Meloni vence em Itália e pode tornar-se a voz da direita radical na UE

O partido que lidera ultrapassou a meta dos 26% das eleições gerais em 2022. Giorgia Meloni confirma o seu poder crescente em Bruxelas e em Roma, onde inflingiu uma dura derrota a Salvini.

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Giorgia Meloni excedeu os seus objectivos eleitorais Yara Nardi / REUTERS
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Giorgia Meloni venceu as eleições europeias em Itália, com mais quatro pontos percentuais do que o Partido Democrata, de centro-esquerda, segundo os dados disponíveis à meia-noite naquele que foi o último país a encerrar as mesas de voto na Europa.

Os Irmãos de Itália, partido da primeira-ministra, contavam com 27,7% dos votos, uma ligeira melhoria em relação às eleições gerais de 2022, em que atingiu 26% - a fasquia que Meloni almejava manter neste acto eleitoral -, mas uma subida exponencial face a 2019, quando obtiveram apenas 6,4% dos votos nas europeias. Na rede social X, Meloni salientou a subida do partido: “Os Irmãos de Itália confirmam-se como o principal partido italiano, superando o resultado das últimas eleições políticas”, escreveu, junto a uma foto em que fazia o sinal da vitória com a mão.

Na noite eleitoral, Giorgia Meloni – que é também a cabeça de lista do seu partido, embora não possa vir a assumir o lugar – foi a última a chegar à sede do partido de direita radical. Um toque cénico em linha com a aura que adquiriu nas últimas semanas a nível europeu, como uma personagem à margem da extrema-direita europeia, que critica Putin e vê o seu apoio disputado tanto por Ursula von der Leyen como por Marine Le Pen.

Num sinal de que conta com o seu apoio para ser reeleita, a presidente da Comissão Europeia já afirmou que tem trabalhado muito bem com Meloni. Por seu lado, Marine Le Pen, a grande vencedora das eleições europeias em França, sonha com a união – ou pelo menos uma grande coligação - dos dois grupos de direita radical no Parlamento Europeu, o Identidade e Democracia, a que pertence, e os Conservadores e Reformistas Europeus, onde se sentam os Irmãos de Itália.

Meloni governa em Roma com o partido de centro-direita Forza Italia, fundado pelo falecido Silvio Berlusconi, e a Liga, dois partidos que, de acordo com os resultados provisórios, ficaram-se pelos 10,5% no primeiro caso e os oito por cento do partido de Matteo Salvini. Assim, Meloni sai reforçada também no seio do Governo, infligindo uma pesada derrota a Salvini, que foi o grande vencedor das europeias de 2019 e ocupa o cargo de vice-primeiro-ministro.

Do lado da oposição, o Partido Democrata, que obtém perto dos 23,7%, alcança um bom resultado para a sua líder Elly Schlein, que assumiu o comando do partido em 2023 e tem tido dificuldades em impor a sua vontade à velha guarda. O PD obteve 19% nas eleições gerais em 2022 e Schlein estava ansiosa por melhorar esse resultado.

“É digno de nota que a cena política partidária mais estável da Europa é actualmente a italiana, com Meloni, e os seus rivais à volta de Schlein, a consolidarem a sua influência a nível interno, bem como no seio das respectivas famílias partidárias em Bruxelas”, comentou na rede social X (antigo Twitter) o professor de Ciência Política no King’s College (de Londres) Alexander Clarkson.

Já o especialista em populismo Cas Mudde notou ainda que, apesar da grande vitória de Meloni, “a direita radical não ganhou em grande em Itália”. Isto porque, explica, “o resultado combinado dos Irmãos de Itália e da Liga é sensivelmente o mesmo em 2024 e 2019”.

O outro principal partido da oposição, o Movimento 5 Estrelas, terá ficado com 11%, uma perda de apoio em comparação com os 15% de há dois anos.

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