Foram libertados os oito estudantes detidos na noite desta quinta-feira durante os protestos pró-Palestina na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Os manifestantes passaram a noite nas instalações da polícia e foram constituídos arguidos pelo crime de desobediência civil, por terem permanecido no interior da faculdade após a ordem de retirada.
Os estudantes deveriam ter sido apresentados a tribunal na manhã desta sexta-feira, mas a greve dos funcionários judiciais impediu que fossem presentes a julgamento, adiado para final de Maio.
Na quinta-feira à noite, assim que saíram os últimos estudantes de forma voluntária das instalações da faculdade, "a polícia fez um último aviso, a partir do qual começariam a usar a força", contou ao P3 uma das estudantes detidas. "Resistimos passivamente, fomos separados e levados para o pátio da faculdade, encostados à parede, revistados e algemados."
O Comando Metropolitano de Lisboa da PSP confirma ao P3 que os oito estudantes, com idades entre os 19 e 28 anos, foram detidos "por serem suspeitos da prática do crime de desobediência" civil, depois de se terem "recusado a sair pelos seus próprios meios" do interior das instalações da faculdade.
Os jovens passaram a madrugada desta sexta-feira na esquadra dos Olivais e no Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, em Moscavide, sem que fossem interrogados. Após vários pedidos ao longo da noite, foi autorizado o diálogo com a advogada que os representa, quase quatro horas após a detenção.
Na noite de quinta-feira, estiveram nesta instituição de ensino superior perto de 50 manifestantes e dez agentes. De acordo com o estudante de Antropologia da FCSH, a meio da manhã de sexta-feira estavam neste espaço seis polícias e 30 estudantes que acamparam no exterior da Faculdade de Psicologia durante a noite.
“Estamos à espera de mais polícias. Recebemos ordens para entrarmos aos poucos e retirarmos as nossas coisas”, adianta. Os estudantes vão desactivar o acampamento, mas prometem "expandir os protestos” pró-Palestina e pelo fim dos combustíveis fósseis para outros locais e universidades.
Segundo Vasco Pereira, membro do colectivo Estudantes Justiça na Palestina da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, na quinta-feira à noite, já no exterior da faculdade e depois das detenções, as autoridades receberam “outros manifestantes e alguns pais com bastonadas”. Os estudantes garantem que o protesto era "pacífico" e acusam as autoridades de violência policial.
A polícia recorreu à força quando os manifestantes se deslocaram para a estrada, impedindo a passagem dos carros que levavam estudantes detidos. Segundo a PSP, "houve necessidade de criar uma caixa de segurança recorrendo à força estritamente necessária". O vídeo publicado nas redes sociais pelos estudantes mostra agentes equipados com bastões a dispersar os manifestantes, empurrando-os.
Estudantes dizem que faculdade e reitoria “se recusaram a falar”
Catarina Bio, porta-voz do grupo de estudantes em protesto, recorda que a direcção da FPUL tinha um acordo público com os manifestantes desde terça-feira, primeiro dia de protestos: os primeiros garantiram que não chamariam as autoridades para os dispersar se as manifestações não prejudicassem o funcionamento das aulas. Os estudantes garantem que as aulas decorreram sempre na normalidade.
A jovem diz ainda que a direcção e a reitoria da Universidade de Lisboa chamaram a polícia “sem aviso prévio ou explicação”. Os manifestantes tentaram contactar as duas entidades no momento das detenções, mas sem sucesso.
“A faculdade enviou a polícia para falar connosco e recusa-se a falar, o que já é um padrão. A única vez que a direcção falou connosco foi no primeiro dia de protestos, na terça-feira, e disseram que não nos iam expulsar.” A polícia, declara Catarina, também não revelou de imediato os motivos da detenção.
Na quinta-feira, num comunicado enviado às redacções, a reitoria da Universidade de Lisboa alegou que as autoridades foram chamadas depois de “preocupantes situações de destruição do património, grafitagem e ameaça à segurança através da eliminação e arrombamento de fechaduras". Os manifestantes e jovens detidos garantem não ter conhecimento de nada vandalizado, danificado ou arrombado na faculdade.
O P3 também contactou, por email, a reitoria e a FPUL a fim de saber exactamente que equipamentos foram vandalizados. A reitoria remeteu qualquer esclarecimento para o comunicado.