António e Nuno Miranda: o pai, o filho e as suas amigas videiras

“Se pudesse, ele passava os 365 dias do ano na vinha junto das suas amigas”, diz Nuno Miranda, sobre o seu pai, António Miranda. Juntos cuidam das vinhas da Quintas do Homem como fossem jardins.

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“O meu pai conhece praticamente todas as videiras”, diz Nuno Miranda. Ambos são proprietários das Quintas do Homem, em Vila Verde. Anna Costa
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“Se pudesse, passava os 365 dias do ano na vinha junto das suas amigas.” Quem o diz é Nuno, o filho de António Miranda, que vê nas videiras as grandes amigas da vida do progenitor. Ambos cuidam com todo o empenho evidente desvelo da agricultura da Quintas do Homem, propriedade que reúne três grandes áreas de vinhedos, num total de 26 hectares que junta a Quinta da Veiga, a Quinta do Paço e a Bouça do Pico, no fértil e frondoso vale do rio Homem, à chegada a Vila Verde.

São eles os proprietários e é quase obsessivo o modo como se dedicam a cuidar da vinha, enquanto delegam na enóloga, Ana Coutinho, a responsabilidade pela enologia e trabalho de adega. “O meu pai conhece praticamente todas as videiras, nota logo qualquer mudança ou alteração”, exemplifica Nuno para sublinhar a paixão pelo trato da vinha. Um cuidado que é evidente à primeira vista, tal a harmonia e aprumo que ressalta das filas de videiras e tapetes verdejantes, que em tudo se assemelham a um frondoso jardim palaciano.

Uma paixão que Nuno explica com o gosto e orgulho na vida do campo em que o pai cresceu e se educou na zona de Barcelos, onde o vinho se destacava. Com o casamento, António embrenhou-se no lucrativo negócio do comércio e armazenamento de frutas e hortícolas, mas nunca superou o gosto pelo campo. E quando a oportunidade surgiu, em 1985, logo adquiriu a Quinta da Veiga, mesmo que distante do litoral da Póvoa de Varzim, onde mantinha o negócio e a casa de família.

“Às três da manhã, ele já estava no Mercado Abastecedor, no Porto, com as frutas e legumes, mas pelas 10 horas arrancava para Vila Verde e só à noite voltava para casa”, conta o filho, explicando que começou por se dedicar à criação de gado para abate, tendo plantado também uma pequena parcela com três hectares de vinhão, onde a partir de 1995 começou a ajudar o pai.

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Loureiro e arinto são castas em evidência nos 26 hectares de vinhas das Quintas do Homem. Anna Costa

Foi com a crise no sector das carnes e movidos pelo sucesso com a venda do vinhão que decidiram apostar tudo na vinha e reconverter a propriedade, plantando as castas loureiro, alvarinho e também um pouco de fernão pires. “Como amadurece bem, o fernão pires era para compensar alguma falta de grau, mas isso nunca chegou a acontecer e hoje já nem faz sentido”, avança Nuno. Seguiu-se, em 2009, a compra da vizinha Quinta do Paço, onde plantaram loureiro e arinto, e logo no ano seguinte a propriedade alargou-se com os quatro hectares da Bouça do Pico, que serviu para alargar a plantação de arinto.

Com a vinha cuidada, a preocupação é controlar a produtividade dentro de 11 a 12 toneladas por hectare, para fazer vinhos de qualidade. Com cerca de 250 mil garrafas por ano, que exportam em mais de 80%, o resto da produção é vendida a granel. O principal mercado para os vinhos das Quintas do Homem está no Reino Unido, seguindo-se EUA, Japão, Alemanha, Países Baixos e também Bélgica, França, Polónia e Canadá.

“Os preços até têm vindo a melhorar ligeiramente, mas é preciso controlar tudo com muito cuidado, já que é sempre uma grande despesa para um retorno tão pequeno”, lamentam-se, mesmo assim, os homens que têm nas videiras as suas maiores amigas.


Artigo alterado às 12h53 de 14 de Maio de 2024, para rectificar o apelido dos protagonistas.

Este artigo foi publicado na edição n.º 12 da revista Singular.

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