Ministra promete mais polícias nas escolas em resposta a agressões a menino nepalês
Margarida Blasco não esclareceu se a solução passa por reforçar programa Escola Segura ou por outra medida. Associação de directores diz que se trata de um “caso isolado”.
A ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, prometeu mais policiamento junto às escolas para prevenir os crimes de ódio, na sequência de notícias que dão conta de agressões a uma criança nepalesa numa escola de Lisboa. A governante não explicou, porém, como é que essa medida se concretizaria. A Associação de directores diz que se trata de um “caso isolado”.
Confrontada pelos jornalistas com esta situação, esta terça-feira em Ourém, Margarida Blasco prometeu “reforçar quer o policiamento nas escolas, quer o policiamento de proximidade, (...) de forma a prevenir estes casos – isto é uma primeira fase [para responder] a estas situações”. “No Ministério da Administração Interna, em conjunto com os ministérios da Educação e da Saúde, é nossa intenção fazer programas mais céleres, mais eficazes para obviar estas situações”, acrescentou aos jornalistas, sem detalhar o que pretende mudar nem como, nem quando.
O PÚBLICO pediu, entretanto, ao Ministério da Administração Interna que aprofundasse a medida avançada pela ministra, perguntando concretamente se isso passaria por um reforço dos agentes adstritos ao programa Escola Segura ou por outras iniciativas. Não foi possível obter uma resposta até ao momento.
As mesmas questões foram colocadas ao Ministério da Educação, que também ainda não respondeu. A tutela também foi questionada sobre a forma como a escola lidou com a agressão, perguntando se foi aberto algum processo de averiguação interno e se o caso foi comunicado às autoridades policiais.
A Rádio Renascença noticiou esta terça-feira um caso de um menino de 9 anos que foi atacado por um grupo de colegas, com insultos xenófobos e anti-imigrantes, uma agressão que foi filmada e partilhada em grupos nas redes sociais dos alunos. O violento ataque levou a família a requerer a transferência da criança do estabelecimento escolar. Segundo a mesma rádio, a direcção da escola onde a agressão teve lugar não reportou a situação às autoridades.
O presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamento e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, disse desconhecer o caso em concreto, defendeu que a escola deve estar atenta e usar as ferramentas à sua disposição – psicólogos, assistentes sociais, mediadores de conflitos, entre outros – para travar o possível crescimento de fenómenos de racismo e xenofobia.
"É isso que pedimos às escolas. Que continuem a fazer esse trabalho. Não podemos é generalizar o que se passou em Lisboa, e de que hoje tivemos conhecimento, ao resto das escolas públicas portugueses, que são mais de cinco mil", afirmou, assegurando tratar-se de um "caso isolado".
Defendendo uma investigação célere ao sucedido, Filinto Lima considerou que a comunidade escolar no seu todo deve denunciar às autoridades competentes casos como o que foi conhecido esta terça-feira, reportando à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens ou, em situações de maior gravidade, ao Ministério Público.
A maior associação de nepaleses em Portugal denunciou o aumento do bullying nas escolas contra os filhos de imigrantes, por parte de outras crianças, o que também reflecte um aumento do sentimento anti-imigração. "Sabemos de alguns casos, porque os nossos filhos têm problemas de integração", principalmente os casos de imigrantes do Sudeste asiático, afirmou Kamal Bhattarai, presidente da associação Niapal.
"Isto preocupa-nos" e "estamos a visitar escolas várias vezes, falamos com professores e pais e recebemos muitas informações preocupantes", explicou o dirigente, em declarações à Lusa. Para Bhattarai, há vários problemas na integração dos filhos de imigrantes do Sudeste asiático, em particular os nepaleses, que são já 50 mil em Portugal.