Morreu Ebrahim Raisi, Presidente do Irão, após acidente de helicóptero
Vice-presidente do Irão confirmou a morte de Ebrahim Raisi e do ministro dos Negócios Estrangeiros. Helicóptero onde seguiam terá embatido contra o pico de uma montanha.
![](https://imagens.publico.pt/imagens.aspx/canal_videos/videoPortal/Images/202405/iran296186.jpg?tp=VIDEOS)
O Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, morreu num acidente de helicóptero num terreno montanhoso perto da fronteira com o Azerbaijão, confirmou o vice-presidente do Irão, Mohsen Mansouri. Também foi confirmada a morte do ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amirabdollahian. O executivo iraniano já convocou uma reunião de emergência.
Os destroços carbonizados do helicóptero que se despenhou no domingo e que transportava Raisi, considerado um potencial sucessor do líder supremo, e o ministro foram encontrados esta segunda-feira, após uma busca nocturna sob um nevão.
A televisão estatal informou que as imagens do local mostram que o aparelho embateu no pico de uma montanha, embora não haja qualquer informação oficial sobre a causa do acidente. A agência noticiosa estatal IRNA disse que Raisi estava a voar num helicóptero Bell 212 fabricado nos EUA.
Ebrahim Raisi tinha 63 anos e foi eleito Presidente do Irão em 2021. Desde de assumir o cargo, ordenou um endurecimento das leis da moralidade, supervisionou uma repressão sangrenta dos protestos antigovernamentais e exerceu uma grande pressão nas negociações nucleares com as potências mundiais.
O líder supremo iraniano, o ayatollah Ali Khamenei, que detém o poder supremo com uma palavra final sobre a política externa e o programa nuclear do Irão, tinha anteriormente procurado tranquilizar os iranianos, dizendo que não haveria perturbações nos assuntos do Estado.
Mau tempo complicou buscas e pode ter causado acidente
As equipas de salvamento enfrentaram um nevão e um terreno difícil durante toda a noite para chegar aos destroços, algo que só aconteceu na madrugada de segunda-feira. “Com a descoberta do local do acidente, não foram detectados sinais de vida entre os passageiros do helicóptero”, disse o chefe do Crescente Vermelho do Irão, Pirhossein Kolivand, à televisão estatal.
Anteriormente, o canal nacional de televisão tinha interrompido toda a programação regular para mostrar as orações que estavam a ser feitas por Raisi em todo o país.
Um vídeo no local mostrava uma equipa de salvamento, com casacos reflectores e lanternas de cabeça, reunida em torno de um dispositivo GPS, enquanto percorria a pé uma encosta montanhosa sob um nevão. As equipas iranianas contaram com ajuda internacional nas buscas, com a União Europeia a fornecer as informações recolhidas pelo satélite Copérnico e com a Turquia a ceder ao país um drone com visão nocturna.
Um país em tensão
O acidente ocorre num momento de crescente dissidência no Irão devido a uma série de crises políticas, sociais e económicas. Os dirigentes religiosos do Irão enfrentam pressão internacional quanto ao contestado programa nuclear de Teerão e ao aprofundamento dos seus laços militares com a Rússia durante a guerra na Ucrânia.
Desde que o aliado do Irão, o Hamas, atacou Israel a 7 de Outubro, provocando o ataque israelita a Gaza, eclodiram em todo o Médio Oriente conflitos que envolvem grupos alinhados com o Irão.
No sistema político dual do Irão, dividido entre o poder religioso e o Governo, é o mentor de Raisi, Khamenei, de 85 anos, líder supremo desde 1989, que detém o poder de decisão sobre todas as políticas importantes.
Durante anos, muitos viram no Presidente do Irão, agora morto, um forte candidato à sucessão de Khamenei, que apoiou as principais políticas de Raisi. A sua vitória nas eleições de 2021 pôs todos os ramos do poder sob o controlo da linha política mais dura, após oito anos em que a presidência foi exercida pelo pragmático Hassan Rouhani e em que foi negociado um acordo nuclear com potências como Washington.
No entanto, a posição de Raisi pode ter sido prejudicada pelos protestos generalizados contra o Governo dos ayatollahs e pelo fracasso em melhorar a economia iraniana, afectada pelas sanções ocidentais.
No domingo, Raisi esteve na fronteira com o Azerbaijão para inaugurar a barragem Qiz-Qalasi, um projecto conjunto entre os dois países. O Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, que disse ter-se despedido amigavelmente de Raisi no início do dia, ofereceu ajuda para o resgate.
Hamas reage à morte de Raisi
O grupo islamista palestiniano Hamas lamentou esta segunda-feira a morte de Raisi e de Amirabdollahian.
“Estes líderes apoiaram a luta legítima do nosso povo contra a entidade sionista, deram um apoio valioso à resistência palestiniana e fizeram esforços incansáveis de solidariedade e apoio em todos os fóruns a favor do nosso povo na inabalável Faixa de Gaza, durante a Batalha de Al-Aqsa”, disse o Hamas em comunicado, referindo-se à actual guerra com Israel.
E prosseguiu: “Fizeram também esforços políticos e diplomáticos significativos para pôr termo à agressão sionista contra o nosso povo palestiniano.”
A comunidade internacional também está a reagir à morte do Presidente iraniano e do ministro dos Negócios Estrangeiros. A embaixada da Rússia em Teerão já expressou as suas condolências, assim como Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros do mesmo país — com que o Irão tem vindo a fortalecer laços.
“Na Rússia, o Presidente do Irão, E. Raisi, e o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, H. Amir-Abdollahian, eram conhecidos como amigos verdadeiros e fiáveis do nosso país”, declarou Lavrov.
The EU expresses its sincere condolences for the death of President Raisi and Foreign Minister Abdollahian, as well as other members of their delegation and crew in a helicopter accident. Our thoughts go to the families.
— Charles Michel (@CharlesMichel) May 20, 2024
“O seu papel no reforço da cooperação russo-iraniana mutuamente benéfica e da parceria de confiança é inestimável”, afirmou. “Alargamos sinceramente as nossas condolências às famílias e amigos das vítimas, bem como a todo o povo amigo do Irão. Os nossos pensamentos e corações estão convosco nesta hora triste.”
Também Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, reagiu à morte através das redes sociais: “A União Europeia apresenta as suas sinceras condolências pela morte do Presidente, E. Raisi, e do ministro dos Negócios Estrangeiros, H. Abdollahian, bem como dos outros membros da sua delegação e tripulação, num acidente de helicóptero. Os nossos pensamentos vão para as famílias.”
O Líbano declarou três dias de luto nacional. O Paquistão também instituiu um dia de luto e a bandeira será colocada a meia haste como sinal de respeito pelas vítimas mortais do acidente. O primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, apresentou as condolências ao “irmão Irão” em seu nome e em nome do povo e do Governo paquistaneses. “A grande nação iraniana vai ultrapassar esta tragédia com a coragem habitual”, afirmou Sharif.