Todas as universidades de Espanha suspendem parcerias com Israel. E não são as únicas

No total, as 76 universidades do país concordaram em suspender as parcerias com universidades israelitas se o Governo não terminar de imediato com a guerra em Gaza. Irlanda e Noruega fizeram o mesmo.

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Universidades de Espanha cortam parcerias com Israel. E não são as únicas DR/Twitter
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Dos Estados Unidos à Austrália, os protestos estudantis pró-Palestina multiplicam-se e, em alguns casos, começam a resultar. Os alunos montaram há várias semanas tendas nos campi para apelar ao cessar-fogo em Gaza e exigir que as instituições de ensino terminem as parcerias com universidades israelitas e deixem de investir em empresas com ligações a Israel.

Esta quinta-feira, dia 9 de Maio, Espanha tomou uma posição. As 50 universidades públicas do país e as 26 privadas anunciaram que vão suspender os acordos com as faculdades e centros de investigação israelitas se o Governo de Benjamin Netanyahu “não acabar de imediato” com a guerra em Gaza, escreve o El Mundo.

No comunicado conjunto, citado por este jornal, declararam também que vão “intensificar a cooperação” com centros de investigação e instituições de ensino superior da Palestina, nomeadamente através de programas de voluntariado para a população refugiada de Gaza. Mas não são os únicos a tomar esta decisão.

No Porto, os protestos de quarta-feira junto à reitoria também motivaram uma reacção do reitor. À Lusa, fonte da Universidade do Porto revelou que António Sousa Pereira vai verificar se existem projectos em curso “com potencial de uso militar" por Israel e, se for verdade, suspendê-los.

Em causa estão as afirmações do estudante de Economia Vasco da Silva que afirmou que o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) e o Instituto de Biologia Molecular e Celular têm parcerias com empresas farmacêuticas israelitas e projectos para a agricultura deste país. Alega ainda que esta instituição colabora com um projecto de drones usados por Israel em Gaza.

Num comunicado enviado ao P3 esta sexta-feira, dia 10 de Maio, o INESC TEC adianta que participou, entre 2019 e 2022, num projecto de investigação Europeu, o ResponDrone, em conjunto com organizações de vários países, entre os quais Israel. No entanto, reforça que o projecto foi desenvolvido para “melhorar a resposta a catástrofes naturais”, nomeadamente permitir que as equipas de resgate assegurassem uma rápida resposta às populações e nunca com o objectivo de ser utilizado na área militar, como declara o estudante.

“Aliás, o programa europeu Horizonte 2020, que financiou o projecto, excluía explicitamente projectos visando aplicação na área militar”, lê-se no comunicado.

Na Irlanda, a Trinity College Dublin, faz saber que vai terminar parcerias com empresas israelitas, incluindo as “que têm actividades em território palestiniano ocupado e aparecem na lista negra da ONU”, lê-se no comunicado, citado pelo Guardian.

A decisão surge cinco dias depois do início das manifestações no campus que perturbou o funcionamento da universidade e, principalmente, a entrada numa das principais atracções turísticas da cidade, o Livro de Kells, manuscrito medieval guardado no interior da instituição.

Segundo o diário britânico, os estudantes acreditam que este foi o factor que levou a universidade a anunciar o corte dos investimentos com Israel: em poucos dias a Trinity College perdeu cerca de 350 mil euros em receitas turísticas.

Violência aumenta em Amesterdão

Na Europa, a onda de protestos pró-Palestina parece ter resultado em quatro universidades norueguesas que afirmaram publicamente que vão terminar com os programas de intercâmbio de alunos de e para Israel. São elas a Universidade de Bergen e a Escola de Arquitectura desta Universidade, a OsloMet e a South Eastern Norway (USN).

“As autoridades israelitas optaram por ignorar as declarações do Tribunal Internacional de Justiça e não tomaram quaisquer medidas para melhorar a situação humanitária. É por isso que não queremos continuar a ter um acordo de cooperação com as universidades de Israel”, afirmou a reitora da USN, Pia Cecilie Bing-Jonsson ao site University World News.

Enquanto isso, e à semelhança do que acontece nas universidades dos EUA, a violência policial aumenta em Amesterdão. Estudantes e funcionários envolvidos nas manifestações acusam a direcção de “se recusar a negociar” e utilizar a polícia para os dispersar.

Num comunicado publicado nas redes sociais, alegaram que as autoridades utilizaram bastões, gás pimenta e cães-polícia para desmontar o acampamento, que descreveram como “pacífico”, e deter pessoas. Segundo os mesmos, muitos dos detidos foram “espancados de forma agressiva” e “empurrados contra o chão”. Os vídeos publicados no X (antigo Twitter) mostram uma retroescavadora a destruir tendas e cartazes.

Universidade dos EUA promete “avaliar desinvestimento"

Nos Estados Unidos, os protestos continuam em cerca de 140 as universidades e sem acordo à vista entre manifestantes e instituições de ensino superior. Pelo menos 2500 pessoas foram detidas.

Segundo o canal norte-americano CBS, a única universidade a aceitar ponderar desinvestir em Israel foi a Evergreen State College. A decisão, tomada na semana passada, terá acontecido depois de uma ex-aluna desta instituição, Rachel Corrie, 23 anos, ter sido morta por um tanque israelita na cidade de Rafah, onde vivia, escreve o The Seattle Times.

Após dias de negociações, os alunos e a direcção desta universidade de Washington assinaram, por fim, um documento para pôr fim aos protestos. Os primeiros concordaram em desmontar imediatamente o acampamento, enquanto os segundos se comprometeram a avaliar durante os próximos meses o desinvestimento “em empresas que lucram com violações dos direitos humanos e/ou com a ocupação dos territórios palestinianos”, declararam.

Se a Evergreen decidir desinvestir, adianta o jornal, deixará de colaborar com Israel até 2026 e acabará com os programas de intercâmbio de alunos dos EUA para este país, Gaza, Cisjordânia e outros territórios onde possam ser julgados por terem raízes judaicas ou palestinianas. Vai ainda recusar doações monetárias de entidades ligadas à “ocupação ilegal [de territórios] no estrangeiro”, que limitem a liberdade de expressão ou que reprimam minorias.

A Brown University, em Rhode Island, e a Northwestern University, no Illinois, também emitiram um comunicado sobre os protestos nos campi. Não especificaram se iriam desinvestir em Israel, mas prometeram tornar públicos todos os investimentos que têm com o Governo deste país.

Artigo actualizado às 13h20 do dia 10 de Maio de 2024 para acrescentar a resposta do INESC TEC enviada ao P3 nesse mesmo dia.

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