Macron e Von der Leyen pressionam Xi no comércio e na Ucrânia

Líderes europeus querem que Pequim use a sua influência sobre o Kremlin para acabar com a guerra na Ucrânia. Bruxelas condena práticas comerciais e chinesas e diz-se preparada para se defender.

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Xi Jinping esteve reunido com Emmanuel Macron e Ursula von der Leyen em Paris Gonzalo Fuentes / REUTERS
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Na primeira visita à Europa em cinco anos, o Presidente chinês, Xi Jinping, foi recebido em Paris pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que lhe pediram apoio para pôr fim à invasão russa da Ucrânia.

A visita de Xi a Paris serviu para assinalar o 60.º aniversário das relações entre França e a República Popular da China, mas a força da actualidade imperou. O Presidente chinês saiu do Palácio do Eliseu com dois recados bastante vincados: é preciso que Pequim pressione a Rússia a abandonar a Ucrânia e as relações comerciais entre a Europa e a China devem reequilibrar-se.

Como pano de fundo para o périplo europeu de Xi – que visita ainda a Sérvia e a Hungria nos próximos dias – está a abertura de investigações às práticas comerciais das empresas chinesas, particularmente nos sectores dos veículos eléctricos e dos aparelhos electrónicos médicos, por Bruxelas. Como retaliação, Pequim abriu investigações idênticas que visam bebidas licorosas importadas da Europa, sobretudo o conhaque francês, por suspeitas de dumping.

“O futuro do nosso continente depende muito claramente da nossa capacidade para continuar a desenvolver uma relação equilibrada com a China”, afirmou Macron no lançamento do encontro tripartido esta segunda-feira. O Presidente francês reafirmou que o panorama internacional actual “necessita mais do que nunca do diálogo sino-europeu”.

A presidente da Comissão Europeia adoptou uma postura mais incisiva e condenou especificamente o “excesso de capacidade induzida pelo Estado [a produção excessiva face à procura no mercado], acesso desigual ao mercado e sobredependências”. Von der Leyen disse que não hesitará em “fazer uso de todos os instrumentos de defesa comercial” à disposição da União Europeia para corrigir aquilo a que chamou “desequilíbrios insustentáveis”.

“A Europa não deixará de tomar as decisões difíceis necessárias para proteger as suas economias e a sua segurança”, declarou.

Xi foi mais parco em palavras e disse apenas que encara as relações entre a China e a Europa como fundamentais. “Num momento em que o mundo entra num novo período de turbulência e mudança, enquanto duas forças importantes no mundo, a China e a Europa devem aderir ao diálogo e à cooperação”, afirmou.

Sobre as críticas europeias às práticas comerciais chinesas, Xi pediu diálogo, mas negou a existência de problemas de excesso de capacidade “da perspectiva da vantagem comparativa ou à luz da procura global”, de acordo com os meios de comunicação estatais chineses.

Pressão sobre Moscovo

A guerra na Ucrânia também ocupou espaço importante na agenda do encontro a três em Paris, com Macron a pedir a Xi apoio à proposta de uma “trégua olímpica” durante os Jogos Olímpicos de Paris este Verão, segundo o Le Monde. É “absolutamente decisiva” a coordenação entre França e China para lidar com as “grandes crises” actuais, na Ucrânia e no Médio Oriente, disse o Presidente francês.

A posição da China sobre a invasão da Ucrânia tem merecido um amplo debate a nível mundial. Apesar de não condenar frontalmente a invasão russa iniciada em Fevereiro de 2022, o regime chinês, embora partilhando muitos dos argumentos da Rússia em relação ao expansionismo da NATO na Europa, não tem sido um aliado directo de Moscovo no conflito e tem multiplicado os apelos à paz.

A Europa gostaria de ver mais acções da parte da China neste capítulo. Macron disse ao homólogo chinês para fazer uso da sua influência sobre o Kremlin para “contribuir para uma resolução do conflito” na Ucrânia, segundo o Palácio do Eliseu.

No mesmo sentido, Von der Leyen disse esperar que a China use “toda a sua influência sobre a Rússia” para que abandone a Ucrânia e agradeceu a Pequim “o papel importante no apaziguamento quanto às ameaças nucleares por comportamentos irresponsáveis da Rússia”.

Durante o encontro, Xi disse estar a trabalhar “vigorosamente” para que sejam estabelecidas as condições para negociações de paz na Ucrânia, segundo os media estatais chineses citados pela Reuters.

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