BdP receia que taxas de juro elevadas possam reduzir preço do imobiliário

O nível de endividamento das famílias melhorou, “mas contexto geopolítico de conflitualidade e o novo ciclo político em países relevantes poderão impactar a actividade económica”.

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O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, vê maior solidez financeira das famílias JOSÉ SENA GOULÃO / LUSA
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O Banco de Portugal (BdP) mostra-se preocupado com os efeitos que “um cenário de prolongamento da restritividade de política monetária e de agravamento das condições económicas” possam ter “na redução dos preços no mercado imobiliário, por via do seu impacto sobre a procura”. Esta preocupação é manifestada no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) de Maio, divulgado nesta terça-feira pelo supervisor, que assinala como positiva a reduzida exposição do sector financeiro a empréstimos à habitação com rácios entre garantia e financiamento elevados.

“Um cenário de prolongamento da restritividade de política monetária e de agravamento das condições económicas poderá também originar uma redução dos preços no mercado imobiliário, por via do seu impacto sobre a procura”, destaca o REF, salvaguardando, no entanto, que “a percentagem da carteira de crédito à habitação dos bancos que têm rácios loan-to-value (LTV) elevados é reduzida, o que diminui o impacto de uma potencial descida dos preços deste mercado”, lê-se no documento divulgado pelo BdP.

Do lado das famílias, o BdP destaca que também registaram uma redução no rácio de endividamento, "seguindo a tendência observada desde 2010”, situando-se actualmente em cerca de 3%, um nível que beneficiou da robustez do mercado de trabalho e do aumento do rendimento disponível real.

Relativamente ao país, o BdP destaca que, no último semestre, observou-se uma redução das vulnerabilidades, em resultado da melhoria das condições económicas”, perspectivando que “a inflação prossiga a trajectória de redução e o crescimento económico em Portugal se mantenha positivo e superior ao da área do euro”.

Ainda assim, salienta, "destaca-se um cenário de maior incerteza no processo de decisão política, no quadro de um novo modelo de regras orçamentais europeias, que colocarão novos desafios à condução da política orçamental", pode ler-se no REF, "perspectivando-se que a inflação prossiga a trajectória de redução e o crescimento económico em Portugal se mantenha positivo e superior ao da área do euro".

Em termos globais, há sinais preocupantes decorrentes “das consequências que as tensões geopolíticas e o prolongamento da restritividade das condições monetárias possam ter na actividade económica”. E ainda no plano internacional, é destacado que “o contexto geopolítico tenso, com a manutenção dos conflitos militares na Ucrânia e no Médio Oriente, condiciona os fluxos de comércio internacional e impacta a actividade económica. Assumem especial relevância as considerações de segurança estratégica”, e também “o risco de que o ajustamento em curso do mercado imobiliário na China possa ter impacto negativo mais pronunciado na sua economia, com repercussões para a economia global”.

Relativamente ao sector bancário português, o REF destaca a melhoria da sua situação, “caracterizada por níveis de capital, de liquidez e de rendibilidade mais elevados”, acrescentando que “foi uma fonte de estabilidade, contribuindo para garantir a regularidade do financiamento da economia”.

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