“A hasta pública mais rápida do país”: FC Porto com academia na Maia em risco

Vereador socialista acusa autarquia de comunicar alienação de terrenos antes de reunião da Assembleia Municipal. Oposição convocará reunião extraordinária e denunciará situação às autoridades.

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Academia do FC Porto na Maia é projecto de Pinto da Costa José Coelho
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A construção da futura academia do FC Porto na Maia poderá estar em risco, depois de serem levantadas dúvidas sobre a comunicação da venda de terrenos públicos ao clube “azul e branco”. A notícia foi avançada pelo Expresso e confirmada pelo PÚBLICO junto de Francisco Vieira de Carvalho, vereador do Partido Socialista (PS) da Câmara Municipal da Maia. O responsável acusa a autarquia de não esperar pelo resultado da Assembleia Municipal para comunicar a aprovação da hasta pública, algo que permitiu a publicação em Diário da República deste tema meras horas após a deliberação. O projecto de Pinto da Costa poderá, assim, ser anulado.

"Vou convocar uma reunião de Câmara extraordinária para ver este ponto. O presidente pode assumir que houve um lapso, mas, em termos legais, a data de 22 de Março é nula", começa por dizer Francisco Vieira de Carvalho. O responsável diz sentir-se obrigado a denunciar a situação, pelo facto de considerar que foi cometido um crime público. "Esta foi a hasta pública mais rápida do país", denuncia o vereador, adiantando que a Assembleia Municipal reuniu "no feriado histórico do 25 de Abril" para ratificar a hasta pública.

Um documento a que o PÚBLICO teve acesso mostra a data de 22 de Março no documento em que a autarquia comunica a venda dos terrenos para publicação em Diário da República. Esta missiva, contudo, antecedeu em 72 horas a aprovação na Assembleia Municipal, votação obrigatória para a oficialização deste negócio ocorrida a 25 de Março. Apesar de a reunião ter terminado apenas às 23h12, a venda figurava já em Diário da República no dia seguinte.

Em comunicado divulgado na sexta-feira (dia 24), a Câmara Municipal da Maia “desmente categoricamente” qualquer irregularidade ou ilegalidade, mostrando-se disponível para apresentar provas documentais do processo. A autarquia afirma que “todas as notícias publicadas sobre essa matéria resultam de informações falsas prestadas por manifesta ignorância ou má-fé” e acrescenta que vai denunciar as declarações do vereador ao Ministério Público.

O FC Porto adquiriu os terrenos em hasta pública por 3,4 milhões de euros, tendo já entregue 1,19 milhões à autarquia. Este projecto foi idealizado por Jorge Nuno Pinto da Costa e apresentado a apenas dias do acto eleitoral que elegeu eleger André Villas-Boas para o cargo de presidente do FC Porto. O complexo era uma promessa antiga do então presidente portista, mas, durante mais de meia década, o projecto não registou avanços concretos. Recentemente, na recta final do 15.º mandato, apresentou oficialmente o projecto aos sócios – com muitos associados a acusarem o dirigente de usar a academia como trunfo eleitoral, apesar de este ser um projecto encabeçado enquanto dirigente e não candidato.

A infra-estrutura contará com dez campos de futebol e um mini-estádio com capacidade para cerca de 2000 pessoas. A planificação conta ainda com a construção de 72 quartos duplos para albergar os jovens da formação deslocados. No total, a academia dos "dragões" ocupará uma área de 23 hectares (cerca de 14 comprados em hasta pública e os restantes nove adquiridos à construtora minhota ABB).

No total, os "dragões" prevêem um investimento a rondar os 40 milhões de euros. Para já, no contrato assinado com a construtora ABB, os portistas já se comprometeram com o pagamento de 6,9 milhões para a terraplanagem da parte dos terrenos pertencentes à empresa minhota.


Notícia actualizada no dia 24 de Maio com a reacção da Câmara Municipal da Maia

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