Novos avanços rumo a vacina eficaz contra o VIH

As experiências foram realizados animais e um dos projectos encontra-se na fase inicial de ensaios em seres humanos.

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Partículas de VIH (a amarelo) NIAID
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Os cientistas fizeram vários avanços na concepção de uma classe de vacinas contra o VIH que pode oferecer ampla protecção contra o vírus, de acordo com quatro novas investigações com diferentes métodos para obter anticorpos neutralizantes de amplo espectro.

Os resultados destes estudos ainda preliminares foram publicados nas revistas Science, Science Translational Medicine e Science Immunology, e todos os quatro trabalhos descrevem novos passos numa estratégia de vacinação sequencial, para obter um candidato eficaz contra o vírus VIH-Sida, noticiou esta quinta-feira a agência de notícias Efe.

As experiências foram realizados em macacos rhesus e ratos (camundongos), e uma das propostas está na fase 1 de ensaios clínicos.

Entre os autores estão cientistas do Instituto Americano de Investigação Scripps, da Universidade de Louisville e da Universidade da Califórnia em San Diego.

A epidemia do VIH entrou na sua quinta década e a comunidade científica dedicou tempo e recursos ao desenvolvimento de vacinas candidatas contra o vírus. No entanto, as autoridades de saúde ainda carecem de uma vacina eficaz e aprovada que induza anticorpos amplamente neutralizantes, capazes de neutralizar as estirpes de VIH circulantes mais comuns, sublinhou o grupo num resumo na revista Science.

Uma solução é um processo chamado selecção germinativa, no qual os cientistas utilizam uma série de proteínas dirigidas pelo sistema imunitário (imunogénios) para guiar e "preparar" os linfócitos B jovens à medida que amadurecem em locais chamados centros germinativos.

O objectivo é induzir as células a produzirem anticorpos amplamente neutralizantes contra o VIH, o vírus que causa a sida.

José Alcamí, director da Unidade de Imunopatologia da Sida do Instituto de Saúde Carlos III, salientou que o objectivo de qualquer vacina preventiva é induzir a produção de anticorpos neutralizantes pelo sistema imunitário e normalmente o antigénio utilizado deve incluir ou ser formado pelo envelope ou proteínas de superfície do vírus.

São estas proteínas que interagem com os receptores de entrada na célula, pelo que o seu bloqueio por anticorpos neutraliza a infecção do vírus, explicou o Science Media Center de Espanha (SMC), uma plataforma de recursos científicos.

O envelope do VIH

A dificuldade na obtenção de uma vacina deve-se à estrutura do envelope do VIH, que o torna muito inacessível à acção dos anticorpos neutralizantes, detalhou o virologista, que não está envolvido nos estudos.

Dada a dificuldade de gerar anticorpos neutralizantes contra o VIH, os autores destes novos trabalhos orientam o sistema imunitário a gerar um tipo específico de anticorpos neutralizantes com diferentes imunogénios.

Primeiro mais simples (para que possam ser mais bem reconhecidos) e depois mais complicados e próximos da proteína do envelope original do VIH, detalhou Julià Blanco, chefe do grupo de Virologia e Imunologia Celular do Instituto IrsiCaixa de Investigação em Sida.

A proteína do envelope do VIH possui diferentes regiões que são reconhecidas por anticorpos neutralizantes. Para uma região específica (o sítio de ligação dos linfócitos T CD4), essa estratégia já tinha sido utilizada e chegou até a estudos em humanos.

Agora aparece uma segunda região (a base do domínio V3) que também pode ser usada de forma semelhante.

"Se as duas estratégias forem combinadas, poderá ser gerada uma maior quantidade e diversidade desses anticorpos neutralizantes (o que tornaria uma potencial vacina mais eficaz)", realçou Julià Blanco, que não participa dos estudos.

A vacinação sequencial pode ser uma excelente estratégia, mas pode exigir um número excessivo de imunogénios, o que dificultará sua conversão num produto que chegue à população mais necessitada. "Há muito trabalho pela frente", resumiu o SMC.