Ucranianos em Portugal: “Zelensky conseguiu mobilizar a nossa nação. Vim apoiá-lo”

Longe do seu país, alguns com familiares na linha da frente, vários ucranianos foram demonstrar o seu apoio a Volodymyr Zelensky em frente ao Palácio de Belém, onde Marcelo Rebelo de Sousa o recebeu.

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Manifestação de apoio a Zelensky em Belém MANUEL DE ALMEIDA/Lusa
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A primeira coisa que Inna Kushmyruk faz quando acorda é dar os “bons dias” aos seus familiares ucranianos no grupo que têm numa plataforma online. A última é desejar as “boas noites”. Quando alguém do grupo não o faz, é mau sinal: “É obrigatório dar os bons dias e as boas noites! Só assim sabemos quem está vivo.” A ucraniana está há 20 anos em Portugal, mas agora sempre com o coração no país onde nasceu, por causa da guerra: “Já perdi família lá...” Com a voz tremida, conta que já perdeu um genro na guerra e que um dos seus irmãos está internado. Um outro irmão está desde o início do conflito a combater.

A guerra na Ucrânia separou a sua família – há quem esteja na Ucrânia, na Alemanha ou quem tenha vindo para Portugal, como foi o caso da sua mãe, que tem 78 anos. Esta terça-feira, decidiu vir à manifestação organizada pela Associação dos Ucranianos em Portugal, à margem da visita de Volodymyr Zelensky a Portugal. Enquanto Inna e cerca de uma centena de outras pessoas erguiam bandeiras ucranianas e cantavam o seu hino nacional em frente ao Palácio de Belém, Zelensky reunia-se com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

“A guerra não pode continuar. O mundo tem de unir-se para que acabe”, apelou Inna, deixando palavras de apoio a Zelensky. Ao lado de Inna, o casal de ucranianos Natalia Kryvytska, de 25 anos, e Rostyslav Bortman, de 28 anos, também apelou à paz e à mobilização de todos. “Sem a ajuda de todo o mundo não vamos conseguir. Por favor, ajudem a Ucrânia”, pediu Rostyslav.

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Casal ucraniano que veio para Portugal por causa da guerra: Natalia Kryvytska e Rostyslav Bortman DR

Os dois refugiados ucranianos chegaram a Portugal em 2022, mas todos os dias sentem a falta do seu país. “A adaptação não foi fácil. São países muito diferentes”, conta ela, proveniente de Kiev. “Sinto uma ansiedade constante pela minha família que está na Ucrânia.” As mensagens pela plataforma Telegram e as chamadas telefónicas são constantes, mas não chegam – Natalia só fica descansada quando souber que o seu país está em paz.

Rostyslav é da região de Donetsk e tem gostado tanto de viver em Portugal que já planeia a sua vida aqui num prazo mais alargado, mas por agora o seu maior desejo é também a paz para a Ucrânia: “Todos se devem manifestar para que a Ucrânia vença.” Foi por isso que veio a Belém: para apoiar Zelensky, que considera “o melhor Presidente da Ucrânia”.

Cem mil ucranianos em Portugal

Ao final da tarde desta terça-feira, em Belém, foram cerca de uma centena os ucranianos – tanto os que já nasceram em Portugal, como os que estão há vários anos no país ou os que vieram por causa da guerra – e até os portugueses que ergueram bandeiras da Ucrânia, tal como algumas de Portugal e da União Europeia. Marcaram também presença elementos do partido pan-europeu Volt. Durante cerca de uma hora, cantou-se o hino ucraniano e levantaram-se cartazes onde se lia, em inglês, “Support Ukraine [Apoie a Ucrânia]” ou “Russia Terrorist State [Rússia Estado Terrorista]”.

“Viemos mostrar ao nosso Presidente que a comunidade ucraniana em Portugal está com ele”, afirmou Mykola Shymonyak, vice-presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, que está em Portugal há vários anos. “Também quisemos agradecer ao povo português a forma como acolheram os refugiados ucranianos.” A comunidade ucraniana é uma das maiores de origem estrangeira em Portugal: estima-se que sejam cerca de 100 mil, de acordo com dados indicados pela agência Lusa.

Romario Malyy já nasceu em Portugal, mas nem por isso tem vivido com menos tristeza o que está a acontecer na Ucrânia. “Tenho família lá e a guerra não me é indiferente”, assinala o estudante de 20 anos. Já se tornou uma rotina ver todos os dias de manhã as últimas notícias sobre a guerra. Decidiu vir à manifestação porque sente o dever de apoiar a Ucrânia e o seu Presidente. “Zelensky foi a pessoa que conseguiu mobilizar a nossa nação e fazer com que conseguíssemos resistir à invasão da Rússia. Vim apoiá-lo”, diz, acrescentando que a “Ucrânia não está a lutar só por si mas por toda a Europa”.

De bandeira aos ombros, as amigas Vica e Natalia vieram também mostrar o seu apoio a Zelensky. “É um homem de força. Se não fosse ele, se calhar, o Putin chegava aqui”, diz Vica. Se ela já está em Portugal há 24 anos, Natalia chegou há pouco mais de dois por causa da guerra. As duas estão unidas pela saudade e tristeza que sentem pela família que têm na Ucrânia. Vica tem lá o marido de 49 anos, que está a ajudar as tropas ucranianas, e Natalia tem um filho a combater. Assim que tenta falar dele, faltam-lhe as palavras e emociona-se: “Só quero a paz para a Ucrânia e para o mundo todo.”

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