 17,4% à fabricante BYD. A Salvador Caetano, que importa a marca, escusa-se a comentar, mas reafirma o compromisso com a marca chinesa LEONHARD SIMON/Reuters
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A Comissão Europeia (CE) decidiu combater o que chama subvenções ilegais de Pequim à indústria automóvel chinesa de veículos 100% eléctricos (BEV, na sigla em inglês, de battery electric vehicle) com taxas adicionais à importação. De acordo com o comunicado divulgado, nesta quarta-feira, as alfândegas dos 27 Estados-membros poderão começar a aplicar, a partir de 4 de Julho e de forma provisória, direitos aduaneiros adicionais sobre os veículos chineses importados.

Aos três fabricantes que participaram na amostra da comissão durante a investigação, a União Europeia (UE) passará a aplicar taxas de 17,4% à fabricante BYD, de 20% à Geely e de 38,1% à SAIC.

No que diz respeito à BYD, a Salvador Caetano, que assegura a importação desta marca, assim como da Xpeng, prestes a estrear-se no mercado, e da vindoura Dongfeng (apurou o PÚBLICO), diz estar a estudar a decisão da CE, escusando-se para já a tecer comentários, excepto para reafirmar o compromisso com as marcas chinesas que decidiu representar.

Postura semelhante assumem as marcas detidas pela Geely e pela SAIC: a Volvo, como subsidiária, e por inerência a Polestar, mas também a Smart, actualmente resultado de uma joint-venture com a Mercedes-Benz, sendo os modelos do emblema produzidos na China; no caso da SAIC, a Maxus é importada pela Astara que, para já, também afirma estar a avaliar o tema. Do lado da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), Helder Pedro também afirma aguardar detalhes das decisões saídas da Comissão Europeia, nesta quarta-feira, destacando representar todas as marcas comercializadas, independentemente da sua origem.

Já a Volkswagen (VW), que tem participações em marcas como a Xpeng e outras da SAIC, deu a entender que este não é o melhor momento para a iniciativa proteccionista, considerando-a, em declarações à Automotive Logistics, “prejudicial para a actual fraca procura de veículos BEV na Alemanha e na Europa”. E elabora: “A Europa precisa de um ambiente regulamentar em que a indústria automóvel seja reforçada na transformação para a mobilidade eléctrica e a neutralidade climática; o Grupo VW aceita com confiança a crescente concorrência internacional, incluindo da China, e vê isso como uma oportunidade. Isto também beneficia os nossos clientes.”

Também a Stellantis, numa nota enviada às redacções, afirma “acreditar na concorrência livre e justa num ambiente de comércio mundial e não apoia medidas que contribuam para a fragmentação mundial”, adiantando que irá estudar o anúncio da CE, mas ressalvando que “o anúncio das tarifas de hoje não irá impedir a estratégia global no que diz respeito ao Leapmotor na Europa”.

A Leapmotor é uma startup chinesa fabricante de automóveis, com sede em Hangzhou, China, especializada no desenvolvimento de veículos eléctricos, com a qual a Stellantis criou a Leapmotor International, tendo o conglomerado uma posição dominante de 51%. A Leapmotor International foi anunciada em Maio, com as operações na Europa previstas para arrancar em Setembro e com planos de expansão para a Índia e Ásia-Pacífico, Médio Oriente, África e América do Sul a partir do quarto trimestre.

Do lado dos utilizadores, Henrique Sánchez​, presidente honorário da Associação de Utilizadores de Veículos Eléctricos (UVE), considera que as medidas anunciadas “só trazem desvantagens”, na medida em que resultam numa “oferta mais cara e menos diversificada”. E, para os condutores portugueses, com uma agravante, dado que ainda não foram atribuídos os incentivos à aquisição de BEV, depois de uma mudança de Governo e de uma alteração do pelouro da mobilidade do Ministério do Ambiente para o das Infra-Estruturas, isto apesar de o fundo que diz respeito aos incentivos se ter mantido na tutela do Ambiente.

Além do mais, avalia Henrique Sánchez​, perante o panorama internacional, de guerras e eventos climáticos extremos, como os que se observaram no Sul do Brasil, não faz sentido querer proteger a economia dos carros chineses, já que isso terá “impactos brutais na electrificação”, traduzindo-se numa ainda mais baixa procura de BEV, avaliados como essenciais para a redução de emissões de gases com efeito de estufa.

Uma posição corroborada pela VW: “Os direitos de compensação não são geralmente adequados para reforçar a competitividade da indústria automóvel europeia a longo prazo — rejeitamo-los”, disse um porta-voz do grupo à agência noticiosa alemã Deutsche Presse-Agentur, nesta quarta-feira, concluindo que “os efeitos negativos desta decisão ultrapassam quaisquer potenciais benefícios para a indústria automóvel europeia e, em particular, para a alemã”.

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