Associação de nepaleses denuncia aumento do bullying contra filhos de imigrantes
Kamal Bhattarai, presidente da associação Niapal, diz que estão a visitar escolas e a falar com professores e pais, tendo recebido “muitas informações preocupantes”.
A maior associação de nepaleses em Portugal denunciou o aumento de violência escolar contra os filhos de imigrantes por parte de outras crianças, o que também reflecte um aumento do sentimento anti-imigração.
"Sabemos de alguns casos, porque os nossos filhos têm problemas de integração", principalmente os casos de imigrantes do Sudeste asiático, afirmou Kamal Bhattarai, presidente da associação Niapal. "Isto preocupa-nos" e "estamos a visitar escolas várias vezes, falamos com professores e pais e recebemos muitas informações preocupantes", explicou o dirigente, em declarações à Lusa.
Esta terça-feira, a Rádio Renascença noticiou um caso de um menino de 9 anos que foi atacado por um grupo de colegas, com insultos xenófobos e anti-imigrantes, uma agressão que foi filmada e partilhada em grupos nas redes sociais dos alunos. O violento ataque levou a família a requerer a transferência da criança do estabelecimento escolar que não foi identificado, sabendo-se apenas que nem a família nem a escola terão apresentado queixa às autoridades sobre o sucedido.
Para Kamal Bhattarai, há vários problemas na integração dos filhos de imigrantes do Sudeste asiático, em particular os nepaleses, que constituem já 50 mil em Portugal. "Eles estão muito isolados, não falam português, muitos nem falam inglês", explicou.
No seu entender, o aumento de incidentes mostra que o "discurso anti-imigração [em Portugal] está a fazer um caminho" e a conquistar apoio dentro da sociedade portuguesa. A entrada dos imigrantes é "um dos grandes assuntos que preocupam" os portugueses, mas, para os nossos filhos, que vêm de "uma cultura e idioma muito diferentes, é complicado entender" esse sentimento.
Apesar disso, Kamal Bhattarai admite que há muitos casos de boa integração e há cada vez mais convívio multicultural. "Os números de imigrantes estão a crescer e há muitas famílias que chegam cá com filhos. Mas os nascidos cá já está a aumentar", explicou o dirigente. No entanto, nos últimos anos, "sente-se um clima que é menos favorável" a quem chega de países com culturas muito diferentes de Portugal.
Ministra promete mais polícias
Confrontada pelos jornalistas com este caso, esta terça-feira em Ourém, à margem da apresentação do dispositivo de combate aos incêndios rurais, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, prometeu mais policiamento junto às escolas para prevenir os crimes de ódio. “Vamos reforçar quer o policiamento nas escolas, quer o policiamento de proximidade, (...) de forma a prevenir estes casos – isto é uma primeira fase [para responder] a estas situações. No Ministério da Administração Interna, em conjunto com os Ministérios da Educação e da Saúde, é nossa intenção fazer programas mais céleres, mais eficazes para obviar estas situações”, respondeu aos jornalistas, sem detalhar o que pretende mudar nem como, nem quando.