Alemanha admitir que pode prender e deportar Netanyahu é “um ultraje” para Israel

Chanceler alemão sublinha que quando decidirem sobre a emissão dos mandados, os juízes do TPI “devem ter em conta que Israel é um Estado democrático”.

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Olaf Scholz tentou acalmar a polémica, sublinhando que "Israel é um Estado democrático" HANNIBAL HANSCHKE / EPA
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Ao contrário dos Estados Unidos, que classificaram como “vergonhoso” o pedido de mandados de captura para Benjamin Netanyahu e para o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra, feito pelo procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) – que também pediu mandados para vários líderes do Hamas –, alguns países europeus tiveram uma reacção mais cuidadosa. Um porta-voz do Governo alemão, Steffen Hebestreit, afirmou mesmo que Berlim poderia prender o primeiro-ministro israelita. A resposta não se fez esperar, com um porta-voz de Netanyahu a afirmar que a Alemanha precisa de “verificar a sua bússola moral e pôr-se do lado certo da história”.

“Tenho idade suficiente para me lembrar do líder alemão que veio aqui dias depois [dos ataques do Hamas] de 7 de Outubro e declarou que o Hamas são os novos nazis”, disse o porta-voz do Governo israelita, Avi Hyman, numa entrevista à televisão norte-americana Fox News, na quinta-feira à noite (Netanyahu, e não Olaf Scholz, disse que "o Hamas são os novos nazis”, numa conferência de imprensa durante a visita do chanceler a Israel, a 17 de Outubro).

Esta sexta-feira, Scholz fez um esforço para enterrar a polémica, lembrando que os mandados ainda não existem e que será “uma câmara de juízes" a decidir. Ao fazê-lo, defendeu ainda Scholz, os juízes "devem ter em conta que Israel é um Estado democrático com um sistema judicial forte e independente".

A primeira reacção da Alemanha ao anúncio do procurador, Karim Khan, foi do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que notou que o país “sempre apoiou” o TPI, que considera o tribunal “uma conquista fundamental da comunidade internacional” e que “respeita a sua independência e os seus procedimentos” – o que deixará Berlim numa posição difícil caso os mandados sejam mesmo emitidos (se os juízes considerarem que Israel está a realizar a sua própria investigação de uma forma credível, podem negar o pedido).

No mesmo comunicado, o MNE lamentava a “falsa impressão de uma equação” entre o Hamas e Israel dada por Khan ao pedir, em simultâneo, a prisão de Netanyahu, Gantz e a de três líderes do Hamas (o chefe do movimento islamista em Gaza, Yahya Sinwar, o comandante da ala militar, Mohammed Deif, e o responsável máximo do bureau político, Ismail Haniyeh, que vive no Qatar).

Em seguida, numa conferência de imprensa, Steffen Hebestreit foi questionado sobre se o Governo alemão tenciona reconhecer e fazer cumprir a decisão do TPI. “A forma como colocou a questão, de uma forma tão bonita, é uma questão hipotética, por isso vou dar um passo atrás e dizer: Em princípio, somos apoiantes do TPI e assim continuaremos”, respondeu o porta-voz. Só que o jornalista repetiu a pergunta, insistindo em saber se a Alemanha poderia prender e extraditar Netanyahu. “Pensei que tinha respondido à pergunta, mas caso contrário, se ainda tiver dúvidas: Claro que sim... Nós respeitamos a lei e o direito”, afirmou Hebestreit.

“Isto é um ultraje!”, escreveu pouco depois o embaixador de Israel na Alemanha, Ron Prosor, na rede social X (antigo Twitter). “A declaração pública de que Israel tem o direito à autodefesa perde credibilidade se as nossas mãos forem atadas assim que nos defendermos”, defendeu. Para Prosor, a "Staatsräson" (motivo ou razão de Estado) da Alemanha – termo que se refere ao compromisso de garantir a segurança de Israel como uma raison d’État do país europeu – está "a ser posta à prova".

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