Autoridades reconhecem agravamento da ameaça da extrema-direita
Referência é feita na versão preliminar do relatório de segurança interna de 2023 que fala no crescimento do extremismo de direita nas gerações mais novas e da criação de grupos juvenis deste tipo.
As autoridades portuguesas reconhecem o agravamento da ameaça da extrema-direita, que surge muitas vezes associada a crimes de ódio e discriminação, e falam do crescimento deste fenómeno em gerações mais novas e na criação de grupos juvenis deste tipo. Isso mesmo é reconhecido na versão preliminar do último Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), relativo a 2023, já noticiada pelo PÚBLICO.
A informação ganha uma relevância especial após a notícia de que um homem de 26 anos detido pela PSP do Porto na madrugada da passada sexta-feira e outros cinco indivíduos identificados pela mesma polícia, todos suspeitos de terem cometido ataques contra imigrantes nessa noite, são conotados pelas autoridades como pertencentes ao grupo 1143, conhecido pela sua ideologia nacionalista e neonazi.
Só nessa noite a PSP registou três ataques contra imigrantes - duas agressões na via pública e um terceiro que consistiu na invasão de uma casa onde vivem 11 estrangeiros, a maior parte argelinos a trabalhar em Portugal. Tudo aconteceu por volta da uma da manhã quando um grupo, com 10 a 15 elementos, alguns encapuzados, forçou a entrada na habitação da rua do Bonfim, tendo agredido alguns dos imigrantes. Levavam bastões, facas e paus. Duas das vítimas tiveram de receber tratamento hospitalar.
Sobre estes casos, a procuradoria-geral regional do Porto emitiu esta segunda-feira uma nota, onde dá conta que os ataques deram origem à abertura de três inquéritos independentes que correm no Departamento de Investigação e Acção Penal do Porto. Confirma ainda que o homem detido pela PSP, com 26 anos, comercial e residente em Gondomar, ficou preso preventivamente, medida de coacção aplicada após o primeiro interrogatório judicial. Especifica-se ainda que este suspeito está "indiciado da prática dos crimes de detenção de arma proibida e de ofensa à integridade física qualificada".
“No campo dos extremismos políticos, assistiu-se a um agravamento da ameaça representada por estes sectores, sobretudo no âmbito da extrema-direita”, lê-se no relatório de segurança interna. E acrescenta-se: “Após um período de estagnação, as organizações tradicionais e os militantes dos sectores neonazi e identitário retomaram a sua actividade, promovendo acções de rua e outras iniciativas com propósitos propagandísticos”.
Exemplo disso foi a manifestação contra a imigração organizada no mês passado no Porto pelo Grupo 1143, conhecido pela ideologia nacionalista e neonazi, sob o lema “Menos imigração, mais Habitação”. Antes, vários movimentos ligados à extrema-direita tinham tentado marcar para o início de Fevereiro um protesto intitulado "Contra a islamização da Europa" na zona do Martim Moniz, em Lisboa, que foi proibido pela câmara municipal. A autarquia fundamentou a decisão com um parecer da PSP que classificava de "elevado risco" a manifestação que pretendia atravessar uma zona habitada essencialmente por imigrantes, sublinhando o "elevado risco de perturbação grave e efectiva da ordem e da tranquilidade públicas". Os organizadores ainda tentaram reverter a proibição nos tribunais, mas sem sucesso, acabando por deixar cair o protesto na capital.
Crime prolifera na esfera virtual
O relatório de segurança interna fala ainda na criação de organizações de jovens “que estendem o alcance da mensagem extremista a uma nova geração com um perfil distinto”. Este crescimento da extrema-direita entre as gerações mais jovens, refere o documento, “deveu-se, em grande parte, ao esforço desenvolvido na esfera virtual, tornando-a o seu principal veículo de disseminação de propaganda e motor de radicalização e contribuindo, assim, para a proliferação das narrativas extremistas, que atingem um público mais alargado e diversificado”.
Fonte policial dá como exemplo desta radicalização o jovem português de 17 anos, adepto da ideologia nazi, que terá incitado através de um grupo formado numa plataforma digital outros a realizarem vários massacres em escolas no Brasil, um dos quais resultou na morte de uma aluna e no ferimento de outros três estudantes. Três ataques acabaram por ser abortados pelas autoridades, que dizem igualmente ter evitado o homicídio de um mendigo, que o grupo planearia transmitir pela Internet. O rapaz, residente em Santa Maria da Feira e a frequentar o 9º. ano numa escola profissional, acabou por ficar em prisão preventiva.