Fact-checkers ibéricos querem usar mais inteligência artificial no trabalho

Estudo do Iberifier indica que a tecnologia pode ajudar a tornar o trabalho de verificação mais rápido e eficaz. Porém, o julgamento humano será sempre quem define se algo é ou não desinformação.

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Fact-checkers consideram que a IA pode tornar o trabalho mais célere e eficaz RUI GAUDÊNCIO
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Mais de 75% dos verificadores de factos na Península Ibérica estão ansiosos por integrar ferramentas de inteligência artificial (IA) no trabalho de fact-checking. Os inquiridos do estudo Needs and challenges for Iberian fact-checkers (Necessidades e desafios para os verificadores de factos ibéricos, em tradução livre) indicam ainda que o difícil acesso a dados oficiais, as tardias respostas de entidades governamentais (por vezes, pouco transparentes) e a velocidade a que a desinformação se difunde são algumas das principais barreiras ao trabalho que desempenham.

De acordo com o estudo realizado pelo Iberifier (Observatório dos Media Digitais Ibéricos), divulgado nesta sexta-feira, 17 de Maio, fact-checkers ibéricos admitem que o trabalho de verificação de factos pode ficar comprometido quando não se tem acesso a ferramentas tecnológicas e conhecimento técnico específico que permita acompanhar, a ritmo adequado, a difusão de desinformação que se verifica principalmente no meio digital.

A utilização de ferramentas de IA – com formação adequada – permitiria "identificar potenciais embustes ou informações incorrectas antes de se espalharem amplamente". O relatório também destaca que os profissionais precisam de tecnologia que permita analisar e monitorizar redes sociais com mais eficácia e de melhor software de edição de vídeos.

No entanto, a tecnologia nunca poderá substituir o poder de análise, interpretação e contextualização de um jornalista. “A combinação da IA com o julgamento humano parece ser a abordagem mais eficaz na luta contra a informação incorrecta, diz o texto. “Ainda que a IA possa ajudar a detectar [falsidades], a decisão final sobre se um determinado conteúdo é desinformação ou não depende do julgamento humano.”

Sobre ferramentas que existem actualmente e são auxiliares úteis ao trabalho de verificação de factos, os inquiridos referiram que, por vezes, estas se tornam "inacessíveis por serem pagas" ou "bloqueadas por antivírus". Sublinham também que há situações em que não conseguem utilizar as ferramentas por "falta de conhecimento".

Para os profissionais que responderam ao questionário da Iberifier, tarefas como "verificar fontes", "procurar afirmações em podcasts ou no YouTube", "procurar documentos oficiais para verificar" ou "procurar fontes oficiais e verificar vídeos e imagens" são algumas das que consomem mais tempo. A IA poderia assumir um papel central no rastreamento de informação, assim como na análise de grandes quantidades de dados de forma mais célere.

A frequente fraca qualidade do conteúdo audiovisual a circular online, as informações contraditórias e a existência de "fontes credíveis com interesse directo na história" são outros obstáculos levantados.

Os inquiridos consideram ainda que há falta de profissionais especializados em determinadas áreas, como é o caso das alterações climáticas. “Especialização em certos tópicos é vital para perceber e analisar informação e informação incorrecta nestes assuntos”, refere o relatório.

Tal como no caso da IA, os verificadores de factos mostram vontade em obter mais formação sobre Open Source Intelligence, ou seja, tratamento de dados disponíveis publicamente.

Que ferramentas utilizam mais?

De acordo com os resultados do inquérito realizado pelo Iberifier, os fact-checkers ibéricos identificaram o X (referido como Twitter), Instagram, WhatsApp, TikTok e Telegram como as principais redes sociais que utilizavam para verificar factos. O WhatsApp também foi apontado como a principal forma de comunicação interna em 71% dos casos, seguido pela comunicação via email (52%).

O TikTok é identificado como uma das redes onde a verificação de factos é mais complicada, por ser, de certa forma, mais opaca. Os profissionais admitem, também, estar menos familiarizados com a plataforma.

Cerca de dois terços dos inquiridos referiram utilizar no trabalho a extensão Search By Image e o Wayback Machine. A primeira ferramenta permite submeter uma determinada imagem e descobrir se ela já foi publicada em outras circunstâncias no passado. Serve, por exemplo, para verificar se uma imagem que se suspeita ter sido manipulada foi publicada na sua versão original.

O Wayback Machine, por outro lado, permite ver versões mais antigas das páginas de Internet. Se, por exemplo, um político fizer uma publicação numa rede social e depois a apagar e afirmar nunca o ter feito, com o Wayback Machine pode ser possível ver a versão mais antiga da página, de quando a publicação estava ainda lá.

Também referiram utilizar o Google Maps e/ou o Google Earth em mais de 60% dos casos, para fazer geolocalização.

No âmbito do relatório, a Iberifier enviou por email um inquérito a 205 jornalistas especializados em verificação de factos em Espanha, Portugal e América Latina. Receberam respostas de 21 pessoas, cerca de 10% da amostra analisada.

Fazem parte do Iberifier as agências de notícias Lusa e EFE (espanhola), assim como órgãos de comunicação ibéricos que fazem fact-checking, como a Prova dos Factos do PÚBLICO e o Polígrafo. Integra também 23 centros de investigação e universidades da Península Ibérica.

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