BCE sinaliza descida dos juros na próxima semana

“A não ser que haja grandes surpresas, nesta altura achamos que há condições para remover o nível máximo de restrição”, revelou o economista-chefe do BCE, Philip Lane, ao Financial Times.

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A presidente do BCE, Christine Lagarde RONALD WITTEK
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O economista chefe do Banco Central Europeu (BCE), Philip Lane, considera que a instituição foi bem-sucedida na condução da política monetária da zona euro, contribuindo para a “descida atempada” da inflação, o que torna possível um movimento de descida dos juros já na próxima reunião de 6 de Junho.

Os investidores estão a apostar que o BCE irá baixar a taxa de juro de referência em um quarto de ponto percentual (em relação ao máximo histórico de 4%), na reunião da próxima semana, algo que foi confirmado pelo ex-governador do banco central da Irlanda, Philip Lane em entrevista ao Financial Times (FT).

“A não ser que haja grandes surpresas, nesta altura achamos que há condições para remover o nível máximo de restrição”, afirmou Lane,

De acordo com o FT, enquanto os bancos centrais da Suíça, Suécia, República Checa e Hungria já começaram a baixar juros, outros, como a Reserva Federal norte-americana (Fed) ou o Banco de Inglaterra, não deverão reduzir as taxas no imediato e alguns, como o do Japão, provavelmente continuarão a subi-las.

O BCE, que foi fortemente criticado por ser um dos últimos a iniciar o movimento de aumento dos juros enquanto os preços subiam em consequência das disrupções causadas pela crise pandémica e pela agressão russa à Ucrânia, vê agora, com a estabilização da inflação na zona euro nos 2,4% em Abril, condições para algum alívio nos juros.

“Em termos do primeiro passo, [começar a reduzir as taxas] é um sinal de que a política monetária está a dar resultados, garantindo que a inflação desce de forma atempada. Nesse sentido, penso que fomos bem-sucedidos”, afirmou o economista, que é responsável por redigir e apresentar a proposta de decisão sobre as taxas antes de esta ser decidida pelos 26 membros do Conselho do BCE.

O responsável sublinhou que, se o banco central não tivesse mantido as taxas em território restritivo neste ano, para garantir o abrandamento da inflação para os dois por cento (tal como determina o mandato do BCE), isso teria sido “muito problemático e provavelmente muito doloroso de eliminar”.

A inflação da zona euro caiu de mais de dez por cento no seu pico, em 2022, para um mínimo de quase três anos, de 2,4% em Abril, mas espera-se que suba para 2,5% quando os dados de Maio forem divulgados nesta semana.

Lane sublinhou que o ritmo a que o custo dos empréstimos irá baixar nos próximos meses será “gradual” e em função da “avaliação dos dados”, para decidir “se é proporcional, se é seguro” descer. “A melhor forma de enquadrar o debate deste ano é que continuamos a precisar de ser restritivos durante todo o ano”, acrescentou. “Mas, dentro da zona de restritividade, podemos descer um pouco, completou.

O economista afirmou também que a “pressão ainda significativa sobre os custos”, resultante do rápido crescimento dos salários, que faz subir os preços dos serviços, significa que o BCE terá de manter uma política restritiva até 2025.

“No próximo ano, com a inflação a aproximar-se visivelmente do objectivo, garantir que a taxa de juro desce para um nível compatível com esse objectivo será um debate diferente”, acrescentou.

O antigo banqueiro central explicou que uma das principais razões pelas quais a inflação caiu mais rapidamente na zona euro do que nos EUA foi o facto de a região ter sido mais atingida pelo choque energético provocado pela invasão da Ucrânia pela Rússia. A crise foi, entretanto, atenuada pelas medidas tomadas a nível dos diversos Estados-membros e por uma normalização do funcionamento dos mercados energéticos, nomeadamente o do gás natural.

Philip Lane também afastou receios quanto ao impacto das descidas na zona euro na estabilidade do euro. Segundo o FT, alguns analistas consideram que se o BCE divergir da Reserva Federal (Fed), cortando as taxas de forma mais agressiva, isso poderá provocar a desvalorização do euro e impulsionar a inflação, aumentando o preço das importações para o espaço europeu.

O economista-chefe do BCE garantiu que o banco central terá em consideração qualquer movimento “significativo” da taxa de câmbio, embora tenha salientado que “tem havido muito poucos movimentos” nesse sentido.

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