Novos apelos para cessar-fogo, depois de “massacre” em operação que libertou reféns

Número de mortos continua a subir. Sendo pelo menos de 274 e já há mais de 600 feridos.

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Número de mortos em Gaza já superou os 200 REUTERS/Ramadan Abed
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As imagens do encontro dos quatro reféns israelitas com familiares no sábado contrastam com os números da tragédia no centro da Faixa de Gaza, que crescem com o passar das horas. O total de mortos e feridos que resulta da operação especial levada a cabo pelo Exército israelita no sábado continua a subir. O alto representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, Josep Borrell, diz que o que aconteceu no centro de Gaza foi um “massacre”, enquanto as Nações Unidas sublinham que o campo de refugiados de Nuseirat (onde decorreu a operação militar) é a prova de que os "civis continuam a sofrer em Gaza". Os EUA voltam a insistir num cessar-fogo.

Ao mesmo tempo que em Israel se celebrava o encontro dos reféns com as suas famílias, as imagens de Nuseirat, acompanhadas pelo crescente número de mortos, apontam para mais um dia trágico no enclave palestiniano. O Ministério da Saúde de Gaza actualizou, já neste domingo, para 274 o número de mortos e mais de 600 feridos, muitos deles mulheres e crianças, na sequência do ataque israelita ao campo de refugiados de Nuseirat. Espera-se que o número continue a aumentar, disse Medhat Abbas, um dos directores do ministério numa mensagem enviada pelo WhatsApp ao jornal The Washington Post. “Há casos críticos e um colapso na infra-estrutura médica”, disse o responsável.

Ainda no sábado, Josep Borrell tinha alertado para as consequências da operação militar desencadeada pelas Forças de Defesa de Israel no centro da Faixa de Gaza. "As notícias de Gaza sobre mais um massacre de civis são aterradoras. Condenamo-lo com toda a veemência", afirmou Borrell no X. "O banho de sangue tem de acabar imediatamente", reforçou.

Através da mesma plataforma, Martin Griffiths, subsecretário-geral das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários e coordenador da Ajuda de Emergência, disse que “o campo de refugiados de Nuseirat continua a ser o epicentro do trauma sísmico que os civis de Gaza continuam a sofrer”. “Ao vermos os corpos no chão, percebemos que em Gaza não há qualquer lugar seguro”, acrescentou.

Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Estado hebraico, Israel Katz, usou a plataforma X para apontar aos críticos. "O mundo admirou a coragem, a determinação e a capacidade da operação de Israel para libertar os reféns", disse neste domingo. "Apenas os inimigos de Israel se queixaram das baixas dos terroristas do Hamas e dos seus cúmplices, acusando Israel de crimes de guerra", acrescentou depois.

Da parte dos EUA, neste domingo, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse que "pessoas inocentes foram tragicamente mortas nesta operação. Não sabemos o número exacto, mas foram mortas pessoas inocentes", lamentou o norte-americano no programa Face the Nation, no canal CBS, onde insistiu na necessidade de um cessar-fogo: “De longe, a maneira mais eficaz, certa e correcta de libertar todos os reféns é conseguir um cessar-fogo abrangente sobre os reféns, tal como o Presidente Biden apresentou em público.”

O porta-voz militar israelita, Daniel Hagari, confirmou no sábado que dezenas de palestinianos tinham sido mortos. O responsável israelita avançou com um total de “menos de 100 mortes", sem conseguir garantir quantos eram civis, disse numa conferência de imprensa, pouco depois do anúncio da libertação de quatro reféns, levados para Gaza no ataque de 7 de Outubro, quando estavam no festival Nova de música electrónica, no deserto do Negev. A operação de salvamento foi a maior operação israelita desta guerra e permitiu o resgate de Noa Argamani, 26 anos, Almog Meir Jan, 21 anos, Andrey Kozlov, 27 anos, e Shlomi Ziv, 40 anos.

Hamas pode mudar estratégia com reféns

Segundo escreve o diário Haaretz, o gabinete de relações públicas do Hamas disse neste domingo que os soldados israelitas que participaram na operação de resgate de reféns entraram no campo de refugiados de Nuseirat com veículos civis, camuflados, fazendo-se passar por refugiados e palestinianos deslocados. De acordo com o gabinete, durante a operação, foram danificados 89 apartamentos e casas habitadas.

O grupo islamista, que no sábado tinha dito que o raide israelita havia feito mortos entre reféns — uma informação que não foi confirmada por Israel —, disse, já no domingo, em declarações à agência Reuters, que o total de vítimas mortais entre os reféns foi de três. Num vídeo publicado nas redes sociais, consultado pelo diário britânico The Guardian, o Hamas diz que entre as vítimas mortais estará um refém com nacionalidade norte-americana.

Ao início do dia, o porta-voz do Hamas, Abu Obaida, também voltou a afirmar que tinham sido mortos reféns durante a operação, sem fornecer qualquer prova para essa informação, advertindo ainda que as condições iriam piorar para os restantes prisioneiros após o ataque. “A operação representará um grande perigo para os prisioneiros e terá um impacto negativo nas suas condições”, escreveu o porta-voz Abu Obaida no Telegram, segundo a AFP.

“O Hamas vai tentar tirar ilações da operação e tomar mais precauções para manter os reféns inacessíveis", disse Avi Kalo, um tenente-coronel israelita na reserva e antigo chefe do departamento de informações militares dedicado aos soldados desaparecidos em combate, ao jornal The New York Times.

O especialista admite, por exemplo, a possibilidade de o grupo islamista transferir os reféns que ainda estão em apartamentos civis, como os que albergavam os quatro que foram libertados no sábado, para complexos com condições mais duras em túneis subterrâneos, onde será mais difícil chegar até eles. Ainda assim, Avi Kalo diz ao diário norte-americano que a operação de resgate não representa um ponto de viragem para o Hamas, uma vez que o grupo ainda tem muitos reféns. “Quatro a menos não é algo que mude radicalmente a realidade”, acrescentou.

Israel continua operações no centro de Gaza

Depois das operações desencadeadas no sábado, neste domingo, Israel, segundo escreve a agência Reuters, voltou a realizar ataques aéreos em residências na cidade de Deir Al-Balah e no campo de refugiados de Al-Bureij, matando pelo menos três pessoas em cada uma das localidades, enquanto tanques bombardearam partes do campo de refugiados de Nuseirat e de Al-Maghazi, disseram médicos à agência de notícias britânica.

Os militares israelitas confirmaram num comunicado que as suas forças continuavam as operações no centro da Faixa de Gaza, matando elementos do Hamas e destruindo as infra-estruturas do grupo islamista.

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