Oficial do Exército norte-americano demite-se em protesto contra guerra em Gaza

Harrison Mann diz ter mantido silêncio sobre os motivos da sua demissão por “medo”, além da vergonha e culpa por ter ajudado a promover uma política que contribuiu para o massacre de palestinianos.

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Militares israelitas na fronteira com a Faixa de Gaza, a 9 de Maio ABIR SULTAN
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Um oficial do Exército norte-americano revelou esta segunda-feira, numa carta aos antigos colegas da Agência de Inteligência de Defesa (serviços secretos militares), que a demissão que apresentou no passado mês de Novembro se deveu a "danos morais" relativos ao apoio dos Estados Unidos aos ataques israelitas contra civis palestinianos.

Harrison Mann, major do Exército norte-americano, é o primeiro elemento das secretas militares a assumir ter-se demitido em protesto contra o apoio norte-americano a Israel, mas junta-se a outros militares que têm manifestado a sua oposição às políticas dos Estados Unidos.

Em Fevereiro, um militar da Força Aérea norte-americana, Aaron Bushnell, imolou-se junto à embaixada de Israel em Washington, afirmando, antes de morrer: "Não serei cúmplice do genocídio."

Harrison Mann diz ter mantido o silêncio sobre os motivos da sua demissão durante meses por "medo", além dos sentimentos de vergonha e culpa por ter ajudado a promover uma política que, segundo considera o próprio, contribuiu para o massacre de milhares de palestinianos.

"Tive medo. Medo de violar as normas profissionais. Medo de desiludir colegas que respeito. Medo de que se sentissem traídos. Estou certo de que é assim que alguns se sentirão ao ler esta carta", escreveu. Mas, a dada altura, acrescentou, "seja qual for a justificação, ou se está a promover a fome infantil em larga escala, ou não se está".

Casa Branca: "Não acreditamos que seja um genocídio"

Entretanto, o conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, afirmou esta segunda-feira que a Administração Biden não considera a morte de dezenas de milhares de palestinianos na Faixa de Gaza um acto genocida por parte de Israel.

Numa conferência de imprensa na Casa Branca, Sullivan reiterou que os Estados Unidos querem ver o Hamas derrotado, admitindo contudo que os palestinianos apanhados no meio da guerra estão num "inferno" e que uma grande operação militar israelita em Rafah "seria um erro".

Na semana passada, a Presidência dos Estados Unidos anunciou a suspensão do envio de um pacote de armamento para Israel, pela primeira vez em sete meses, reconhecendo o risco de que o Governo de Benjamin Netanyahu pudesse usar armas norte-americanas para violar a lei humanitária internacional na Faixa de Gaza, nomeadamente num ataque a Rafah.

"Acreditamos que Israel pode e deve fazer mais para garantir a protecção de civis inocentes. Não acreditamos que o que está a acontecer em Gaza seja um genocídio. Temos rejeitado firmemente essa tese", disse o conselheiro de segurança nacional norte-americano.

Fazendo eco das declarações de Joe Biden no último sábado, Jake Sullivan insistiu que a implementação de um cessar-fogo em Gaza está, neste momento, dependente da libertação dos reféns detidos pelo Hamas.

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