Zelensky quer que a NATO destrua caças russos nos céus da Ucrânia
Numa altura difícil para a Ucrânia no campo de batalha, Volodymyr Zelensky voltou a criticar as hesitações do Ocidente em prestar apoio à resistência contra a invasão russa.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sugeriu que a NATO possa abater aeronaves militares russas que entrem no espaço aéreo da Ucrânia, durante uma entrevista ao New York Times em que voltou a mostrar insatisfação com o reduzido apoio dos aliados ocidentais.
Não são de agora as críticas de Zelensky ao ritmo e ao conteúdo das ajudas militares dos seus parceiros ocidentais. Mas, desta vez, o Presidente ucraniano foi mais longe e pediu a intervenção directa da Aliança Atlântica num conflito em que tem tentado trilhar um difícil equilíbrio que lhe permita apoiar Kiev sem se arriscar a uma guerra com a Rússia.
“A minha pergunta é: ‘Qual é o problema? Porque não os podemos abater? É defensivo? Sim. É um ataque contra a Rússia? Não. Estamos a abater aviões russos e a matar pilotos russos? Não’”, afirmou Zelensky na entrevista publicada esta quarta-feira. “Então qual é o problema em envolver os países da NATO na guerra?...”, perguntou.
Desde o início da invasão em larga escala pela Rússia, em Fevereiro de 2022, a NATO posicionou-se ao lado da Ucrânia, com os seus membros a fornecerem ajuda militar e financeira para manter vivos os esforços de resistência perante a agressão. No entanto, qualquer acção que pudesse motivar um envolvimento mais directo dos países da Aliança Atlântica no conflito foi sempre rejeitada.
O maior receio é de que uma participação mais directa da NATO na guerra na Ucrânia levasse a Rússia a responder com um ataque nuclear. Vários dirigentes russos têm repetido ao longo dos últimos dois anos que qualquer intervenção do Ocidente levaria a um conflito nuclear.
Zelensky diz não acreditar que o Presidente russo, Vladimir Putin, recorra a armas nucleares para responder a um hipotético envolvimento ocidental na guerra. “Ele pode ser irracional, mas ama a sua vida”, afirmou.
Para reforçar o seu argumento, Zelensky deu o exemplo da recente operação coordenada entre os EUA, o Reino Unido e outros países aliados para abater mísseis e drones iranianos que tinham Israel como alvo. “Não seria sequer algo a uma escala tão grande”, disse o Presidente ucraniano na entrevista.
É altamente improvável que a NATO aceite intervir de forma tão directa na defesa da Ucrânia, mas a sugestão de Zelensky mostra a enorme preocupação em Kiev com o progresso da invasão.
Depois de ter alcançado alguns ganhos territoriais no Donbass nas últimas semanas, a Rússia abriu uma nova frente de combates na região de Kharkiv, no Norte da Ucrânia. Em menos de duas semanas, as forças russas conseguiram capturar algumas aldeias e vilas fronteiriças, e estão prestes a tomar Vovchansk, uma cidade que tem sido o principal alvo da iniciativa russa.
O objectivo de Moscovo é o de criar uma “zona-tampão” no Norte da Ucrânia para impedir ataques ucranianos contra o território fronteiriço russo. Ao mesmo tempo, as operações em Kharkiv têm obrigado os ucranianos a retirar forças suas do Donbass para fortalecer este eixo.
Zelensky também repetiu os pedidos de envio de armamento, em particular sistemas de defesa antiaérea Patriot, de fabrico norte-americano. Segundo o Presidente, seriam necessários pelo menos sete para proteger algumas das regiões mais importantes do ponto de vista estratégico e também a infra-estrutura energética. “Será que é pedir demasiado para a cimeira de aniversário da NATO em Washington? Para um país que está hoje a lutar pela liberdade e democracia no mundo?...”, perguntou Zelensky.
Em relação à possibilidade de serem retomadas as negociações tendo em vista um cessar-fogo, Zelensky mostrou abertura para participar em iniciativas diplomáticas sem a presença de dirigentes russos, reforçando as suas esperanças de que a cimeira organizada na Suíça no próximo mês possa servir de ponto de partida. Moscovo tem dito que nenhum processo diplomático que exclua a Rússia terá qualquer validade e insiste no reconhecimento das suas anexações territoriais.