Biden evoca coragem do Dia D para apelar à defesa da democracia em 2024

Num discurso na Normandia, o Presidente dos Estados Unidos usou o exemplo dos soldados norte-americanos na Segunda Guerra Mundial para sublinhar as ameaças à democracia nos tempos actuais.

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Joe Biden cumprimenta um veterano norte-americano da Segunda Guerra Mundial, John Wardell Elizabeth Frantz / REUTERS
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A Pointe du Hoc, no Norte de França, a falésia tomada há oito décadas pelos homens do 2.º Batalhão dos rangers norte-americanos durante o Desembarque na Normandia, foi o palco escolhido por Joe Biden, nesta sexta-feira, para lançar novos avisos sobre as ameaças à democracia na Europa e nos Estados Unidos.

O simbolismo do local — um promontório com 30 metros de altura, entre as praias de Omaha e Utah, na costa noroeste da Normandia — teve um duplo objectivo: sugerir um paralelismo entre o expansionismo nazi nas décadas de 1930 e 1940 e a invasão da Ucrânia pela Rússia; e evocar a figura de Ronald Reagan, em ano de eleição presidencial nos EUA, como um exemplo do afastamento entre os conservadores do passado e a corrente isolacionista que se impôs no Partido Republicano pela mão de Donald Trump.

Foi na Pointe du Hoc, há 40 anos, que Reagan proferiu um dos discursos mais marcantes da sua presidência — e um dos melhores discursos de sempre de um Presidente dos EUA, segundo vários historiadores —, numa altura em que também enfrentava uma corrida à reeleição para a Casa Branca.

Ao contrário do que acontece hoje com Biden, Reagan era já o favorito à vitória na eleição de 1984 quando discursou na Normandia, mas o impacto das suas palavras contribuíram para uma duplicação quase imediata da distância nas sondagens em relação ao seu adversário da altura, o democrata Walter Mondale.

Quatro décadas depois, ninguém esperava que o discurso do Presidente dos EUA, um dia depois das comemorações oficiais do 80.º aniversário do Desembarque na Normandia, fosse capaz de levar Biden a descolar de Trump nas sondagens, mas também não era esse o objectivo da Casa Branca.

Através do elogio à coragem e ao altruísmo dos 225 rangers envolvidos na captura da Pointe du Hoc — e aos 90 que sobreviveram à operação, depois de uma escalada de 30 metros e após dois dias de combates no topo do rochedo —, Biden quis pôr em evidência aquilo que o distingue de Trump em termos de liderança internacional, num discurso preparado para ser visto em directo a meio da manhã nos Estados Unidos.

"Caros compatriotas, recuso-me a acreditar que a grandeza da América é uma coisa do passado", disse Biden, numa referência ao principal slogan de Trump, Make America Great Again (tornar a América grande outra vez).

Sempre com o exemplo dos rangers como pano de fundo, o Presidente dos EUA voltou a fazer um paralelismo entre a situação na Europa e nos EUA nas décadas de 1930 e 1940 e a situação actual nos dois lados do Atlântico, com referências a Vladimir Putin e a Donald Trump.

"Eles desembarcaram [nas praias da Normandia] ao lado dos seus aliados. Alguém acredita que estes rangers quereriam que a América estivesse sozinha agora? Eles combateram para derrotar uma ideologia de ódio nos anos 30 e 40. Alguém duvida de que voltariam a mover céu e terra para derrotar as ideologias de ódio dos tempos actuais?"

Apontando especificamente a Trump, o Presidente dos EUA voltou a dizer, tal como o fez na quinta-feira, no seu discurso oficial das comemorações do Desembarque na Normandia, que a democracia não é um dado adquirido.

"O instinto mais natural é ser-se egoísta, vergar os outros à nossa vontade, conquistar o poder e nunca mais o largar", disse Biden.

Horas antes do discurso, o Presidente dos EUA encontrou-se com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Paris, para reafirmar o compromisso da Casa Branca com a defesa do país em face da invasão russa.

Em declarações públicas à entrada para a reunião, Biden pediu desculpa a Zelensky pelo atraso na aprovação de um novo pacote de assistência militar à Ucrânia, no valor de 61 mil milhões de dólares (56 mil milhões de euros), que teve luz verde em finais de Abril, após seis meses de bloqueio pela ala radical do Partido Republicano na Câmara dos Representantes.

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